São Paulo, domingo, 14 de fevereiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE

Verdadeiro teste começa após ofensiva

DEXTER FILKINS
DO "NEW YORK TIMES"

No cenário de intensos combates que se espera para os próximos dias em Helmand, ninguém duvida que as tropas estrangeiras e afegãs terminem por limpar de insurgentes o reduto rebelde de Marjah. E aí é que o verdadeiro teste começa.
Nos últimos oito anos, as forças da Otan e dos EUA realizaram outras operações militares para limpar cidades de insurgentes do Taleban. E então, quase invariavelmente, elas alcançaram o objetivo, mas nunca deixando soldados ou policiais suficientes para manter as cidades sob seu controle.
E então, quase sempre, o Taleban retornou -bem como, depois de um tempo, as tropas, para limpar o local de novo. Os soldados chamam isso ironicamente de "aparar a grama".
Desta vez, em Marjah, os comandantes militares dizem que irão fazer algo que nunca fizeram antes: trazer a força policial e o governo afegão atrás deles. Soldados americanos e britânicos ficarão como apoio.
A ideia é que Marjah sirva de protótipo para um novo tipo de operação militar, baseada na estratégia de contrainsurgência do comandante das forças dos EUA e da Otan no país, general Stanley McChrystal.
Mais do que em qualquer outra operação desde 2001, o cuidado em poupar as vidas de civis e em estabelecer a presença do Estado é maior do que o foco em matar insurgentes.
Os americanos e seus aliados querem capturar a área com um mínimo possível de violência e evitar uma repetição do que houve na retomada da cidade iraquiana de Fallujah, em novembro de 2004.
Lá, os americanos mataram muitos das centenas de insurgentes que controlavam a cidade, deixando-a destruída. Não fizeram muitos amigos. McChrystal quis deixar claro que Fallujah não é o modelo.
Agora, pela primeira vez, foi montada uma equipe de funcionários afegãos que, junto com um governador afegão, se mudará para Marjah no momento em que os combates cessarem. Mais de 1.900 policiais afegãos estão de prontidão.
Em um ponto de vista mais amplo, o ataque em Marjah é parte do esforço ambicioso de romper o poder do Taleban dentro de seus redutos.
Nos próximos meses, os americanos esperam assegurar as cidades de uma área de 320 km, em forma de ferradura, ao longo do rio Helmand, através de Candahar, até a fronteira com o Paquistão. A área compreende 85% da população das províncias de Candahar e Helmand, a base de apoio do Taleban. Milhares de soldados serão enviados para a região.
No fim das contas, as forças estrangeiras podem chegar apenas até certo ponto. O resto cabe aos afegãos. Nesse sentido, quem sairá vitorioso em Marjah pode não ficar claro ainda por muitos meses.


Texto Anterior: Otan inicia invasão de reduto do Taleban
Próximo Texto: Entrevista: "Sanções devem ser monitoradas"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.