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Previdência privatizada não garante pensões no Chile
Gasto do governo crescerá com pobreza de idosos
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os chilenos não estão tão felizes quanto os economistas
com a reforma da Previdência
implementada no país. Apontada como das mais modernas
mudanças do sistema de seguridade social em países emergentes, ela já obriga o governo a
pensar em nova reforma.
Em 1981, o Chile privatizou a
Previdência e criou um sistema
de capitalização: cada trabalhador passa a ter uma conta individual e recebe, quando se aposenta, benefício de acordo com
as contribuições que fez no passado. A migração do sistema
público para o privado era opcional, mas a esmagadora
maioria dos trabalhadores optou pelo novo sistema.
Para pagar os custos da transição, o governo calculava, com
base no tempo em que cada trabalhador do sistema público
havia contribuído, o valor a que
ele teria direito até ali. Transformava esse valor em um título público que o trabalhador
usava como depósito inicial de
sua conta de capitalização.
Sem seguro
Os méritos do novo sistema,
na visão dos economistas, são
muitos: como seu benefício depende diretamente da contribuição, ele estimularia a poupança. O desenvolvimento de
fundos de pensão ajudaria a
criar um mercado de capitais e
financiar o investimento. Por
outro lado, tiraria das costas do
Estado o custo de aposentadorias, que aumenta à medida que
a população envelhece.
Economistas estimam que,
no caso da maioria dos países
que acompanharam o Chile,
parte do que se estimava serem
os supostos méritos se tornaram realidade. Mas, diz em estudo do Banco Mundial o economista Guillermo Perry, "o
fracasso em levar a cobertura
para parte importante da sociedade faz com que seja prematuro chamar as reformas de sucesso. A pobreza da população
idosa ainda é um risco significativo na região".
De fato, os dados do Chile
mostram que a maior parte da
população não está segurada.
Cerca de 7 milhões de chilenos
são filiados à Previdência privada. No entanto, apenas metade deles contribui em um determinado mês. Manuel Riesco, do Cenda (Centro de Estudos de Desenvolvimento), estima que apenas um sexto dos filiados consegue contribuir todos os 12 meses do ano. Estudos da própria associação dos
fundos de previdência avaliam
que apenas metade dos trabalhadores contribuirá o suficiente para ter direito a pelo
menos a pensão mínima assegurada pelo sistema.
O problema: a outra metade
poderá sacar os recursos economizados, mas não terá direito a benefícios sociais direcionados à população mais pobre
nem à aposentadoria.
Hoje, apenas 4,3% dos idosos
do Chile recebem pelo sistema
privado -a maior parte ainda
recebe pelo sistema público.
Mas, a partir de agora, será cada
vez maior o número de idosos
que passarão a receber pelo sistema inaugurado em 1981.
Benefícios menoresBR>
A promessa do governo era
que quem migrasse para o sistema e contribuísse regularmente teria benefícios até
maiores do que os do sistema
antigo. Hoje, a média de um benefício público é de 147 mil pesos, enquanto a do setor privado é de 124 mil. De certa modo,
a maneira como o governo calculou o valor do título que entregava aos filiados os prejudicou. Foi usada a média salarial
entre 1979 e 1981, anos de recessão e salários baixos.
Kaizô Beltrão, especialista
em Previdência do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística) lembra ainda as taxas de administração dos fundos são altas e o custo fiscal, incerto. Hoje ele é pequeno, já
que o governo transformou os
recursos em dívida e transferiu
a administração para o setor
privado, mas a dúvida é como o
governo lidará com os pensionistas que não terão direito a
pensões ou que descobrirão,
quando tentarem se aposentar,
que a pensão a que têm direito é
menor do que eles supunham.
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