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Ex-aliado de Chávez prega voto no "não" em reforma da Carta
Ministro da Defesa até julho, general da reserva Baduel toma para si liderança da oposição e chama venezuelanos às urnas
Maior parte dos opositores defende abstenção no referendo no próximo dia 2, que examinará em 2 blocos mudanças na Constituição
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Recém-convertido em líder
opositor, o ex-ministro da Defesa da Venezuela Raúl Isaías
Baduel voltou à carga ontem
contra a reforma constitucional. Desta vez, exortou a população a ir às urnas no próximo
dia 2 para votar pelo "não" e pediu que o presidente Hugo Chávez retire sua proposta.
"Diante dessa fraude democrática, a única forma cívica é
votar "não'", disse o general da
reserva Baduel, durante uma
entrevista coletiva. O concorrido encontro com a imprensa
ocorreu num apertado escritório de advocacia em um bairro
nobre de Caracas, pertencente
a um amigo de Baduel. Segundo
sua assessoria, vários hotéis da
capital se negam a recebê-lo.
O ex-aliado de Chávez -estava no governo até julho- criticou o chamado à abstenção
lembrando que o boicote oposicionista às eleições parlamentares, em dezembro de 2005,
não tirou a legitimidade da Assembléia Nacional hoje dominada pelo governo -apenas o
dissidente Podemos, com sete
deputados, faz oposição.
"Se apenas um venezuelano
votar e o fizer pelo "sim", e o resto não comparecer pela razão
que seja, esse cidadão nos impõe a todos uma nova Constituição", disse Baduel. Pela legislação, a reforma é aprovada
por maioria simples, independentemente da abstenção.
Na semana passada, as primeiras declarações de Baduel
contra a reforma -qualificada
por ele de "golpe de Estado"-
provocaram um terremoto político na Venezuela. Irritado,
Chávez o chamou de "traidor".
Ontem, o general começou
seu pronunciamento pedindo a
Chávez que desista da reforma.
"Senhor presidente, pelo bem
do país retire essa proposta e
garanta, como primeiro magistrado da República e primeiro
servidor do país, a paz e a estabilidade de nossa pátria", disse.
Prevendo uma luta de "Davi
contra Golias", Baduel disse
que o governo Chávez irá "pressionar os empregados públicos,
partidários e contratistas do
Estado, fazendo-lhes crer que
efetivamente se pode saber por
qual opção votaram", mas assegurou que o sistema eleitoral
venezuelano é secreto.
Abstenção
Uma pesquisa de opinião divulgada na semana passada pelo respeitado instituto Datanálisis revela que o "sim" e o "não"
estão empatados em 34%. Chávez, no entanto, leva uma vantagem por causa da predisposição de 50% dos opositores a
não ir às urnas -o voto não é
obrigatório na Venezuela. Entre os chavistas, 64,2% disseram que votarão em dezembro.
"Chávez ganhará por abstenção", previu Luis Vicente León,
diretor do Datanálisis, em entrevista ao "El Universal".
Levantamentos mostram
que a proposta mais polêmica
da reforma, a reeleição ilimidada para presidente, é rejeitada
pela maioria do eleitorado. Já a
redução da jornada de trabalho
tem maior aceitação. Mas o texto será votado em dois blocos,
não permitindo ao eleitor dissociar as propostas.
Até agora, poucos líderes
opositores têm exortado abertamente ao comparecimento às
urnas. Em comício no último
sábado convocado pelo "bloco
do não", os discursos dos líderes estudantis opositores e o
material publicitário pregavam
a rejeição à reforma, mas não o
voto. Na semana retrasada, líderes radicais, como o ex-prefeito de Caracas Antonio Ledezma, prometeram até impedir a votação.
Uma parte dos opositores de
Chávez, como os estudantes,
tem defendido o adiamento do
referendo até fevereiro, enquanto o Conselho Universitário da Universidade Central da
Venezuela (UCV), a mais importante do país, propôs ontem
a convocação de uma nova Assembléia Constituinte.
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