São Paulo, segunda-feira, 13 de agosto de 2007

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Estrada afasta palestinos de Jerusalém

Rodovia em construção por Israel, com pistas separadas para israelenses e palestinos, dificulta acesso de árabes à cidade

Segundo críticos, via servirá para consolidar controle de áreas na Cisjordânia, a leste de Jerusalém; Israel diz que visa segurança de cidadãos

Rina Castelnuevo/The New York Times
Homem caminha na estrada que Israel constrói em torno de Jerusalém Oriental; via tem dois pares de pistas, separados por muro

STEVEN ERLANGER
DO NEW YORK TIMES, EM JERUSALÉM

Israel está construindo uma estrada através da Cisjordânia, ao leste de Jerusalém, que permitirá que tanto israelenses quanto palestinos viagem por ela -separadamente.
Há dois pares de pistas, um para cada população, separados por um muro de concreto que imita as pedras de Jerusalém, em um esforço de embelezamento que indica que a estrada deve ser permanente. O lado israelense conta com muitas saídas; o palestino, com poucas.
O objetivo da estrada, segundo os que a planejaram no governo do ex-premiê Ariel Sharon [2001-2006], é permitir a Israel a construção de mais assentamentos ao redor de Jerusalém Oriental, separando a cidade da Cisjordânia, mas permitindo aos palestinos viajarem entre o norte e o sul através de terras controladas pelos israelenses.
"Os americanos pediram a Sharon um Estado palestino contíguo", disse Shaul Arieli, um coronel da reserva especialista em mapas que participou das negociações de 2000 em Camp David. "Esta estrada foi a resposta de Sharon -construir uma estrada para os palestinos entre Ramallah e Belém, mas não para Jerusalém. Essa foi a forma de conectar a Cisjordânia mantendo Jerusalém unificada e sem dar aos palestinos nenhuma permissão em branco para entrar em Jerusalém Oriental."
A maioria dos palestinos, ao contrário dos colonos judeus, não poderá sair da estrada em áreas cercadas pela barreira ou entrar em Jerusalém, mesmo na parte oriental, que Israel tomou em 1967 [na Guerra dos Seis Dias].
A estrada consegue isso mantendo o tráfego palestino contínuo por meio de túneis e pontes, enquanto o tráfego israelense terá cruzamentos que permitem o uso de estradas de acesso. Palestinos com identidade israelense ou permissões especiais para entrar em Jerusalém poderão usar as pistas para israelenses.

Assentamentos
O governo do premiê Ehud Olmert recentemente fez gestos conciliatórios em direção aos palestinos e afirma querer fazer o possível para facilitar a criação de um Estado palestino. Mas Olmert, assim como Sharon, disse que Israel pretende manter as terras a leste de Jerusalém.
Para Daniel Seidemann, advogado do grupo Ir Amim, que trabalha pela cooperação israelense-palestina em Jerusalém, a estrada sugere um mapa alarmante do futuro -no qual Israel fica com quase toda Jerusalém Oriental e o anel de assentamentos que a cerca, criando um cordão de isolamento entre Jerusalém Oriental, predominantemente árabe, e o resto da Cisjordânia, que se tornará parte de um futuro Estado palestino. No acordo final, espera-se que Israel ofereça aos palestinos terras em outro local como forma de compensação.
A estrada permitirá a colonos judeus que vivem no norte, perto de Ramallah, chegar rapidamente a Jerusalém, protegidos dos palestinos que os cercam. E garantirá que o assentamento de Maale Adumin -um subúrbio de quase 32 mil pessoas a leste de Jerusalém, onde a maioria de seus habitantes trabalha- permaneça sob controle israelense, assim como a atual área vazia conhecida como E1, entre Maale Adumin e Jerusalém, que Israel também pretende manter.
Para os palestinos, a estrada irá conectar o norte e o sul da Cisjordânia. Em um futuro que talvez tenha menos postos de controle, eles poderiam viajar de Ramallah, ao norte de Jerusalém, a Belém, ao sul da cidade -mas sem terem a permissão de entrar em Jerusalém ou em Maale Adumin.
"Na minha avaliação, essa estrada é uma iniciativa para criar fronteiras, para mudar o status final", disse Seidemann. "É para permitir que Maale Adumin e a área E1 se integrem a Jerusalém, ao mesmo tempo em que dizem "veja, estamos tratando os palestinos bem -há continuidade territorial"."
"A estrada palestina tem 16 metros de largura. A idéia israelense de um território palestino contínuo tem 16 metros de largura", acrescentou ele.

Plano de Sharon
Khalil Tufakji, proeminente geógrafo palestino, diz que a estrada "é parte do plano de Sharon: dois Estados em um, de modo que israelenses e palestinos têm suas próprias estradas". Os palestinos, afirma Tufakji, "não terão conexão com os israelenses, enquanto os israelenses viajarão por terras palestinas sem ver um árabe". No final, completa, "não haverá Estado palestino, apesar de os israelenses falarem de um". No lugar, "haverá um Estado de colonos e uma área palestina, dividida em três setores, cortados por assentamentos israelenses e interligados apenas por estradas estreitas".
Questionado, David Baker, porta-voz do governo israelense, disse: "Os esquemas de segurança nessas estradas foram criados para proteger os cidadãos de Israel. E não estão ligados a qualquer outra questão".


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