São Paulo, sexta-feira, 13 de outubro de 2006

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Apatia toma final da corrida presidencial no Equador

Martin Mejia/Associated Press
Cartazes da campanha equatoriana em Guayaquil: sem apelo


Após década de instabilidade, país tem mais indecisos do que eleitores de um candidato

Pesquisa aponta descrença na classe política e mostra que quase 70% dos eleitores acham que situação estará igual ou piorará em 2007

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A QUITO

Apesar da extensa oferta de 13 candidatos a presidente à esquerda e à direita e de a campanha no Equador estar na última semana, nenhum deles superou até agora o número de indecisos, mesmo a poucos dias da eleição, segundo o instituto Informe Confidencial. A pesquisa aponta o desânimo com a classe política e os dez anos de instabilidade como principais motivos pelo desinteresse na votação deste domingo.
"É a primeira vez, em 25 anos de pesquisas feitas por nós, que os eleitores equatorianos apontam a classe política como o principal problema do Equador", disse à Folha Santiago Nieto, diretor do Informe Confidencial, que tem realizado pesquisas eleitorais por encomenda do principal jornal diário do país, "El Comercio".
"Antes, apareciam primeiro os problemas, como desemprego, e depois as causas, agora aparecem as causas e depois os problemas. Isso é uma mudança de atitude dos equatorianos", completa.
Santiago Nieto cita outros números que demonstram o que ele chama de "eleitor deprimido": 38% acreditam que o país estará pior no ano que vem, já com um novo governo, e outros 31% afirmam que tudo estará igual.
Não faltam motivos para o desânimo do eleitorado equatoriano. Há dez anos, um presidente eleito não termina o seu mandato -foram três os afastados do cargo desde 1997, sempre com manifestações de rua e intervenção militar.
A economia, por sua vez, vem crescendo a uma taxa anual média de 4%, mas é sobretudo devido à alta do petróleo, setor que gera poucos empregos. A paralisia nas outras atividades levou dezenas de milhares de equatorianos a deixar o país na última década, e a remessa de dinheiro já é a segunda maior fonte de divisas, atrás apenas do petróleo.
Segundo o levantamento, realizado no domingo com pouco mais de 6.000 eleitores, 32% ainda não sabiam em quem votar a uma semana do pleito. "Esses irão às urnas porque o voto é obrigatório, sem idéia de quem são os candidatos e sem interesse na política."

Correa lidera
Em "empate técnico" com os indecisos -a margem de erro é de dois pontos percentuais-, aparecia o candidato de esquerda Rafael Correa, 43, que faz campanha com forte discurso contra a "classe política tradicional", antiamericano e de aproximação com o presidente venezuelano, Hugo Chávez, iniciada no ano passado, quando foi ministro da Economia por três meses. Ontem, em discurso, disse que sua candidatura é "bolivariana".
"A campanha de Correa é de um forte discurso "anti-establishment", mas, no caso de um segundo turno, terá de atrair outros setores políticos que não vão se associar a ele", analisa Santiago Nieto.
Para vencer ainda no primeiro turno, é necessário obter ao menos 40% dos votos válidos e ainda ter uma diferença mínima de dez pontos percentuais em relação ao segundo colocado. Caso seja necessário, um segundo turno ocorrerá no final de novembro.
Economista formado nos EUA, Correa, um novato campanha eleitoral e líder do recém-fundado partido Alianza Pais, adota um estilo populista. Seu símbolo é um cinto -trocadilho com o significado do seu sobrenome em espanhol-, e o slogan, "dá-lhe, Correa".
Em segundo lugar, há um empate entre o milionário Alvaro Noboa, 56, de direita, com 23%, e León Roldós, 64, de centro-esquerda, com 19%, ambos disputando pela terceira vez.
Segundo as pesquisas eleitorais, Noboa, cuja fortuna vem da exportação de bananas, é o candidato que mais tem crescido na reta final, quando intensificou seus gastos, incluindo distribuição de computadores e de cadeiras de roda.
Já Roldós, que liderou as pesquisas no início da campanha, vem tentando conter a queda enfatizando seu perfil moderado. Ontem, por exemplo, disse que o Equador terá "um presidente de meses" caso Correa ou Noboa sejam eleitos: "O Equador não precisa de autoritarismo nem violência nem ser tratado como uma fazenda."


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