São Paulo, sexta-feira, 13 de agosto de 2004

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SOCIEDADE

McGreevey, de Nova Jersey, assume que traiu a mulher com outro homem e afirma que, por isso, não tem como governar

Nos EUA, governador diz ser gay e renuncia

RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK

O governador do Estado americano de Nova Jersey convocou ontem a mídia para admitir que havia traído sua mulher. Seguindo um figurino conservador, anunciou que, por isso, renunciava ao cargo.
Um político admitir publicamente a traição não é exatamente algo novo nos EUA -que o diga o ex-presidente Bill Clinton. A novidade é que o governador James McGreevey assumiu ter traído a mulher, Dina, com outro homem. "Minha verdade é que sou um gay americano", declarou ele -ao lado de Dina.
Casado pela segunda vez e pai de duas filhas, McGreevey, 47, disse que renunciava porque tanto sua sexualidade quanto o fato de ter tido um caso tornavam vulnerável sua posição no cargo de governador.
No início do ano, ele havia dito ser contrário ao casamento entre pessoas do mesmo sexo -embora favorável à união civil-, tema que divide os EUA.
Em seu pronunciamento, McGreevey pediu perdão à mulher e afirmou: "Vergonhosamente me envolvi numa relação consensual adulta com outro homem, o que viola meus laços de matrimônio. Foi um erro, foi tolo, é indesculpável".
O governador, que só deve deixar efetivamente o cargo em novembro, explicou que entendia fazer "pouca diferença" se, ocupando o cargo, era gay ou não. Mas acrescentou que acreditava que, tendo mantido em segredo seu caso e sua condição sexual, ficava sujeito a "fofocas, falsas acusações e ameaças".
"Dadas as circunstâncias envolvendo o caso e seu provável impacto sobre minha família e minha habilidade para governar, decidi que a ação correta a ser tomada era a renúncia", disse.
Ele não explicou, no entanto, que "circunstâncias" eram essas ou de que maneira poderia ser "ameaçado" se continuasse ocultando sua sexualidade.
De acordo com a Associated Press, o amante de McGreevey era um ex-funcionário do governo do Estado, que teria pedido, segundo um integrante da administração de Nova Jersey, "uma soma exorbitante de dinheiro" para não revelar o caso.
Integrantes do governo teriam tomado conhecimento do relacionamento e das ameaças anteontem à noite.
A sexualidade do governador já era motivo de especulações -e piadas grosseiras em programas de rádio locais.
Ele contou aos repórteres que vivia um conflito sobre sua opção sexual desde a adolescência.
"Ao longo da minha vida, eu me questionei sobre minha própria identidade, sobre quem eu sou", declarou, fazendo referência a sua criação católica. "Quando criança, freqüentemente me sentia inseguro sobre mim mesmo; na verdade, confuso."
"Desde meus primeiros dias na escola até hoje, eu reconhecia ter um certo sentimento, uma certa impressão que me distinguia dos outros", disse. McGreevey elogiou sua atual e sua ex-mulher, afirmando que ambas lhe dedicaram força, amor e respeito.
O porta-voz do governador não respondeu a perguntas sobre o futuro do casamento de McGreevey. "Meus pensamentos vão para Jim McGreevey e sua família durante esse difícil momento pessoal", declarou.
"Jim McGreevey é uma boa pessoa e um bom amigo, e os acontecimentos de hoje me entristecem."
O governador assumiu o cargo em janeiro de 2002 e será substituído pelo presidente do Senado estadual, o também democrata Richard Codey, que deve governar até o início de 2006.


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