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comentário
Tribos vencem na era da globalização
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
A guerra na Geórgia/Ossétia do Sul é o mais acabado exemplo de que, mesmo no auge da globalização, conceitos tribais superam quaisquer outras
considerações e provocam, nas grandes potências, a cínica adoção do velhíssimo ditado popular
"faça o que eu digo, não faça o que eu faço".
Afinal, como perguntava o jornalista Thierry Maliniak em "El País", da Espanha: "Se se podem modificar as fronteiras em bases étnicas nos Bálcãs, por
que não no Cáucaso?".
Refere-se, como é óbvio,
ao fato de que a União Européia e os EUA apoiaram
e patrocinaram a independência de Kosovo, nos Bálcãs, de maioria albanesa,
contrariando Sérvia e Rússia. Se houvesse lógica,
EUA e UE deveriam
apoiar a independência da
Ossétia do Sul, de maioria
russa, supostamente sufocada pela Geórgia.
Aliás, se a Rússia usasse
a lógica, deveria aceitar a
independência de Kosovo,
pelo mesmo motivo que
incentiva a independência
da Ossétia do Sul.
Quando a lógica contradiz os jogos de influência e
de poder, perde a lógica.
Mas os jogos de poder já
não são como eram. A Rússia engoliu a independência kosovar, o que não
ocorreria nos tempos da
União Soviética, em sua
área de influência.
Agora, o presidente
George W. Bush e seu vice,
Dick Cheney, podem ranger os dentes, ameaçar e
gritar, sem que a Rússia ficasse minimamente comovida. Ao contrário, esmagou rapidamente um
movimento, provavelmente mal calculado, do
governo da Geórgia, o
mais recente aliado do
Ocidente nas vizinhanças
da Rússia.
Uma coisa é aceitar "revoluções coloridas", primeiro na Ucrânia e depois
na própria Geórgia, que
trocaram governos pró-Rússia por governos pró-Ocidente. Outra seria aceitar a humilhação de não
defender a própria tribo
(os russos da Ossétia do
Sul). Há quem ache que a
ofensiva na região é uma
volta às políticas da velha
URSS. Pode ser, mas é
mais provável que se trate
da última fronteira traçada pela nova Rússia, claramente tribal.
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