São Paulo, domingo, 13 de setembro de 2009

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Cobrança de aluguel leva a despejo de palestinos em Jerusalém

Construção de assentamentos também provoca expulsão; árabes recorrem à Justiça

DO "FINANCIAL TIMES"

Desde o início de agosto, quando duas famílias do bairro Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental, foram despejadas à força de suas casas, Muhammad Sabagh não tem conseguido dormir muito. O encanador aposentado de 61 anos teme que ele, seus cinco irmãos e mulheres e filhos deles possam ir para a rua em pouco tempo.
A família Sabagh pode se tornar a próxima vítima da batalha que já dura quase quatro décadas, travada por dois grupos judaicos, para reaver imóveis em Sheikh Jarrah, distrito árabe ao norte da Cidade Velha de Jerusalém, que dizem que lhes pertenciam antes de 1948.
Despejos de casas de palestinos erguidas sem alvarás e a construção de casas novas para colonos em Jerusalém Oriental vêm causando a maior divisão sobre os assentamentos entre Israel e os EUA em pelo menos uma década. O aliado mais incansável de Israel tem exortado o país a congelar a construção de casas para judeus, para ajudar na retomada das conversas de paz com palestinos.
Esperava-se que George Mitchell, o enviado especial dos EUA ao Oriente Médio, chegasse a Israel ainda ontem para concluir um acordo de suspensão temporária da construção.
Nesta semana, porém, Israel anunciou novos 455 apartamentos na Cisjordânia ocupada e quer a construção de 486 casas em Jerusalém Oriental.
Israel anexou Jerusalém Oriental após a Guerra dos Seis Dias (1967), iniciativa que nunca chegou a ser internacionalmente reconhecida. Sheikh Jarrah, onde vivem 2.700 palestinos, virou a nova linha do front na disputa por Jerusalém.
Com mandado judicial, policiais portando fuzis retiraram de suas casas os 53 membros das famílias Hanoun e Ghawi, incluindo 20 crianças. As casas foram ocupadas por colonos, que içaram bandeiras israelenses nos telhados. Sabagh, que no próximo mês irá a audiência judicial sobre o despejo, comentou: "Os colonos são um grupo poderoso. É uma questão política. Não querem só minha casa -querem toda a área".
As famílias descendem de refugiados palestinos que perderam as casas na "guerra de independência" de Israel (1948).
Com títulos de propriedade do período otomano que advogados das famílias palestinas dizem ter sido falsificados, dois grupos judaicos em 1972 reivindicaram ser proprietários da terra e passaram a exigir o pagamento de aluguel. A maioria delas se recusou a pagar e diz não ter sido informada dos detalhes do acordo que serve como base legal da tentativa de despejá-las.


Tradução de CLARA ALLAIN


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