São Paulo, sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

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Justiça da Itália derruba blindagem total de Berlusconi

"Impedimento legítimo" permitia suspensão temporária de ações contra o premiê devido a compromisso oficial

Possibilidade depende agora de avaliação caso a caso por juiz; decisão é celebrada pela oposição e por aliados do premiê

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

A Suprema Corte da Itália derrubou ontem trecho de lei que garantia imunidade judicial ao premiê Silvio Berlusconi, na prática abrindo caminho para que processos contra o líder conservador sejam retomados no futuro.
A chamada "lei do impedimento legítimo" previa que o premiê pudesse declarar indisponibilidade de comparecer ao tribunal por compromissos referentes ao cargo, suspendendo por seis meses -renováveis por outras duas vezes- processos em curso.
Pela decisão da Suprema Corte, o premiê ainda poderá recorrer ao argumento, mas a suspensão dos processos vai depender da avaliação caso a caso pelo juiz responsável.
E a expectativa entre analistas é a de que em algum momento ações engavetadas que têm como alvo Berlusconi sejam reabertas por juízes que rejeitem sua alegação.
Em um dos processos parados, Berlusconi é acusado de subornar o advogado britânico David Mills para depor em seu favor em processo sobre seu império de mídia.
Em outro, o premiê responde por fraude fiscal num negócio envolvendo compra de direitos de TV por sua empresa Mediaset nos anos 90.
A decisão, no entanto, ficou a meio caminho entre a rejeição completa da lei aprovada no ano passado no Parlamento pela base governista, objetivo de juízes que tentam levar o premiê à Justiça e da oposição, e o aval a ela.
O julgamento, que teve o voto favorável de 12 dos 15 juízes, é o primeiro que não veta por completo leis que favorecem o líder conservador.
Na última delas, em 2009, a Corte havia considerado inconstitucional texto que dava imunidade completa aos quatro cargos de mais alto escalão do governo da Itália -dentre os quais o premiê.
A revogação do texto motivou o governo a promover a lei do impedimento legítimo -enquanto a base do governo busca forma de aprovar nova imunidade ao premiê.

REAÇÃO
A decisão da Corte de vetar apenas parcialmente a legislação foi comemorada pelo governo e pela oposição.
Os advogados de Berlusconi disseram em comunicado que a premissa geral da legislação havia sido reconhecida como "válida e efetiva, e isso é um motivo de satisfação".
O ministro da Justiça, Angelino Alfano, disse que a decisão mostra que até mesmo a Justiça reconheceu a peculiaridade do cargo de premiê.
Mas o líder de oposição Nichi Vendola disse que a Justiça rejeitou "o ato de arrogância" de Berlusconi. Para outros opositores, o julgamento restaura o princípio da igualdade dos cidadãos ante a lei.
O veto parcial à legislação ocorre em momento político conturbado para o premiê.
Em dezembro, Berlusconi superou por pequena margem -e contando com dissidentes da oposição- voto de desconfiança no Parlamento, promovido após movimento liderado pelo ex-aliado Gianfranco Fini, presidente da Câmara dos Deputados.
Um revés no episódio derrubaria o governo do líder conservador e poderia levar à convocação de eleições antecipadas. Eleito em 2008 -depois de já ter passado pelo cargo-, o premiê tem ainda dois anos de mandato.


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