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Retorno de Zelaya trava pacto em Honduras
Apesar de entendimentos pontuais entre emissários do governo interino e do deposto, divergência sobre restituição empaca acordo
Substituição de negociador no time de Zelaya indica que ele desistiu de Constituinte, mas grupo de Micheletti espera mostra mais enfática
Ana Flor/Folha Imagem
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No principal hospital público de Tegucicalpa, sobram pacientes sem assistência e falta estrutura
ANA FLOR
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADOS ESPECIAIS A TEGUCIGALPA
Um dos principais negociadores do governo interino de
Roberto Micheletti disse ontem que há poucas chances de
que um acordo que dê fim à crise política seja concluído hoje,
em contraste com o que esperam envolvidos nas conversas
mais otimistas.
Segundo o negociador, o único ponto em que há poucas
chances de acordo é o mais nevrálgico: o retorno do presidente deposto Manuel Zelaya ao
poder. A avaliação é que Zelaya
continua pedindo muito, sem
dar garantias. Entre as exigências consideradas descabidas
está a volta à Presidência com
poderes semelhantes ao de antes do golpe de 28 de junho.
O negociador também critica
a falta de comprometimento do
time de Zelaya com a ideia de
descartar uma Constituinte.
Oficialmente, o grupo do presidente deposto disse que não insiste mais no processo de mudança da Constituição.
Na sexta, quando as conversas entre os dois grupos foram
suspensas para que, no feriado,
houvesse consultas privadas, os
negociadores se diziam otimistas. Chegaram a comemorar o
consenso sobre 60% dos pontos do Acordo de San José, texto-base do diálogo. "Porcentagem é relativo", disse ontem
um negociador de Micheletti.
Para ele, se não há acordo sobre o ponto principal -a volta
de Zelaya- todo o resto fica
comprometido. O grupo de Micheletti aposta que um processo prolongado de negociações
possa desgastar a força -já reduzida- de Zelaya.
Um dos negociadores do presidente deposto, Victor Meza,
disse ontem que os dois pontos
finais do acordo devem ser negociados entre hoje e amanhã.
O prazo dado por Zelaya para
um acordo termina na quinta.
Mesmo assim, o deposto não
afirmou o que fará caso não se
chegue a um consenso até lá.
John Biehl, representante da
OEA (Organização dos Estados
Americanos) nas conversas,
afirmou que não pode prever se
haverá acordo, mas disse que
outras formas para resolver a
volta de Zelaya estão na mesa.
Para o time de Micheletti, o
ideal seria uma terceira pessoa
assumir o poder. Segundo seus
negociadores, poderia haver
acordo se deposto voltasse sob
um gabinete pré-definido.
Zelaya trocou ontem o delegado que representa a incipiente esquerda hondurenha da
mesa de negociações com o governo interino. Com a decisão,
que será formalizada hoje, sai o
líder sindical esquerdista Juan
Barahona, que nunca tira um
boné do Che Guevara, para entrar o advogado e empresário
Rodil Rivera Rodil, um moderado das filas do Partido Liberal fiéis ao presidente deposto.
A mudança mostra que Zelaya está disposto a ceder na convocação de uma Constituinte,
um dos pontos mais importantes da crise, mas sem comprometer a Frente Nacional da Resistência (FNR), que reúne dezenas de organizações esquerdistas e planeja continuar impulsando uma nova Carta.
Zelaya tem adotado o discurso de que a convocação não foi
feita por ele, mas "pelo povo", e
que, portanto, o processo não
está em suas mãos. Ou seja,
mesmo que ele desista, a proposta continua via FNR, que se
encaminha para se transformar em partido político.
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