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REINO UNIDO
Imprensa e entidades judaicas criticam o príncipe britânico por ter usado um uniforme do Exército de Hitler numa festa
Fantasia nazista de Harry vira escândalo
ÉRICA FRAGA
DE LONDRES
A fantasia de nazista usada pelo
príncipe Harry em uma festa é o
escândalo do momento no Reino
Unido. Ontem, das bancas de jornais à TV, não se falava em outra
coisa no país. Mas, segundo analistas, ao contrário das outras gafes da monarquia britânica, esse
caso poderá ter repercussões mais
sérias, inclusive diplomáticas.
Considerando as reações registradas ontem, inclusive em outros
países, a previsão dos especialistas
parece acertada. Políticos, líderes
de instituições judaicas, especialistas em família real e até escritores criticaram a atitude de Harry.
Filho do príncipe Charles, herdeiro do trono britânico, e da princesa Diana, morta em um acidente
de carro em 1997, ele é o terceiro
na linha de sucessão.
"Acho que o ocorreu foi um erro infeliz que trará prejuízos para
a família real. Isso vai causar muito mais estresse que outros episódios anteriores", disse Andrew
Alderson, repórter-chefe e especialista em família real do jornal
"Sunday Telegraph", à Folha.
A polêmica foto de Harry, 20, foi
publicada ontem pelo tablóide
"The Sun", o jornal mais vendido
do Reino Unido, com circulação
diária de 3,3 milhões de exemplares. No fim da tarde, já era praticamente impossível encontrar uma
cópia do jornal que, segundo o
dono de uma banca, "vendeu como nunca".
A assessoria da família real divulgou um comunicado de Harry
no qual o príncipe dizia: "Eu sinto
muito se causei alguma ofensa ou
vergonha a alguém. Foi uma escolha infeliz de fantasia e eu me desculpo".
Mas, para muitos, isso não é suficiente. A gafe ocorreu em um
momento inapropriado: em menos de três semanas, ocorrerá o
aniversário de 60 anos da liberação do campo de concentração de
Auschwitz. A rainha Elizabeth 2ª,
avó de Harry, será anfitriã de uma
recepção na qual receberá sobreviventes do Holocausto e veteranos da Segunda Guerra Mundial.
Há quem defenda que Harry peça desculpas publicamente e até
que vá à Auschwitz com a delegação britânica, que será chefiada
por seu tio, o príncipe Edward.
"Lá ele verá os resultados do
odiado símbolo que, tola e imprudentemente, escolheu vestir", disse o rabino Marvin Hier, presidente do Centro Simon Wiesenthal (EUA).
Silvan Shalom, chanceler de Israel, também criticou Harry duramente, dizendo que esse tipo de
atitude pode encorajar as pessoas
a pensarem que o que ocorreu durante a Segunda Guerra "não foi
tão ruim como nós ensinamos às
gerações mais novas".
Um porta-voz do premiê Tony
Blair tentou apaziguar os ânimos,
dizendo que foi cometido um erro e que o príncipe o reconheceu.
A oposição, porém, foi menos
piedosa.
"Seria apropriado ouvir dele,
pessoalmente, o quão contrito ele
está", disse o líder do Partido
Conservador, Michael Howard,
que é judeu, a um programa de
rádio da BBC.
Especialistas em família real
também se mostraram chocados
com a atitude de Harry e mais
surpresos ainda com o fato de
que nenhum dos diversos assessores da realeza tenha conseguido impedir a gafe.
"A dúvida agora é saber como
ele conseguiu essa roupa e como
ninguém soube que ele estava
saindo vestido dessa forma", disse Alderson, do "Sunday Telegraph".
O príncipe vestiu o uniforme
-igual ao usado pelo batalhão
alemão Africa Corps, chefiado
pelo marechal Erwin Rommel, na
África, durante a Segunda Guerra- em uma festa à fantasia no
aniversário de um amigo no último fim de semana, cujo tema era
"colonial e nativo". Já o irmão
mais velho de Harry, príncipe
William, 22, foi com uma fantasia
que misturava traços de leão e
leopardo que, segundo a imprensa, foi feita por ele próprio.
A maior parte dos especialistas
não acredita que Harry tenha se
fantasiado de nazista para causar
polêmica e credita o incidente a
uma certa ingenuidade. Mas não
deixam de apontar que, aos 20
anos, o príncipe já deveria se
mostrar mais maduro.
O contraste entre os trajes é um
bom retrato de como os príncipes
são avaliados pela opinião pública britânica. William, sucessor do
trono, é considerado o bom moço. Já Harry é visto como o "menino problema".
O príncipe-famoso por gostar
de vida noturna- envolveu-se
em um incidente com um fotógrafo na porta de uma boate, no
ano passado, e causou polêmica
quando admitiu que já tinha experimentado maconha.
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