São Paulo, sexta-feira, 14 de janeiro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

IRAQUE SOB TUTELA

Xiitas, maioria religiosa, são alvo de assassinatos e atentado com carro-bomba no país, a 15 dias da eleição

Ataques reforçam temor sectário no Iraque

Nathan K. LaForte/Reuters
Militar americana cobre o rosto para se proteger do vento e da areia perto da base aérea Al Asad, a 209 quilômetros de Bagdá


DA REDAÇÃO

Dois assistentes do maior clérigo xiita iraquiano, o aiatolá Ali al Sistani, foram mortos em diferentes ataques ontem. Além disso, um carro-bomba explodiu diante de uma mesquita xiita, matando três pessoas. Com essas ações, somadas a outras de mesmo tipo nos últimos dias, a divisão religiosa no país se agrava à medida que se aproximam as eleições do dia 30 de janeiro.
O xeque Mahmoud al Madaen, representante do clérigo na cidade de Salman Pak, a 20 quilômetros de Bagdá, foi morto a tiros na noite de anteontem, quando voltava de uma mesquita. O seu filho e mais quatro guarda-costas também foram mortos no ataque. O clérigo Halim al Mohaqeq, que trabalhava para Al Sistani em Najaf, também foi encontrado morto ontem.
A explosão em frente à mesquita na região de Khan Beni Saad, a 45 quilômetros de Bagdá, aconteceu à noite, quando os fiéis deixavam o prédio depois das orações. Além das três pessoas mortas, outras três ficaram feridas.
Xiitas representam 60% dos 26 milhões de iraquianos e devem conquistar a maior parte das 275 cadeiras da Assembléia Nacional, na primeira eleição do país desde a sua independência, em 1932. Os sunitas, que são 20% dos iraquianos, temem perder o poder que tiveram durante as décadas em que o ditador sunita Saddam Hussein comandou o Iraque.
Clérigos sunitas pedem um boicote à eleição e dizem que se a minoria considerar o resultado injusto, pode ocorrer uma guerra civil. A votação é amplamente defendida por Al Sistani, que diz que o voto é um dever religioso de todos os homens e mulheres. Ele apóia os 228 candidatos da Aliança Iraquiana Unida. "Vocês pensam que as forças xiitas não podem ir ao sul de Bagdá e impor segurança? Mas nós não queremos ajudar nossos inimigos a instalar a guerra civil que eles querem", disse um membro do governo que não quis se identificar.
Soldados americanos detiveram ontem mais um religioso sunita: o xeque Ahmed al Jibouri, membro da Associação de Clérigos Muçulmanos e professor da Universidade Islâmica. Segundo o xeque Omar Ragheb Zaydan, não foi dado nenhum motivo para a prisão. As forças de ocupação prenderam diversos clérigos sunitas nos últimos meses, suspeitos de terem ligações com insurgentes.
Autoridades iraquianas e americanas concordam que algumas áreas do país são inseguras para a votação. Mas Washington insiste para que a eleição aconteça na data fixada, afirmando que um adiamento seria uma vitória para os insurgentes, e que eleições imperfeitas são melhores do que nada.
A comissão eleitoral do Iraque detalhou ontem o que será considerado crime eleitoral. A lista inclui onze crimes, como entrar armado em locais de votação, incitar a violência, ameaçar funcionários da comissão eleitoral, falsificar documentos, forçar pessoas a revelar o voto ou a votar em algum candidato específico.

Seqüestros
O presidente interino do Iraque, Ghazi al Yawar, confirmou pela primeira vez ontem que a jornalista francesa Florence Aubenas, do jornal "Libération", foi seqüestrada, junto com o intérprete iraquiano Hussein Hanoun Al Saadi. Eles foram levados no último dia 5, após deixar um hotel em Bagdá.
Homens armados abriram fogo ontem contra um microônibus diante de um hotel em Bagdá, seqüestrando o empresário turco Abdulkadir Tanrikulu, dono de uma empresa do ramo da construção que atuava em conjunto com as forças de ocupação. Seis iraquianos, prováveis seguranças do estrangeiro, morreram.
O iraquiano de origem egípcia Sayyed Abdul-Khaleq também foi seqüestrado ontem em Kirkuk. Homens disfarçados como membros da Guarda Nacional Iraquiana o levaram do posto de gasolina que possui. Outros quatro jovens curdos teriam sido seqüestrados na cidade.

Com agências internacionais


Texto Anterior: França: Le Pen é criticado por elogio a nazistas
Próximo Texto: Eleição é 1º passo para saída de americanos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.