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SUCESSÃO NOS EUA / DEFESA EM TEMPOS DE GUERRA
Pentágono faz lobby por Gates e mais dinheiro
Relatório interno, porém, alerta que Defesa ruma à falência e pede contenção de gastos
Pasta consome hoje 6,2% do PIB; equipe de Obama elogia secretário atual, mas críticas a políticas de Bush para área indicam que ele deve sair
Mahmoud Raouf Mahmoud/Reuters
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Soldados americanos montam guarda em local que foi alvo de atentado em Bagdá, no Iraque
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Com um Orçamento de US$
858 bilhões para 2009, quase 3
milhões de empregados e duas
guerras em andamento, o Departamento da Defesa americano é a fatia mais importante do
governo que Barack Obama
monta nas próximas semanas.
É também a que mais pressão
vem fazendo sobre o presidente eleito dos Estados Unidos.
O lobby tem duas frentes:
mais dinheiro e a manutenção
do secretário Robert Gates no
cargo. A primeira defende que o
Orçamento, que suga 6,2% do
PIB americano, é pequeno para
os dias de hoje, em que dois
conflitos externos e a crise econômica interna drenam o investimento necessário em novos armamentos e pessoal.
Relatório recente feito pelo
grupo Defense Business Board
afirma que a situação atual é
"insustentável" e que, se mais
cortes não forem feitos ou as
prioridades mudadas, o Pentágono vai "falir". A entidade,
criada na gestão do secretário
Donald Rumsfeld (2001-2006)
para avaliar os gastos do departamento, recomenda que programas de desenvolvimento de
armas sejam congelados.
Entre os programas mais visíveis e caros sendo tocados
atualmente estão o desenvolvimento do caça F-35 e de uma
nova geração de veículos terrestres de assalto e a construção de navios de guerra. A preocupação da indústria armamentista com a possibilidade
de a torneira secar tem levado
emissários a pressionar o comando obamista.
"Temos recebido sinais de "O
mundo vai acabar'!" da indústria", disse F. Whitten Peters,
ex-secretário da Aeronáutica
que aconselhou Obama para
assuntos de defesa na campanha. "Essa não era a visão da
campanha."
Obama prometeu iniciar a
retirada de tropas do Iraque tão
logo assuma o cargo. Ao mesmo
tempo, disse que voltará atenção e recursos para o Afeganistão, onde acredita estar o verdadeiro centro da "guerra ao
terror". Assim, diz o comando
obamista, as prioridades mudarão, mas é improvável que os
gastos diminuam.
Já o caso de Gates é mais delicado. Ele é respeitado pela ala
moderada dos analistas da área,
principalmente em comparação com seu antecessor, o falcão Rumsfeld, e já deu mostras
mais de uma vez de que aceitaria o convite para permanecer
no cargo. Mas é muito identificado com as políticas de George
W. Bush que Obama combateu
na campanha.
Grupos progressistas têm
pressionado o presidente eleito
pela substituição do secretário
e defendido o nome do senador
Chuck Hagel para o cargo. Republicano de Nebraska, o político acompanhou Obama em
sua viagem como candidato ao
Iraque e ao Afeganistão. Moderado, foi a favor da invasão do
Iraque, mas logo virou um crítico da guerra.
"A manutenção de Gates seria uma violação do mandato de
mudança que Obama diz representar", disse Medea Benjamin, co-fundadora do grupo
pacifista Code Pink. Oficialmente, o comando obamista
diz apenas que há um "grande
respeito" pelo nome de Gates,
mas que o titular só será anunciado nas próximas semanas.
Ordens executivas
Seja quem for o secretário, no
entanto, sabe-se que uma das
suas primeiras tarefas será revisar todas as ordens executivas de Bush relacionadas à chamada "guerra ao terror", das
que criam as comissões militares excepcionais para julgar os
prisioneiros do centro de detenção na baía de Guantánamo,
em Cuba, às que autorizam técnicas duras de interrogatório
de suspeitos.
Ordem executiva é o equivalente à brasileira medida provisória, decisões do presidente
com força de lei que podem ser
anuladas pelo sucessor ou derrubadas pelo Congresso. Bush
as vem assinando em grande
quantidade, mas as mais polêmicas são as que implantou ao
longo dos quase oito anos de
mandato sob a justificativa de
facilitar o combate ao terror.
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