São Paulo, terça-feira, 13 de setembro de 2011

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Dez anos após queda do Taleban, cinemas definham no Afeganistão

DO ENVIADO A CABUL

Quando o Taleban caiu em Cabul, em 2001, as filas eram imensas nos recém-reabertos cinemas da cidade.
Desde 1998, o grupo havia fechado as salas de exibição sob preceitos religiosos obscuros, e havia genuína empolgação -numa sessão acompanhada pela Folha no cinema Bokhtar, escadas laterais estavam apinhadas de jovens.
Dez anos depois, poucos poderiam imaginar a cena num dos quatro cinemas ainda abertos na capital afegã.
O Bokhtar não é um deles. A sessão das 13h mal começara no Cinema Park, que apesar do nome tem apenas uma sala de 550 lugares.
Havia cerca de 15 homens para assistir "Mohra", um dos indefectíveis filmes de Bollywood que infestam todo o sul da Ásia. Dancinhas acompanhando o mais insosso diálogo de delegacia, galãs com aspecto canastrão e mocinhas apaixonadas.
"Nós só estamos abertos porque o governo paga as contas", diz o gerente, Sayed Shah, 34. "Quando reabrimos em 2001, as salas ficavam cheias. Até há uns três anos, estava tudo bem", conta.
O ingresso custa 30 afeganis (R$ 1), e as instalações são decrépitas, cheirando a mofo e a urina. Som e imagem são de qualidade péssima, apesar de os dois projetores chineses em operação serem melhores que os antigos modelos soviéticos.
Em outra sala, estava sendo exibido o "King Kong" (Peter Jackson, 2005).
O governo banca três sessões diárias enquanto houver um mínimo de sete espectadores na sala. Por que não 10, ou 20? "Deve ser alguma superstição", brinca Shah.
A questão, diz ele, nunca foi a violência. "A culpa é da TV, que vai matar o cinema", diz. São 25 canais de satélite no país, mas se há algum vilão a apontar, é o DVD pirata.
No mercado de Shor, o principal da cidade, o mesmo R$ 1 compra dois discos com as últimas novidades do subcontinente.
Hollywood anda em baixa, e o único destaque mais recente era o quarto episódio de "Piratas do Caribe". (IG)



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