São Paulo, quarta-feira, 13 de outubro de 2010

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Após 69 dias, Chile começa o resgate dos 33 mineiros

Primeiro a ser resgatado é Florencio Ávalos, 31, à 0h11 de hoje; até as 2h05, outros dois tinham sido retirados

Operação de retirada deve continuar pelos próximos dois dias; presidente Piñera acompanha processo

Ian Salas/Efe
Florencio Ávalos beija a mulher, Monica, instantes após o resgate

LAURA CAPRIGLIONE
ENVIADA ESPECIAL A COPIAPÓ (CHILE)

O acampamento Esperanza explodiu de alegria nos primeiros minutos de hoje, quando Florencio Ávalos, 31, emergiu do solo dentro da cápsula Fênix 2, tornando-se o primeiro homem a ser resgatado de profundidade superior a 600 metros.
Até as 2h05, dois outros mineiros -Mario Sepúlveda, 39, e Juan Illanes, 52- também haviam sido retirados.
No total, foram 69 dias confinados, depois que um desmoronamento ocorrido no dia 5 de agosto soterrou 33 homens sob milhares de toneladas de pedra, cobre e terra, dentro da mina San José, no deserto de Atacama.
As cerca de 3.000 pessoas que acompanharam o resgate de Florencio Ávalos no acampamento choraram, gritaram quando se abriu a porta da cápsula de resgate.
Com capacete vermelho, óculos escuros (para proteger os olhos das luzes dos refletores de TV, já que passou os dois últimos meses na semiescuridão), o mineiro dirigiu-se ao filho Byron, que, desfeito em lágrimas, chamava pelo pai.
Durou 16 minutos a subida da Fênix. Tempo angustiante. Jornalistas e parentes sabiam que havia o risco de a cápsula enganchar-se em alguma saliência do poço.
Quando se completavam oito minutos no poço, a polia que enrolava o cabo de aço diminuiu a velocidade de rotação. Era sinal de que Ávalos estava chegando.
Uma sirene soou no meio do silêncio absoluto no acampamento.
A operação de resgate começou às 23h20, quando o resgatista Manuel González, especialista em resgate vertical, com 12 anos de experiência, entrou no poço.
González chegou ao local onde se encontravam os mineiros depois de 16 minutos de viagem. Contato imediato.
Uma câmera mostrou os homens lá embaixo, sem camisa, lembrando a temperatura de 38ºC e ultraumidade reinante sob a terra.
Em seguida iniciou-se a preparação de Ávalos, pai de dois filhos, que atuava como capataz da turma que ficou presa no desabamento da mina San José.
Era o segundo na hierarquia de trabalho subterrâneo, abaixo apenas de Luís Urzúa, o chefe do turno, que será o último a sair (como com os capitães de navios).
À mãe de Florencio e de seu irmão Renan, outro mineiro preso, perguntou-se qual filho ela preferia que saísse antes, já que vem conversando durante o último par de meses com os dois:
"Ambos tem a mesma ânsia de sair. Ambos mereciam. Tenho orgulho pelos dois."

PRIMEIROS OLHOS
Ávalos não foi o primeiro só agora. Ele já tinha sido o primeiro rosto a ser visto, quando uma sonda com uma câmera na ponta baixou pelo buraco estreito aberto no dia 22 de agosto, 17 dias depois do desabamento.
Os olhos do filho (única coisa que era possível ver) foram reconhecidos imediatamente pela mãe.
Mineiro experiente, com oito anos dentro das galerias subterrâneas de Atacama, o capataz Florencio sabia -como seus colegas de trabalho- que a mina estava em más condições.
Reclamava para os pais que ela fazia ruídos, como se estivesse se quebrando por dentro.
A mãe diz que ele sofria de hipertensão e que recebeu alta poucas semanas antes do desabamento.
Para tornar-se o primeiro a sair, entretanto, Florencio teve de passar por exames ao longo do período em que passou soterrado. Provou que não tinha mais o problema.
O quarto a ser retirado seria Carlos Mamani, 24, boliviano, único imigrante do grupo dos 33.
Para recepcionar seu compatriota, o presidente da Bolívia, Evo Morales, era esperado no acampamento Esperanza durante madrugada.


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