São Paulo, sexta-feira, 13 de novembro de 2009

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"Responsabilizar apenas a Colômbia não basta"

DA SUCURSAL DO RIO

O Brasil precisa demonstrar maior compreensão da situação interna colombiana se quiser atuar como mediador, disse Socorro Ramírez, especialista em segurança da Universidade Nacional da Colômbia. (CA)

 

FOLHA - Colômbia e Venezuela podem chegar a um entendimento sobre os problemas da fronteira?
SOCORRO RAMÍREZ
- Não é fácil. A atual tensão entre os países não é a mesma de outras ocasiões, é mais complicada. A fronteira foi transformada numa fronteira ideológica. Ali se combinam grupos derivados não só do conflito colombiano, mas também da dinâmica venezuelana, como as milícias bolivarianas. Não creio que os dois países vão à guerra, suas populações nunca serão convencidas a isso. Mas os chamados recorrentes à guerra podem gerar incidentes. A abordagem de responsabilizar só a Colômbia, por causa das bases [que serão usadas pelos EUA], não é suficiente. Creio que o projeto bolivariano, pela situação interna em que se encontra, também gerou situações problemáticas para a situação fronteiriça e a relação bilateral. É importante promover um encontro entre os dois presidentes, mas não é suficiente. Há situações perigosas que devem ser desmontadas.

FOLHA - O que o Brasil poderia fazer além de sugerir um mecanismo de monitoramento da fronteira?
RAMÍREZ
- O Brasil tem que se abrir mais a entender a problemática da Colômbia. Não há uma compreensão clara de por que a maioria do país acompanhou um governo tão duro e arbitrário como o de [Álvaro] Uribe, por que está a favor da presença dos EUA. Se o Brasil quer ter um papel, precisa tratar de entender a dinâmica do conflito, que não corresponde mais ao que ocorria nos anos 70, quando era só interno. O Brasil tem de ajudar no entendimento da situação colombiana, para que a Colômbia também entenda a região e a necessidade de fortalecer a unidade regional.

FOLHA - Quando todos falam do fracasso da guerra às drogas, para que ampliar o pacto com os EUA?
RAMÍREZ
- Hoje a força das Farc [Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia] não depende de base social ou legitimidade, mas da capacidade de obter recursos derivados da droga. O sentido é que, ao tirar-lhe isso, lhe tiram o poder ofensivo.

FOLHA - Mas é possível acabar com o narcotráfico?
RAMÍREZ
- Enquanto a região não chegar a um acordo sobre esse tema, é difícil para um só país ter êxito diante do tema da droga. Apesar de toda a região estar envolvida, com intensidades e modos diferentes, com frequência ele é visto como um problema apenas colombiano.

Leia a íntegra da entrevista com Socorro Ramírez

www.folha.com.br/0931613


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