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Autonomistas tomam posto na fronteira com o Brasil
"Agora nós só respondemos a Santa Cruz", dizem
RODRIGO VARGAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ARROYO
CONCEPCIÓN
Manifestantes ligados ao Comitê Cívico de Arroyo Concepción, na Bolívia, bloquearam na
madrugada de ontem o acesso à
fronteira com o Brasil em Corumbá (540 km de Campo
Grande). A reportagem da Folha viu que caminhões de areia
foram despejados na ponte que
dá acesso ao território boliviano e às estruturas oficiais de
controle alfandegário, invadidas desde a segunda-feira.
No fim da tarde de ontem,
manifestantes do comitê de
Puerto Suarez, vizinho a Arroyo Concepción, invadiram uma
distribuidora da estatal YPFB.
Os cerca de 50 soldados que
protegiam a unidade se retiraram sem resistência.
Segundo o presidente do comitê de Arroyo, Carlos Vargas,
o bloqueio na aduana é um "ato
de solidariedade" às famílias e
amigos dos mortos e feridos registrados no departamento de
Pando, norte do país, durante
confronto entre manifestantes
contrários e favoráveis ao presidente Evo Morales.
A tomada da aduana e do posto de controle de imigração são
"atos definitivos", diz Vargas.
"A partir de agora, o controle é
nosso e só respondemos a Santa Cruz [de la Sierra, capital do
departamento de Santa Cruz,
principal bastião da oposição a
Morales]. Aguardamos, agora, a
nomeação de novos funcionários que ficarão encarregados
da fronteira."
O bloqueio atingiu, em sua
maioria, bolivianos que trabalham no lado brasileiro e que,
para voltar para casa, tiveram
de deixar seus carros e seguir a
pé. Quem não mora nas proximidades teve de se hospedar
em hotéis e pousadas de Corumbá -ontem, era difícil encontrar vagas.
A manifestação também
frustrou os planos de turistas
que desembarcaram na cidade
e esperavam fazer compras em
Puerto Suarez. A notícia do bloqueio era dada pelos taxistas,
ainda no aeroporto.
Evo cumpre
Na sede da aduana, no final
da tarde de ontem, a Folha encontrou cerca de 50 pessoas
em grupos dispersos -o comitê diz que são 250 manifestantes, revezando-se em turnos
diante do bloqueio. Nas paredes, cartazes atacavam Morales. "Macaco Chávez manda,
Evo cumpre com seu Exército",
dizia um.
Os manifestantes ameaçaram invadir e tomar controle
sobre a válvula de um posto de
medição do gasoduto Bolívia-Brasil, localizado a cerca de 15
quilômetros da fronteira. Por
meio de uma estrada vicinal
que serpenteia em meio aos
territórios boliviano e brasileiro, a Folha foi até o local ontem
e identificou a presença de soldados do Exército.
Vargas nega que o objetivo
dos protestos seja um golpe
contra Morales. Segundo ele, a
busca é por "autonomia". "Não
somos golpistas. Queremos
que Evo nos chame para o diálogo e aceite pacificamente a
nossa autonomia", diz.
O presidente do comitê defende que o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva faça um
"pronunciamento" em busca
do diálogo na Bolívia.
"Pedimos que Lula se pronuncie a favor da pacificação
do país e que chame Evo ao diálogo", diz ele que, no entanto,
se diz "preparado para tudo".
"Caso seja necessário, estaremos prontos para enfrentá-los", afirma.
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