São Paulo, quarta-feira, 13 de outubro de 2004

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DIPLOMACIA

Meta é evitar a bomba

EUA incitam europeus a negociarem com o Irã

STEVEN WEISMAN
DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON

O governo americano está negociando com aliados europeus um pacote de incentivos ao Irã, entre eles o fornecimento de combustível nuclear, em troca da suspensão do processo de enriquecimento de urânio que Washington acusa de ter fins militares.
A oferta, articulada com Reino Unido, França e Alemanha, poderá ser feita até o final de novembro, logo após as eleições presidenciais nos Estados Unidos.
É possível que os EUA não ofereçam diretamente esses incentivos. Mas o fato de estimular seus três aliados a fazê-lo demonstra uma inflexão na administração Bush, que até agora tem ameaçado punir o Irã sem oferecer nenhuma contrapartida.
A primeira reação iraniana, ontem, foi negativa. "Eles cometem um erro se acreditam que possamos abrir mão do processo de enriquecimento de urânio", disse o chanceler iraniano, Kamal Kharrazi.
Assessores de Bush disseram na segunda-feira que a Casa Branca estava tomando um cuidado extremo com a iniciativa, primeiro porque ela representava uma mudança na política dos EUA com relação à república islâmica, e em seguida porque John Kerry fez do Irã um assunto de campanha, ao criticar o atual governo.
Por pressão de Washington, a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) deu aos iranianos o prazo até novembro para que suas atividades nucleares fossem integralmente abertas à inspeção. Caso isso não ocorra, os EUA acionarão o Conselho de Segurança da ONU para a votação de sanções.
Segundo um diplomata americano, os europeus estão abrindo na direção do Irã uma fresta de negociações. Se Teerã não a utilizar, a hipótese de sanções será abertamente estudada.
Os estímulos em estudo também prevêem a suspensão do embargo comercial para que o Irã importe peças de reposição para suas aeronaves civis.
Os europeus estudam há semanas a possibilidade de propor ao Irã algum tipo de acordo. Um diplomata europeu disse que, na pior das hipóteses, os EUA não seriam pegos de surpresa e que, com ou sem a reeleição de Bush, Washington deveria definir com clareza sua posição.
As negociações, sigilosas, vazaram de governos europeus, que temem isolar o Irã e acreditam que apenas negociações mudariam o comportamento do país.
Com relação ao combustível nuclear, o Irã seria autorizado a comprá-lo da Rússia para o reator civil de Bushehr, e a Rússia compraria de volta os bastões de combustível já utilizados.


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