|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Uruguai abre primeiro processo ligado à ditadura
Oito ex-militares e ex-policiais são acusados; coronel se mata ao receber polícia
Réus devem ser condenados a 18 anos de prisão pelo desaparecimento de dois militantes em Buenos Aires sob a Operação Condor
BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES
Pela primeira vez desde a redemocratização, há 22 anos, foi
aberto no Uruguai um processo
contra militares por delitos
contra os direitos humanos
praticados durante o período
da ditadura militar (1973-84).
Seis ex-militares e dois ex-policiais são acusados do desaparecimento dos militantes
Adalberto Soba e Alberto Mechoso, ocorrido em Buenos Aires em 1976, em ação conjunta
com militares argentinos na
chamada Operação Condor.
A Justiça argentina já havia
requerido a extradição dos oito
réus, o que, com o julgamento
da causa no Uruguai, não deve
acontecer. Eles devem ser condenados a 18 anos de prisão.
O nono acusado, o ex-coronel
José Antonio Buratti, 74, um
dos principais agentes da repressão no Uruguai e o único
dos acusados que ainda estava
em liberdade, suicidou-se em
Montevidéu na noite do último
domingo quando a polícia foi à
sua casa para prendê-lo.
"Esperem-me aqui [na porta]
que vou contatar meu advogado e volto em seguida", disse o
coronel, segundo relato dos policiais à imprensa uruguaia. Buratti, porém, foi até a garagem
de sua casa, tomou o revólver
que guardava em seu carro e
deu um tiro na cabeça. Ainda
foi levado com vida ao hospital,
mas morreu cerca de uma hora
e meia depois.
O coronel era apontado também como o responsável pelo
desaparecimento e a morte da
nora do poeta argentino Juan
Gelman, que estava grávida
quando foi seqüestrada com o
marido em 1976 em Buenos Aires. O filho do poeta foi achado
morto na capital argentina naquele ano, mas sua mulher foi
levada ao Uruguai, onde foi
presa e, após dar à luz, morta.
Gelman reencontrou em
2000 a neta que nasceu na prisão. Buratti era, provavelmente, o único que saberia indicar o
lugar em que foi enterrado o
corpo da nora do poeta.
Anistia
Em 1986, a Lei da Caducidade da Pretensão Punitiva, durante o primeiro governo do
presidente Julio María Sanguinetti, impediu a punição de militares e policiais por delitos
contra os direitos humanos durante a ditadura no Uruguai. A
lei foi submetida a um plebiscito e mantida em 1989 -segundo historiadores uruguaios, como havia pouco tempo do término do regime, muita gente
deu sua aprovação à norma por
temer que, sem ela, os militares
quisessem retomar o poder.
O governo de Tabaré Vázquez, que assumiu a Presidência em março de 2005, deu início a investigações sobre os desaparecimentos com mais êxito
do que governos anteriores. Foi
mudada também a interpretação do alcance da Lei da Caducidade, para punir crimes ocorridos fora do país.
Argentina
Na Argentina, o uso político
da luta pelos direitos humanos
se tornou uma marca do governo do presidente Néstor Kirchner, que afirma ser essa sua
principal bandeira. Ao contrário do que ocorre no Uruguai, o
presidente argentino revogou
as "leis do perdão" criadas durante o governo do presidente
Raúl Alfonsín e pediu à Justiça
a nulidade dos indultos concedidos pelo presidente Carlos
Menem em 1989 e 1990 -o que
foi feito em alguns casos em
que ainda estão pendentes recursos judiciais.
Com isso, são julgados desde
ex-policiais e ex-torturadores a
pessoas em cargos de comando,
como o ex-presidente Jorge
Rafael Videla, que encabeçou o
golpe militar em 1976.
Kirchner, entretanto, ainda
não divulgou os arquivos de inteligência da ditadura. Segundo
a imprensa local, o presidente
usa as informações para pressionar opositores. No fim de semana, os jornais disseram que
um deputado que apóia Roberto Lavagna, virtual adversário
de Kirchner na eleição presidencial de 2007, atuou como
agente da repressão. A informação teria saído do governo.
Texto Anterior: Turquia: Atentado em região curda mata 5 crianças Próximo Texto: Chile: Governo investiga grupo anarquista que atacou palácio Índice
|