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AMÉRICA LATINA
Adolfo Scilingo, ex-oficial da Marinha, enfrenta julgamento por crimes na ditadura na Argentina
Espanha julga pela primeira vez ex-militar argentino
DA REDAÇÃO
Pela primeira vez, um ex-integrante da ditadura argentina enfrentará julgamento na Espanha
por sua participação em crimes de
genocídio, terrorismo e tortura
durante o último regime militar
da Argentina (1976-83).
O processo foi aberto pela Justiça da Espanha depois que o ex-oficial da Marinha Adolfo Scilingo, 58, confessou, em 1995, ter
participado dos "vôos da morte",
nos quais até 2.000 detidos na Esma (Escola Mecânica da Armada)
foram jogados vivos ao mar. A
confissão foi feita em entrevista
ao jornal argentino "Página 12".
"Eles estavam inconscientes. Se
abria a portinha [do avião], e eles
eram jogados nus, um por um",
explicou então Scilingo ao jornal.
Pela Esma, principal centro de
repressão argentino, passaram
5.000 dos 30 mil desaparecidos
durante a "guerra suja" -como
ficou conhecida a campanha de
detenção ilegal, tortura e assassinatos lançada pelos militares.
Segundo a agências de notícias
France Presse, Scilingo enfrentará
acusações de participação em 30
assassinatos, 93 maus-tratos, 255
casos de terrorismo e 286 episódios de tortura, pelos quais os advogados de acusação devem pedir
pena de 6.626 anos de prisão. A
sentença deve sair em março.
Scilingo faz parte de uma lista
de mais de 120 militares e civis argentinos citados em processo
aberto pelo juiz espanhol Baltasar
Garzón em 1996 por violações de
direitos humanos cometidas pela
última ditadura argentina contra
cidadãos espanhóis.
Em audiência perante o juiz, em
1997, o ex-militar voltou a confessar sua participação nos "vôos da
morte", mas, dois anos depois,
voltou atrás. Para evitar que fugisse, Garzón determinou a prisão
do Scilingo em 2001. Ele está hoje
na penitenciária de Alcalá-Meco,
a 30 km a leste de Madri.
Julgamentos
Decisão histórica da Justiça da
Espanha determinou, em 1998,
que crimes contra a humanidade
podem ser julgados no país mesmo se ocorridos em outros países.
No mesmo ano, o Reino Unido
prendeu, a pedido do juiz Garzón,
o ex-ditador chileno Augusto Pinochet por crimes cometidos por
seu regime (1973-90). O general
foi depois libertado sob a alegação
de que estava muito doente para
enfrentar julgamento.
Em 2003, Garzón ratificou pedido de prisão e extradição de 48
militares argentinos envolvidos
na repressão, feito três anos antes.
O novo pedido coincidiu com a
anulação, por parte do governo
do presidente argentino, Néstor
Kirchner, das leis de Obediência
Devida e Ponto Final, que anistiaram ex-repressores.
No entanto, a Espanha se negou
a dar curso ao pedido argumentando que, com a anulação das
leis, os ex-repressores poderiam
ser julgados em seu próprio país.
A causa contra Scilingo foi mantida, porém, após a Justiça argentina e o Supremo Tribunal espanhol reconhecerem a competência de Garzón para julgar o ex-militar, alegando a inexistência de
processo contra ele na Argentina.
Com agências internacionais
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