São Paulo, sábado, 14 de fevereiro de 2009

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Conservadores rejeitam novo tom com os EUA

DO ENVIADO A TEERÃ

A decisão do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, de aceitar a oferta americana de diálogo, "desde que com respeito mútuo", está dividindo os conservadores no país.
Militares na reserva, ex-combatentes na guerra contra o Iraque e jovens radicais conhecidos como "blogueiros do Hizbollah" discordam do novo tom e acham que qualquer iniciativa precisa ter alguma compensação concreta dos EUA.
"Algumas pessoas acham que este é o momento de resolver o problema com os EUA", disse à Folha o analista político Amir Mohebian. "Mas a hostilidade contra os EUA é parte de nossa identidade. Se resolvermos isso, podemos nos dissolver."
O político conservador Hamireza Taraghi diz que "a CIA continua a planejar um golpe contra a República Islâmica". "Mudou a tática, não a política dos EUA com o Irã."
O favorito para ser nomeado por Barack Obama como responsável pela negociação com o Irã, o ex-enviado ao Oriente Médio Denis Ross, foi chamado pelo jornal ultraconservador "Kayhan" de "pioneiro do lobby sionista nos EUA". "Se for mesmo nomeado, será um insulto", disse editorial.
Nos últimos 30 anos, os dois países não mantiveram relações, e há murais chamando os EUA de "Grande Satã" por toda a parte em Teerã. Ahmadinejad manteve uma violenta troca de acusações com o ex-presidente americano George W. Bush.
"Os líderes iranianos estão dando uma chance a Obama, mas precisa haver o fim da demonização, das sanções contra o Irã", diz Seyed Mohammad Marandi, diretor do Centro de Estudos Norte-Americanos da Universidade de Teerã. "Os americanos viraram nossos vizinhos ao invadir o Afeganistão e o Iraque, precisam do Irã."
As mudanças do tom na relação do governo ultraconservador com os EUA começaram em novembro. Ahmadinejad mandou inédita nota de saudações a Obama pela vitória.
Em janeiro, pela primeira vez desde 1979, a posse de um presidente americano foi transmitida pela TV iraniana.
Mas a obamamania tem limites. Uma revista foi fechada por colocar foto do casal Obama na capa, com a manchete "Por que o Irã não tem um Obama?".
"Só o aiatolá Khamenei [líder religioso supremo] tem o poder para decidir nossa relação com os EUA", diz o analista Mohebian. "Se os EUA mandarem sinais agressivos, terão resposta agressiva. Se forem suaves, o aiatolá será suave." (RJL)


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