UOL


São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 2003

Texto Anterior | Índice

AMÉRICA DO SUL

Cidade de El Alto é militarizada após manifestações; Igreja Católica qualifica ação do Exército como "massacre"

Protestos contra governo boliviano matam 8

DA REDAÇÃO

Pelo menos oito pessoas morreram e 50 ficaram feridas em choques envolvendo manifestantes e o Exército ontem em El Alto (Bolívia). A cidade de 750 mil habitantes, nos arredores de La Paz, foi colocada sob controle militar.
A Igreja Católica e organizações de direitos humanos qualificaram a ação do Exército como massacre e exigiram a retirada das tropas "Já não podemos falar em enfrentamentos, mas em massacre", diz carta dirigida ao presidente Gonzalo Sánchez de Lozada e assinada por representantes da Igreja Católica, do Sindicato dos Trabalhadores na Imprensa e da Assembléia Permanente de Direitos Humanos da Bolívia.
A violência que eclodiu no fim de semana -elevando para 19 o total de mortos ao longo de um mês de manifestações- se deve a protestos contra o plano do governo de exportar gás em estado bruto para os EUA e o México. E faz parte também da onda de manifestações pedindo a renúncia do impopular governo de Sánchez de Lozada (centro-direita).
Ao anunciar a militarização de El Alto, o porta-voz da Presidência Mauricio Antezana afirmou que as manifestações têm como objetivo concretizar um golpe para derrubar Sánchez de Lozada, não apenas manifestar uma posição contrária ao governo.
Segundo o porta-voz, a "militarização da cidade tem a finalidade de defender os cidadãos e as propriedades públicas e privadas". Antezana acusou ainda o líder cocaleiro -plantador de coca- e parlamentar Evo Morales de ser o comandante do golpe. Morales negou a acusação do porta-voz.
Candidato à Presidência da Bolívia em junho de 2002, Morales foi para o segundo turno das eleições com um discurso antiglobalização. O líder cocaleiro boliviano acabou perdendo no segundo turno das eleições, realizadas de forma indireta no Congresso, mas conseguiu formar a segunda maior bancada parlamentar.
Sánchez de Lozada, que assumiu a Presidência em agosto do ano passado, foi o mais votado no primeiro turno das eleições. Porém não teve a maioria dos votos e, desde a posse, tem uma taxa de popularidade baixa.
Sindicatos e líderes indígenas do governo criticam Sánchez de Lozada por ele não industrializar o gás na Bolívia. Outra crítica é a possível decisão do governo de exportar o gás por meio de um porto no Chile. A oposição prefere um porto peruano.
Bolivianos e chilenos disputam a costa norte do Chile. O território era a única saída para o mar que a Bolívia possuía e foi perdido para Santiago na Guerra do Pacífico, em 1879. O sentimento contra o Chile ainda é forte no país.
O governo boliviano estima que as exportações possam dar um lucro de US$ 1,5 bilhão para a Bolívia. Para o governo, os protestos são injustificáveis, já que os detalhes do projeto de exportação de gás ainda não foram divulgados.
Desde o início do governo, Morales vem liderando manifestações contra o presidente. E a questão do gás sempre foi considerada uma das mais delicadas.
Sánchez de Lozada tem um plano acertado com os EUA de erradicar as plantações de coca no país. Grande parte da população indígena boliviana, no entanto, é contra a medida por ser extremamente dependente economicamente do plantio da coca.
Plantadores de coca devem aderir às manifestações contra o governo a partir desta semana.

Militarização
Milhares de soldados foram enviados ontem para El Alto. Tanques e outros veículos militares foram utilizados para garantir a segurança após as manifestações.
Uma relativa calma foi estabelecida, e as estradas foram desbloqueadas. A principal ligação de La Paz com o restante do país passa por El Alto, a 15 km de distância.
Testemunhas disseram que as vítimas foram mortas por soldados durante o início da militarização da cidade. O Exército não comentou as mortes. Segundo o porta-voz do governo, poderá ser estabelecido toque de recolher a qualquer hora em El Alto. Antezana acrescentou que o governo está aberto ao diálogo com todos os setores para discutir os planos de exportação de gás.
Os choques de ontem são considerados os mais graves no país desde fevereiro. Na ocasião, 32 pessoas morreram em manifestações contra um plano de cortes de gastos para cumprir metas acordadas com o FMI (Fundo Monetário Internacional).


Com agências internacionais


Texto Anterior: Afeganistão: Ataque do Taleban mata oito policiais
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.