São Paulo, sexta-feira, 14 de março de 2008

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Rice cobra combate ao terror na América do Sul

Secretária de Estado diz que "fronteiras não podem servir de abrigo" a criminosos

Em visita a Brasília, chefe da diplomacia dos EUA elogia papel brasileiro na crise regional e defende ação da aliada Colômbia contra Farc

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em claro recado à Venezuela e ao Equador, a secretária de Estado dos Estados Unidos, Condoleezza Rice, afirmou ontem em Brasília que as fronteiras dos países não podem servir de refúgio para atividades terroristas e cobrou responsabilidade na luta contra grupos organizados que "matam pessoas inocentes".
"Fronteiras são importantes, mas as fronteiras não podem se tornar meios pelos quais terroristas se escondem e se envolvem em atividades de matar civis", disse, sem citar diretamente a Venezuela e o Equador, em cujos territórios há a presença das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Os governos dos dois países são acusados por Bogotá de ter ligações com a guerrilha.
As Farc são classificadas como grupo terrorista pelos EUA e pela União Européia. O Brasil, como os demais países da América do Sul, evita a classificação.
"Há, afinal de contas, uma resolução das Nações Unidas em que todos os países se comprometeram a fazer tudo o que puderem para prevenir terroristas de utilizar ativamente seus territórios ou financiar o terror", afirmou Rice. Segundo ela, os EUA esperam "que todos os países responsáveis assumam essas obrigações".
O combate sem fronteiras a organizações terroristas faz parte da chamada Doutrina Bush, elaborada após os atentados do 11 de Setembro. Foi com base nessa doutrina, base da "guerra ao terror", que os EUA atacaram o Afeganistão e invadiram o Iraque.
A secretária norte-americana conversou tanto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Planalto, quanto com o chanceler Celso Amorim, no Itamaraty, sobre a crise aberta na América Latina depois que a Colômbia bombardeou um acampamento das Farc em território do Equador.
Colômbia e Equador selaram a paz numa reunião na sexta-feira passada na República Dominicana, mas continua em pauta a questão das Farc.
Uma comissão da OEA (Organização dos Estados Americanos) analisa a crise e prepara um relatório que será discutido na próxima segunda-feira, em Washington, por chanceleres da instância. Rice deve comparecer à reunião.
Ontem, ela afirmou que seu governo se preocupa com a tensão envolvendo a Colômbia e elogiou a atuação do governo brasileiro ao longo das negociações: "Estamos obviamente muito preocupados com a situação que veio à tona na região e apreciamos bastante os esforços que o presidente Lula e outros líderes da região fizeram para atingir a reconciliação e diminuir tensões."
Os EUA, aliados de Bogotá e financiadores do Plano Colômbia, de combate às Farc e ao narcotráfico, foram os únicos países do continente a apoiar a ação da Colômbia em território equatoriano. Os demais condenaram a violação do território do Equador -o princípio de inviolabilidade do território foi reafirmado pela OEA.

Conselho de Segurança
Segundo Amorim, os dois conversaram também sobre Oriente Médio e sobre a reformulação do Conselho de Segurança da ONU. Rice disse que os EUA defendem a reformulação, mas não se comprometeu com o apoio à pretensão do Brasil de conseguir um assento permanente no conselho -órgão com poder decisório.
Amorim então brincou que tinha sido ela quem havia puxado esse assunto na conversa e que ele lhe dissera que diria isso na entrevista. Ela riu: "Fui eu, fui eu".
Amorim elogiou as relações Brasil-EUA: "Nossa cooperação e nosso diálogo em temas internacionais tem sido muito amplo. Temos tido as melhores relações com os EUA em relação ao Oriente Médio, Haiti, OMC (Organização Mundial do Comércio)". Depois, ressalvou: "Na maior parte das vezes concordamos. Quando não concordamos integralmente, colocamos nosso ponto de vista com clareza, amizade e confiança".
Na sua rápida passagem por Brasília, antes de seguir para Salvador ainda ontem, Rice foi alvo de protestos. Em frente ao Itamaraty, um grupo da UNE (União Nacional dos Estudantes) exibia faixas de "fora Condoleezza Rice do Brasil", ao lado de militantes ambientais.


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