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Venezuela desvenda socialismo chavista
Propostas que valorizam cooperativas e novas estatais lembram o período anterior de bonança petrolífera, nos anos 70
Mandato até 2013 e exportações de US$ 55 bi em petróleo estimulam Chávez; oposição diz que mesmas idéias já fracassaram antes
Leslie Mazoch/02.dez.2006/Associated Press
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Garotas conversam diante de propaganda pró-Chávez, em Maracaibo; presidente foi reeleito em dezembro com 63% dos votos |
RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL
Em seu discurso de posse na
quarta-feira, de quase três horas de duração, o presidente venezuelano Hugo Chávez falou
das prioridades de seu terceiro
mandato: construir o socialismo do século 21, mudar a economia local com estatizações e
cooperativas, e criar um novo
sistema político, de comunas.
Muitas linhas desse modelo,
entretanto, não são novidade
para os venezuelanos. No período anterior de bonança petrolífera, nos anos 1970, a economia era praticamente toda
estatal, incluindo os serviços
como telefonia, e havia mais de
100 mil cooperativas, subsidiadas pelo governo.
Como acontece diversas vezes com a inflamada retórica de
Chávez, muitas idéias parecem
fruto de improviso. Ele não pôde dar mais detalhes delas, na
semana em que divulgou um
pacote milionário de ajuda ao
novo presidente da Nicarágua,
Daniel Ortega, e se encontrou
com o presidente iraniano,
Mahmoud Ahmadinejad, que
passou o dia em Caracas ontem
para assinar acordos econômicos e energéticos.
Mas a Folha conversou com
deputados governistas, economistas e cientistas políticos para tentar descobrir até onde
pode chegar a "revolução bolivariana". O consenso é que,
com um mandato até 2013 e
com exportações anuais de petróleo que ultrapassam US$ 55
bilhões, não será difícil para
Chávez realizar seus projetos.
Em 2005, o presidente venezuelano criou o Fundo de Desenvolvimento Nacional, com
orçamento de US$ 6 bilhões.
Os recursos são gastos sem
controle pelo governo.
Além da estatização anunciada da Cantv, a maior telefônica
do país, e da Electricidad de
Caracas, os maiores investimentos do governo vão para as
cooperativas. Há uma explosão
delas no país. São 136 mil -
três quartos delas criadas no
governo Chávez.
"Na hora de pintar faixas de
pedestres, ou fazer jardinagem
na PDVSA [a Petrobras venezuelana], o governo deve contratar serviços de cooperativas,
não de empresas", diz o deputado chavista Calixto Ortega.
Outras mudanças anunciadas são o fim da autonomia do
Banco Central, cujas reservas
já alimentam o fundo de desenvolvimento, e a transformação
dos governos locais.
Comunas
Um projeto ainda em discussão levaria à eventual desaparição das atuais 335 prefeituras e
dos 24 Estados venezuelanos,
que seriam substituídas por
"conselhos comunais". Eles
funcionariam como órgãos de
discussão local, com relação direta com o Executivo.
Por causa da decisão de fechar uma rede de televisão privada, negando a renovação de
sua concessão, Chávez foi criticado pelo secretário-geral da
Organização de Estados Americanos, José Miguel Insulza.
Outras críticas vêm por causa do anúncio de estatizações.
"Quem investe em infra-estrutura pensa em 20, 30 anos, diferente de quem compra ações,
que entra hoje e sai amanhã.
Será difícil para Venezuela
atrair investidores", diz o professor de Relações Internacionais da Universidade Columbia
Arturo Porzecanski, que trabalhou 30 anos em Wall Street e
com mercados emergentes.
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