São Paulo, quinta-feira, 13 de novembro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / DEFESA EM TEMPOS DE GUERRA

Pentágono faz lobby por Gates e mais dinheiro

Relatório interno, porém, alerta que Defesa ruma à falência e pede contenção de gastos

Pasta consome hoje 6,2% do PIB; equipe de Obama elogia secretário atual, mas críticas a políticas de Bush para área indicam que ele deve sair

Mahmoud Raouf Mahmoud/Reuters
Soldados americanos montam guarda em local que foi alvo de atentado em Bagdá, no Iraque

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Com um Orçamento de US$ 858 bilhões para 2009, quase 3 milhões de empregados e duas guerras em andamento, o Departamento da Defesa americano é a fatia mais importante do governo que Barack Obama monta nas próximas semanas. É também a que mais pressão vem fazendo sobre o presidente eleito dos Estados Unidos.
O lobby tem duas frentes: mais dinheiro e a manutenção do secretário Robert Gates no cargo. A primeira defende que o Orçamento, que suga 6,2% do PIB americano, é pequeno para os dias de hoje, em que dois conflitos externos e a crise econômica interna drenam o investimento necessário em novos armamentos e pessoal.
Relatório recente feito pelo grupo Defense Business Board afirma que a situação atual é "insustentável" e que, se mais cortes não forem feitos ou as prioridades mudadas, o Pentágono vai "falir". A entidade, criada na gestão do secretário Donald Rumsfeld (2001-2006) para avaliar os gastos do departamento, recomenda que programas de desenvolvimento de armas sejam congelados.
Entre os programas mais visíveis e caros sendo tocados atualmente estão o desenvolvimento do caça F-35 e de uma nova geração de veículos terrestres de assalto e a construção de navios de guerra. A preocupação da indústria armamentista com a possibilidade de a torneira secar tem levado emissários a pressionar o comando obamista.
"Temos recebido sinais de "O mundo vai acabar'!" da indústria", disse F. Whitten Peters, ex-secretário da Aeronáutica que aconselhou Obama para assuntos de defesa na campanha. "Essa não era a visão da campanha."
Obama prometeu iniciar a retirada de tropas do Iraque tão logo assuma o cargo. Ao mesmo tempo, disse que voltará atenção e recursos para o Afeganistão, onde acredita estar o verdadeiro centro da "guerra ao terror". Assim, diz o comando obamista, as prioridades mudarão, mas é improvável que os gastos diminuam.
Já o caso de Gates é mais delicado. Ele é respeitado pela ala moderada dos analistas da área, principalmente em comparação com seu antecessor, o falcão Rumsfeld, e já deu mostras mais de uma vez de que aceitaria o convite para permanecer no cargo. Mas é muito identificado com as políticas de George W. Bush que Obama combateu na campanha.
Grupos progressistas têm pressionado o presidente eleito pela substituição do secretário e defendido o nome do senador Chuck Hagel para o cargo. Republicano de Nebraska, o político acompanhou Obama em sua viagem como candidato ao Iraque e ao Afeganistão. Moderado, foi a favor da invasão do Iraque, mas logo virou um crítico da guerra.
"A manutenção de Gates seria uma violação do mandato de mudança que Obama diz representar", disse Medea Benjamin, co-fundadora do grupo pacifista Code Pink. Oficialmente, o comando obamista diz apenas que há um "grande respeito" pelo nome de Gates, mas que o titular só será anunciado nas próximas semanas.

Ordens executivas
Seja quem for o secretário, no entanto, sabe-se que uma das suas primeiras tarefas será revisar todas as ordens executivas de Bush relacionadas à chamada "guerra ao terror", das que criam as comissões militares excepcionais para julgar os prisioneiros do centro de detenção na baía de Guantánamo, em Cuba, às que autorizam técnicas duras de interrogatório de suspeitos.
Ordem executiva é o equivalente à brasileira medida provisória, decisões do presidente com força de lei que podem ser anuladas pelo sucessor ou derrubadas pelo Congresso. Bush as vem assinando em grande quantidade, mas as mais polêmicas são as que implantou ao longo dos quase oito anos de mandato sob a justificativa de facilitar o combate ao terror.


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