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Apoio de israelenses a ofensiva é quase integral
DO "NEW YORK TIMES", EM JERUSALÉM
Para os críticos de Israel no
exterior, a situação não poderia
estar mais clara: a guerra na faixa de Gaza é uma resposta totalmente desproporcional aos
foguetes disparados pelo Hamas, está causando sofrimento
humano indescritível, e é preciso pôr um ponto final nela.
Em Israel, muito poucas pessoas veem a guerra dessa maneira. Os protestos contra a
guerra têm tido dificuldade em
atrair mil participantes.
Um editorial do "Jerusalem
Post" disse que o mundo deve
estar se perguntando se os israelenses realmente acreditam
que todo o resto do mundo está
enganado e apenas eles estão
com a razão. A resposta é "sim".
"É muito frustrante para nós
não sermos compreendidos",
diz Yoel Esteron, editor do jornal "Calcalist". "Quase 100%
dos israelenses sentem que o
mundo é hipócrita. Onde estava o mundo quando nossas cidades foram alvejadas por foguetes por oito anos? Por que
deveríamos nos importar com
a opinião do mundo agora?"
Israel converteu-se nas últimas semanas num paradigma
de unidade e apoio mútuo. Pergunte a pessoas em qualquer
parte do país, hoje, sobre o fato
de o Exército ter barrado a entrada de jornalistas na faixa de
Gaza, e a resposta é "deixem o
Exército fazer seu trabalho".
Com ou sem razão, os israelenses acreditam que seus soldados se esforçam para poupar
vidas. Como seus combatentes
se escondem entre pessoas comuns, o Hamas é visto como
responsável pelas vítimas civis.
O Hamas está comprometido
com a causa da destruição de
Israel e recebe ajuda do Irã, de
modo que algo que, para o resto
do mundo, parece uma guerra
travada por escolha de Israel, é
vista por muitos israelenses como uma guerra obrigatória, em
defesa da existência do país.
Desânimo na minoria
É verdade que já se ouvem
em Israel vozes expressando o
receio de que a guerra já tenha
ultrapassado o tempo em que
poderia ser útil. Mas essa ainda
é uma visão nitidamente minoritária. Pesquisas de opinião
apontam que o apoio à guerra
ainda é de quase 90%.
"O Hamas fez o pensamento
israelense retroceder 30 anos.
Acabou com o campo pacifista", diz Boaz Gaon, dramaturgo
e ativista pela paz.
Moshe Halbertal, professor
de filosofia na Universidade
Hebraica, ajudou a redigir o código de ética do Exército. Ele
sabe quanta discussão foi investida em decidir quando é
aceitável atirar num alvo legítimo se há civis por perto. Acrescentou que houve vários fatos
nesta guerra em que ele desconfia que tenham sido tomadas decisões erradas.
Mas Halbertal leva a sério a
ameaça que o Hamas representa à existência de Israel, e essa
questão afeta as avaliações que
faz a respeito da guerra.
"Temos a Al Jazeera fazendo
plantão no hospital Shifa, e os
feridos não param de chegar.
Então você tem esse grande
Golias massacrando essas pobres pessoas, e elas são vistas
como vítimas. Mas, desde a
perspectiva israelense, Hamas
e Hizbollah são a ponta de lança
de uma ameaça muito maior.
Os israelenses se sentem como
o pequeno Davi diante de um
imenso Golias muçulmano."
Naturalmente, a guerra é retratada de maneiras distintas
em Israel e fora do país. O noticiário local focaliza o sofrimento de israelenses, e as imagens
de Gaza vêm depois.
Mas a imprensa israelense
apenas reflete a agenda nacional. Mesmo a esquerda e o campo pacifista atribuem o conflito
atual quase exclusivamente ao
Hamas, e, portanto, o veem como uma guerra moral e justa.
O escritor A. B. Yehoshua,
passou as últimas duas semanas tentando explicar a guerra
a estrangeiros.
""Imagine", digo a um repórter francês, "que a cada dois dias
um míssil caísse sobre a avenida Champs Elysées, apenas
quebrando as vitrines das lojas
e fazendo cinco pessoas sofrerem um choque'", disse Yehoshua ao jornal "Yedioth Aharonot". "O que você diria? Não ficaria furioso? Não dispararia
mísseis contra a Bélgica, se fosse ela a responsável?"
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