São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 2007

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Venezuela desvenda socialismo chavista

Propostas que valorizam cooperativas e novas estatais lembram o período anterior de bonança petrolífera, nos anos 70

Mandato até 2013 e exportações de US$ 55 bi em petróleo estimulam Chávez; oposição diz que mesmas idéias já fracassaram antes

Leslie Mazoch/02.dez.2006/Associated Press
Garotas conversam diante de propaganda pró-Chávez, em Maracaibo; presidente foi reeleito em dezembro com 63% dos votos


RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL

Em seu discurso de posse na quarta-feira, de quase três horas de duração, o presidente venezuelano Hugo Chávez falou das prioridades de seu terceiro mandato: construir o socialismo do século 21, mudar a economia local com estatizações e cooperativas, e criar um novo sistema político, de comunas.
Muitas linhas desse modelo, entretanto, não são novidade para os venezuelanos. No período anterior de bonança petrolífera, nos anos 1970, a economia era praticamente toda estatal, incluindo os serviços como telefonia, e havia mais de 100 mil cooperativas, subsidiadas pelo governo.
Como acontece diversas vezes com a inflamada retórica de Chávez, muitas idéias parecem fruto de improviso. Ele não pôde dar mais detalhes delas, na semana em que divulgou um pacote milionário de ajuda ao novo presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, e se encontrou com o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, que passou o dia em Caracas ontem para assinar acordos econômicos e energéticos.
Mas a Folha conversou com deputados governistas, economistas e cientistas políticos para tentar descobrir até onde pode chegar a "revolução bolivariana". O consenso é que, com um mandato até 2013 e com exportações anuais de petróleo que ultrapassam US$ 55 bilhões, não será difícil para Chávez realizar seus projetos.
Em 2005, o presidente venezuelano criou o Fundo de Desenvolvimento Nacional, com orçamento de US$ 6 bilhões. Os recursos são gastos sem controle pelo governo.
Além da estatização anunciada da Cantv, a maior telefônica do país, e da Electricidad de Caracas, os maiores investimentos do governo vão para as cooperativas. Há uma explosão delas no país. São 136 mil - três quartos delas criadas no governo Chávez.
"Na hora de pintar faixas de pedestres, ou fazer jardinagem na PDVSA [a Petrobras venezuelana], o governo deve contratar serviços de cooperativas, não de empresas", diz o deputado chavista Calixto Ortega.
Outras mudanças anunciadas são o fim da autonomia do Banco Central, cujas reservas já alimentam o fundo de desenvolvimento, e a transformação dos governos locais.

Comunas
Um projeto ainda em discussão levaria à eventual desaparição das atuais 335 prefeituras e dos 24 Estados venezuelanos, que seriam substituídas por "conselhos comunais". Eles funcionariam como órgãos de discussão local, com relação direta com o Executivo.
Por causa da decisão de fechar uma rede de televisão privada, negando a renovação de sua concessão, Chávez foi criticado pelo secretário-geral da Organização de Estados Americanos, José Miguel Insulza.
Outras críticas vêm por causa do anúncio de estatizações. "Quem investe em infra-estrutura pensa em 20, 30 anos, diferente de quem compra ações, que entra hoje e sai amanhã. Será difícil para Venezuela atrair investidores", diz o professor de Relações Internacionais da Universidade Columbia Arturo Porzecanski, que trabalhou 30 anos em Wall Street e com mercados emergentes.


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