São Paulo, sábado, 13 de setembro de 2008

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Autonomistas tomam posto na fronteira com o Brasil

"Agora nós só respondemos a Santa Cruz", dizem

RODRIGO VARGAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ARROYO CONCEPCIÓN

Manifestantes ligados ao Comitê Cívico de Arroyo Concepción, na Bolívia, bloquearam na madrugada de ontem o acesso à fronteira com o Brasil em Corumbá (540 km de Campo Grande). A reportagem da Folha viu que caminhões de areia foram despejados na ponte que dá acesso ao território boliviano e às estruturas oficiais de controle alfandegário, invadidas desde a segunda-feira.
No fim da tarde de ontem, manifestantes do comitê de Puerto Suarez, vizinho a Arroyo Concepción, invadiram uma distribuidora da estatal YPFB. Os cerca de 50 soldados que protegiam a unidade se retiraram sem resistência.
Segundo o presidente do comitê de Arroyo, Carlos Vargas, o bloqueio na aduana é um "ato de solidariedade" às famílias e amigos dos mortos e feridos registrados no departamento de Pando, norte do país, durante confronto entre manifestantes contrários e favoráveis ao presidente Evo Morales.
A tomada da aduana e do posto de controle de imigração são "atos definitivos", diz Vargas. "A partir de agora, o controle é nosso e só respondemos a Santa Cruz [de la Sierra, capital do departamento de Santa Cruz, principal bastião da oposição a Morales]. Aguardamos, agora, a nomeação de novos funcionários que ficarão encarregados da fronteira."
O bloqueio atingiu, em sua maioria, bolivianos que trabalham no lado brasileiro e que, para voltar para casa, tiveram de deixar seus carros e seguir a pé. Quem não mora nas proximidades teve de se hospedar em hotéis e pousadas de Corumbá -ontem, era difícil encontrar vagas.
A manifestação também frustrou os planos de turistas que desembarcaram na cidade e esperavam fazer compras em Puerto Suarez. A notícia do bloqueio era dada pelos taxistas, ainda no aeroporto.

Evo cumpre
Na sede da aduana, no final da tarde de ontem, a Folha encontrou cerca de 50 pessoas em grupos dispersos -o comitê diz que são 250 manifestantes, revezando-se em turnos diante do bloqueio. Nas paredes, cartazes atacavam Morales. "Macaco Chávez manda, Evo cumpre com seu Exército", dizia um.
Os manifestantes ameaçaram invadir e tomar controle sobre a válvula de um posto de medição do gasoduto Bolívia-Brasil, localizado a cerca de 15 quilômetros da fronteira. Por meio de uma estrada vicinal que serpenteia em meio aos territórios boliviano e brasileiro, a Folha foi até o local ontem e identificou a presença de soldados do Exército.
Vargas nega que o objetivo dos protestos seja um golpe contra Morales. Segundo ele, a busca é por "autonomia". "Não somos golpistas. Queremos que Evo nos chame para o diálogo e aceite pacificamente a nossa autonomia", diz.
O presidente do comitê defende que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva faça um "pronunciamento" em busca do diálogo na Bolívia.
"Pedimos que Lula se pronuncie a favor da pacificação do país e que chame Evo ao diálogo", diz ele que, no entanto, se diz "preparado para tudo". "Caso seja necessário, estaremos prontos para enfrentá-los", afirma.


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