São Paulo, terça-feira, 13 de novembro de 2007

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Hamas mata sete durante passeata do Fatah em Gaza

Ato lembrou no território do grupo islâmico três anos da morte de Iasser Arafat

Abbas qualifica mortes de "crime odioso"; Hamas diz que rivais incitaram ao ódio; com 250 mil, ato foi mostra de força do Fatah em Gaza

Mahmud Hams/France Presse
Palestino com bandeira do Fatah durante a manifestação em Gaza, de onde milicianos do grupo foram expulsos pelo Hamas em junho

DA REDAÇÃO

Ao menos sete palestinos foram mortos e 85 ficaram feridos quando atiradores abriram fogo em Gaza contra cerca de 250 mil manifestantes que participavam de passeata para lembrar o terceiro aniversário da morte de Iasser Arafat. A Associated Press e a France Presse dizem que os disparos partiram do grupo islâmico Hamas.
Arafat, morto por moléstia não identificada em 11 de novembro de 2004, num hospital militar francês, era o líder do Fatah, grupo palestino laico que o Hamas desalojou em julho último da faixa de Gaza em meio a densa disputa militar. O Fatah mantém o controle da Cisjordânia, onde as atividades do Hamas também são intoleradas ou reprimidas.
A manifestação de ontem foi convocada por dirigentes do Fatah, cujo líder é Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina. O Fatah sabia que seus rivais muçulmanos se desgastariam caso impedissem o ato em homenagem a Arafat, por décadas o maior dirigente palestino e o último que representou a unidade de seu povo.
Segundo a Associated Press, depois de provocarem o pânico com os primeiros disparos sobre a multidão, militantes do Hamas, com o rosto coberto por lenços ou máscaras, desceram dos edifícios em que estavam encastelados e passaram a atirar indistintamente sobre o conjunto de manifestantes.

"Crime odioso"
O partido de Abbas afirmou que os disparos começaram nas imediações da Universidade Islâmica, controlada pelo Hamas. Seus homens, argumentaram, limitaram-se a reagir. A agência Reuters diz que milicianos do Hamas atiraram sobre um automóvel com manifestantes pró-Fatah, matando uma pessoa, naquilo que teria sido o estopim dos incidentes.
Pouco depois, com a praça e as ruas adjacentes sob seu controle, o Hamas montou cordões de isolamento e prendeu pessoas que tentavam escapar.
Abbas qualificou os incidentes de "crime odioso" do grupo islâmico. Ainda, em nota, acusou o Hamas de "não se enquadrar em nossos valores e costumes e de usar técnicas brutais contra nosso povo em Gaza".
A versão do Hamas é outra. Ehab Ghussen, porta-voz da polícia em Gaza, disse que homens armados do Fatah foram espalhados pela região da passeata, e que dirigentes daquele grupo excitavam os manifestantes com "afirmações odiosas" contra os islâmicos.
"Foi muita brutalidade", disse uma testemunha que se identificou como Abu Samir. O Hamas, segundo ele, mirava na direção de pessoas desarmadas e espancou um adolescente apanhado ao acaso.
A Associated Press diz que partidários do Fatah foram atingidos por armas de fogo depois de atirarem pedras num posto de polícia do Hamas. De início, não foram vistos homens armados do Fatah, afirma ainda aquela agência.
De todo modo, foi o mais sangrento confronto entre os dois grupos desde junho.
Mahmoud Abbas se prepara para uma conferência nos Estados Unidos com dirigentes israelenses, na qual estará em pauta a criação de um Estado palestino. Ele tem se recusado a dialogar com o Hamas enquanto o grupo islâmico não abrir mão do controle de Gaza. O Hamas possuía a maioria no Parlamento palestino, depois das legislativas de 2005, em que acusava o Fatah por corrupção. O Hamas não reconhece o direito de Israel à existência e nega a legitimidade de Abbas para negociar.

Ódio aos "fascistas"
Mohammed Dahlan, ex-chefe da polícia do Fatah em Gaza, lançou um apelo para que seus partidários prossigam desafiando o Hamas naquele território. "É a única maneira de derrubar esses fascistas", afirmou à Associated Press.
"Quem acreditava que o Fatah estivesse eliminado de Gaza se decepcionou", disse Ahmed Heles, dirigente do partido laico na região, diante de um enorme retrato de Arafat que cobria a fachada de um edifício.


Com agências internacionais


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