São Paulo, sábado, 14 de fevereiro de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Enviado diz que divergência eleitoral pode alimentar violência

ONU expressa temor de guerra civil

DA REDAÇÃO

O enviado da ONU ao Iraque para avaliar a possibilidade de realizar eleições diretas neste ano alertou as autoridades iraquianas sobre os riscos de uma guerra civil. O argelino Lakhdar Brahimi concluiu que não há tempo hábil de organizar a votação até 30 de junho, data fixada pelos EUA para devolver a soberania aos iraquianos e se disse "incomodado e nervoso" com os debates acalorados em torno da questão.
"Tenho exortado os membros do Conselho de Governo Iraquiano e os iraquianos em toda parte a ter consciência de que as guerras civis não começam porque alguém chega e decide: "Hoje vou começar uma guerra civil'", disse Brahimi. "É porque as pessoas são descuidadas, egoístas, porque pensam mais em si do que no bem do país."
Majoritários no Iraque e por isso com grandes chances de vencer uma votação, os xiitas defendem a escolha do primeiro governo soberano pós-Saddam Hussein em eleições diretas. Em contrapartida, a minoria sunita, privilegiada pelo ex-ditador, se encontra num momento de extrema desorganização política com a extinção da principal entidade a representá-la, o partido Baath.
A ONU já sugeriu que o cronograma fosse revisto, mas os EUA não aceitam mudar a data.
Washington quer que as eleições ocorram em 2005, após a realização de um censo e a promulgação de uma nova Constituição -de 30 de junho até lá, um governo eleito em assembléias regionais ocuparia o poder.
Mas o principal líder xiita do país, o aiatolá Ali al Sistani, afirma que o modelo não é democrático. Perante o impasse, os EUA e o Conselho de Governo Iraquiano recorreram à ONU, que, embora defenda a realização das diretas, avaliou que a demanda do aiatolá é inviável por ora.
Os EUA temem que a violência sectária atrase o processo, sobretudo após a recente intercepção de uma carta supostamente assinada por um terrorista que opera no Iraque na qual ele pede ajuda à rede terrorista Al Qaeda para fomentar uma guerra civil.
Um novo relatório da Autoridade Provisória da Coalizão levanta os riscos de uma "balcanização" do Iraque -a institucionalização da violência a ponto de fragmentar a soberania e inviabilizar a reconstrução do país. O relatório atribui o crescimento da violência ao aumento das tensões sectárias.


Com agências internacionais e "Financial Times"

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