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"Velha guarda" comunista pede fim da censura na China
Ex-membros do partido do poder divulgam carta pró-liberdade, que é logo retirada da internet pelo governo
Manifestação vem 4 dias após concessão do Prêmio Nobel da Paz ao ativista Liu Xiaobo, que está preso desde 2008
FABIANO MAISONNAVE
DE PEQUIM
Um grupo de 23 antigos
membros do Partido Comunista chinês divulgou ontem
uma carta aberta exortando o
governo do país a abolir o
aparato de censura.
Mas, assim como ocorreu
com o anúncio da nomeação
do dissidente chinês Liu
Xiaobo ao Prêmio Nobel da
Paz, o documento foi rapidamente retirado da internet.
"Por 61 anos, temos "servido como mestres" em nome
dos cidadãos da República
Popular da China. Mas a liberdade de expressão e de
imprensa que temos é inferior até à liberdade confiada
aos residentes da colônia de
Hong Kong antes de seu retorno à soberania chinesa
[em 1997]", diz o documento,
em alusão ao início do regime comunista, em 1949.
Os autores da carta, que
incluem Li Rui, ex-secretário
pessoal de Mao Tsé-tung, e
Huang Jiwei, ex-editor do jornal do PCC "People's Daily",
exortaram o governo a abolir
a censura na internet, a abrir
a discussão sobre os "erros"
do partido e a privatizar dois
jornais estatais como piloto
de mídia independente.
O documento lembra que a
liberdade de expressão é garantida pelo artigo 35 da
Constituição chinesa, pelo
qual "os cidadãos da República Popular da China desfrutam de liberdade de expressão, de imprensa, de assembleia, de associação, de
marcha e de manifestação".
FORA DO AR
Outra mudança defendida
é a reforma dos "órgãos de
propaganda" do governo para que deixem "de assistir
funcionários corruptos a suprimirem e a controlarem
histórias e passem a apoiar a
mídia no monitoramento do
partido e órgão do governo".
O texto menciona e apoia
ainda as surpreendentes declarações recentes do premiê
chinês, Wen Jiabao, em favor
de maior abertura, inclusive
uma entrevista à CNN na
qual afirmou que "os desejos
e as necessidades da população por democracia e liberdade são irresistíveis".
Apesar de divulgado ontem, quatro dias depois do
Nobel ter sido concedido a
Liu, o documento não menciona nem o dissidente político, condenado há 11 anos,
nem o motivo de sua prisão:
a chamada Carta 08, publicada em 2008 e assinada por
303 ativistas, que defende reformas democráticas e o fim
do monopólio político do
Partido Comunista Chinês.
O documento foi divulgado em sites chineses ontem
de manhã e retirado do ar em
seguida. Assim como a Carta
08, é praticamente impossível encontrá-lo na internet
chinesa, que tem censurado
notícias sobre Liu.
Ontem, o governo chinês
continuou a criticar duramente a concessão do Nobel.
Em entrevista coletiva, o porta-voz da Chancelaria Ma
Zhaoxu disse que o prêmio
está sendo usado "por alguns políticos de outros países para atacar a China".
A mulher do agraciado
com o prêmio, Liu Xia, continuou ontem impedida de receber jornalistas e amigos em
sua casa, sob permanente vigilância policial.
Pequim voltou a dar sinais
de que cumprirá a ameaça de
retaliar diplomaticamente a
Noruega, sede do comitê do
Prêmio Nobel.
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