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AMÉRICA DO SUL
Cidade de El Alto é militarizada após manifestações; Igreja Católica qualifica ação do Exército como "massacre"
Protestos contra governo boliviano matam 8
DA REDAÇÃO
Pelo menos oito pessoas morreram e 50 ficaram feridas em choques envolvendo manifestantes e
o Exército ontem em El Alto (Bolívia). A cidade de 750 mil habitantes, nos arredores de La Paz,
foi colocada sob controle militar.
A Igreja Católica e organizações
de direitos humanos qualificaram
a ação do Exército como massacre
e exigiram a retirada das tropas
"Já não podemos falar em enfrentamentos, mas em massacre", diz
carta dirigida ao presidente Gonzalo Sánchez de Lozada e assinada
por representantes da Igreja Católica, do Sindicato dos Trabalhadores na Imprensa e da Assembléia Permanente de Direitos Humanos da Bolívia.
A violência que eclodiu no fim
de semana -elevando para 19 o
total de mortos ao longo de um
mês de manifestações- se deve a
protestos contra o plano do governo de exportar gás em estado
bruto para os EUA e o México. E
faz parte também da onda de manifestações pedindo a renúncia do
impopular governo de Sánchez de
Lozada (centro-direita).
Ao anunciar a militarização de
El Alto, o porta-voz da Presidência Mauricio Antezana afirmou
que as manifestações têm como
objetivo concretizar um golpe para derrubar Sánchez de Lozada,
não apenas manifestar uma posição contrária ao governo.
Segundo o porta-voz, a "militarização da cidade tem a finalidade
de defender os cidadãos e as propriedades públicas e privadas".
Antezana acusou ainda o líder cocaleiro -plantador de coca- e
parlamentar Evo Morales de ser o
comandante do golpe. Morales
negou a acusação do porta-voz.
Candidato à Presidência da Bolívia em junho de 2002, Morales
foi para o segundo turno das eleições com um discurso antiglobalização. O líder cocaleiro boliviano acabou perdendo no segundo
turno das eleições, realizadas de
forma indireta no Congresso, mas
conseguiu formar a segunda
maior bancada parlamentar.
Sánchez de Lozada, que assumiu a Presidência em agosto do
ano passado, foi o mais votado no
primeiro turno das eleições. Porém não teve a maioria dos votos
e, desde a posse, tem uma taxa de
popularidade baixa.
Sindicatos e líderes indígenas
do governo criticam Sánchez de
Lozada por ele não industrializar
o gás na Bolívia. Outra crítica é a
possível decisão do governo de
exportar o gás por meio de um
porto no Chile. A oposição prefere um porto peruano.
Bolivianos e chilenos disputam
a costa norte do Chile. O território
era a única saída para o mar que a
Bolívia possuía e foi perdido para
Santiago na Guerra do Pacífico,
em 1879. O sentimento contra o
Chile ainda é forte no país.
O governo boliviano estima que
as exportações possam dar um lucro de US$ 1,5 bilhão para a Bolívia. Para o governo, os protestos
são injustificáveis, já que os detalhes do projeto de exportação de
gás ainda não foram divulgados.
Desde o início do governo, Morales vem liderando manifestações contra o presidente. E a questão do gás sempre foi considerada
uma das mais delicadas.
Sánchez de Lozada tem um plano acertado com os EUA de erradicar as plantações de coca no
país. Grande parte da população
indígena boliviana, no entanto, é
contra a medida por ser extremamente dependente economicamente do plantio da coca.
Plantadores de coca devem aderir às manifestações contra o governo a partir desta semana.
Militarização
Milhares de soldados foram enviados ontem para El Alto. Tanques e outros veículos militares
foram utilizados para garantir a
segurança após as manifestações.
Uma relativa calma foi estabelecida, e as estradas foram desbloqueadas. A principal ligação de La
Paz com o restante do país passa
por El Alto, a 15 km de distância.
Testemunhas disseram que as
vítimas foram mortas por soldados durante o início da militarização da cidade. O Exército não comentou as mortes. Segundo o
porta-voz do governo, poderá ser
estabelecido toque de recolher a
qualquer hora em El Alto. Antezana acrescentou que o governo está
aberto ao diálogo com todos os
setores para discutir os planos de
exportação de gás.
Os choques de ontem são considerados os mais graves no país
desde fevereiro. Na ocasião, 32
pessoas morreram em manifestações contra um plano de cortes de
gastos para cumprir metas acordadas com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
Com agências internacionais
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