São Paulo, terça-feira, 13 de novembro de 2007

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Ex-aliado de Chávez prega voto no "não" em reforma da Carta

Ministro da Defesa até julho, general da reserva Baduel toma para si liderança da oposição e chama venezuelanos às urnas

Maior parte dos opositores defende abstenção no referendo no próximo dia 2, que examinará em 2 blocos mudanças na Constituição

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Recém-convertido em líder opositor, o ex-ministro da Defesa da Venezuela Raúl Isaías Baduel voltou à carga ontem contra a reforma constitucional. Desta vez, exortou a população a ir às urnas no próximo dia 2 para votar pelo "não" e pediu que o presidente Hugo Chávez retire sua proposta.
"Diante dessa fraude democrática, a única forma cívica é votar "não'", disse o general da reserva Baduel, durante uma entrevista coletiva. O concorrido encontro com a imprensa ocorreu num apertado escritório de advocacia em um bairro nobre de Caracas, pertencente a um amigo de Baduel. Segundo sua assessoria, vários hotéis da capital se negam a recebê-lo.
O ex-aliado de Chávez -estava no governo até julho- criticou o chamado à abstenção lembrando que o boicote oposicionista às eleições parlamentares, em dezembro de 2005, não tirou a legitimidade da Assembléia Nacional hoje dominada pelo governo -apenas o dissidente Podemos, com sete deputados, faz oposição.
"Se apenas um venezuelano votar e o fizer pelo "sim", e o resto não comparecer pela razão que seja, esse cidadão nos impõe a todos uma nova Constituição", disse Baduel. Pela legislação, a reforma é aprovada por maioria simples, independentemente da abstenção.
Na semana passada, as primeiras declarações de Baduel contra a reforma -qualificada por ele de "golpe de Estado"- provocaram um terremoto político na Venezuela. Irritado, Chávez o chamou de "traidor".
Ontem, o general começou seu pronunciamento pedindo a Chávez que desista da reforma. "Senhor presidente, pelo bem do país retire essa proposta e garanta, como primeiro magistrado da República e primeiro servidor do país, a paz e a estabilidade de nossa pátria", disse.
Prevendo uma luta de "Davi contra Golias", Baduel disse que o governo Chávez irá "pressionar os empregados públicos, partidários e contratistas do Estado, fazendo-lhes crer que efetivamente se pode saber por qual opção votaram", mas assegurou que o sistema eleitoral venezuelano é secreto.

Abstenção
Uma pesquisa de opinião divulgada na semana passada pelo respeitado instituto Datanálisis revela que o "sim" e o "não" estão empatados em 34%. Chávez, no entanto, leva uma vantagem por causa da predisposição de 50% dos opositores a não ir às urnas -o voto não é obrigatório na Venezuela. Entre os chavistas, 64,2% disseram que votarão em dezembro.
"Chávez ganhará por abstenção", previu Luis Vicente León, diretor do Datanálisis, em entrevista ao "El Universal".
Levantamentos mostram que a proposta mais polêmica da reforma, a reeleição ilimidada para presidente, é rejeitada pela maioria do eleitorado. Já a redução da jornada de trabalho tem maior aceitação. Mas o texto será votado em dois blocos, não permitindo ao eleitor dissociar as propostas.
Até agora, poucos líderes opositores têm exortado abertamente ao comparecimento às urnas. Em comício no último sábado convocado pelo "bloco do não", os discursos dos líderes estudantis opositores e o material publicitário pregavam a rejeição à reforma, mas não o voto. Na semana retrasada, líderes radicais, como o ex-prefeito de Caracas Antonio Ledezma, prometeram até impedir a votação.
Uma parte dos opositores de Chávez, como os estudantes, tem defendido o adiamento do referendo até fevereiro, enquanto o Conselho Universitário da Universidade Central da Venezuela (UCV), a mais importante do país, propôs ontem a convocação de uma nova Assembléia Constituinte.


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