São Paulo, domingo, 13 de novembro de 2005

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EUROPA

Lyon, terceira maior cidade, adota toque de recolher

Batuque e passeata desafiam proibição de manifestação em Paris

DO ENVIADO A PARIS

Manifestantes de partidos de esquerda desafiaram ontem a proibição de qualquer tipo de reunião pública decretada pelo governo -que recebeu ameaças de ataques a pontos turísticos- e realizaram uma passeata no centro da capital francesa.
Sob batuques e gritos exortando a demissão do ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, protestavam também contra o toque de recolher, o estado de emergência e a discriminação racial.
Cerca de 500 pessoas, lideradas pela LCR (Liga Comunista Revolucionária) e por várias associações civis, reuniram-se debaixo de garoa na praça de Saint-Michel durante duas horas e seguiram em passeata pela margem esquerda do rio Sena por cerca de 1 km.
A Folha acompanhou a passeata. Com forte aparato de segurança, a tropa de choque francesa, porém, bloqueou todas as passagens na altura da avenida Voltaire, inclusive a da ponte Royal, que dá acesso ao Museu do Louvre, forçando o recuo dos manifestantes, que seguiram por ruas estreitas até o bairro St. Germain, onde se dispersaram. Os manifestantes prometeram se reunir hoje.
"Não podemos admitir essa política colonial. É desse jeito que você começa a privar os cidadãos das liberdades civis. Não iremos permitir isso", disse a médica Fátima Benjelloun,50, do Movimento dos Indigentes da República.
Ontem à noite, as principais ruas parisisenses estavam sob forte esquema de segurança. Cerca de 3.000 policiais patrulhavam estações de trem, a Torre Eiffel e a avenida Champs-Elysées.
Lyon, terceiro maior município da França (sudeste do país), adotou ontem o toque de recolher, impedindo menores de idade de sair às ruas desacompanhados de maiores das 22h às 6h. A medida, que vai até amanhã de manhã, vale para mais dez cidades da região. Também ontem, pela primeira vez desde o início da violência no país, manifestantes e policiais se enfrentaram no coração de Lyon. Forças de segurança lançaram granadas de gás lacrimogênio para dispersar grupos de jovens que atiravam projéteis e latas de lixo.
Em Carpentras, no sul do país, um mascarado em uma moto atirou duas bombas incendiárias em uma mesquita e fugiu. Havia pessoas rezando na hora do ataque, no começo da noite de anteontem, mas ninguém ficou ferido.
O presidente Jacques Chirac, o primeiro-ministro, Dominique de Villepin, e o ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, condenaram o atentado e declararam solidariedade à comunidade muçulmana da cidade.

Números
Contra as expectativas de uma repetição da violência verificada há sete dias e de ameaças de intensificação de ataques incendiários, a primeira madrugada do final de semana na França foi relativamente tranqüila.
Segundo números divulgados ontem pela polícia, houve um ligeiro aumento no número de veículos queimados (502) e de pessoas presas (206) em relação à madrugada da sexta-feira (463 e 201, respectivamente).
Do início dos distúrbios, há 17 dias, até o fechamento desta edição já haviam sido incendiados, em todo o país, quase 8.000 automóveis e presas 2.440 pessoas, com aproximadamente 300 localidades atingidas pela sedição.


Com agências internacionais

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