São Paulo, domingo, 14 de março de 2010

Próximo Texto | Índice

Lula visita Oriente Médio em momento tenso

Político chega a hoje a Israel após semana em que conflito com palestinos se acirrou por conta de novas construções em Jerusalém

Primeiro presidente brasileiro a fazer viagem ao país causa desconfiança por causa de posição a favor de diálogo com Irã, adversário de Israel


Marcelo Ninio/Folha Imagem
Menino exibe camiseta com montagem de Lula com lenço como o usado por Iasser Arafat em mercado da cidade velha de Jerusalém

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

Numa apresentação do Quinteto Villa-Lobos ocorrida há poucos dias em Jerusalém, um jovem casal israelense se surpreendeu ao ver cinco circunspectos músicos de aparência europeia subir no palco para executar peças clássicas de compositores brasileiros.
"Quem são esses cinco alemães?", cochichou a moça com seu acompanhante, refletindo a imagem de exotismo que o Brasil ainda tem entre a maioria de israelenses e palestinos.
No mesmo dia, na cidade palestina de Ramallah, um grupo de jovens jogava cartas no Café Brasil, um estabelecimento aberto em 1956, e duvidava da capacidade brasileira de ter influência na região. "Só se for no futebol", brincou um deles.
Quando desembarcar hoje em Israel para uma curta visita à região, que incluirá ainda territórios palestinos e Jordânia, o presidente Lula terá a chance de moldar essa imagem a seu favor e mostrar que o Brasil adquiriu peso suficiente na arena mundial para ter voz ativa também nos conflitos mais espinhosos do planeta.
Lula chega numa semana excepcionalmente quente, em que os termômetros devem rodear 30 graus em pleno inverno, e na qual Jerusalém será mais uma vez foco de tensões políticas. Na sexta-feira, Israel decretou bloqueio de 48 horas à Cisjordânia e colocou 3.000 policiais dentro e em volta da cidade velha de Jerusalém.
A batalha pela cidade se acirrou recentemente, com um movimento coordenado entre grupos palestinos de concentrar em Jerusalém os protestos contra a ocupação israelense da Cisjordânia.
Na última semana, o anúncio de que Israel irá construir mais 1.600 casas em Jerusalém Oriental, território em que os palestinos pretendem instalar um dia a capital de seu Estado, travou mais uma tentativa de retomar o processo de paz.
Além disso, criou um grande constrangimento para o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que visitava Israel no dia em que as polêmicas novas construções foram anunciadas. Irritado por ver desmoronar o esforço americano de reiniciar as negociações, Biden fez duras críticas públicas a Israel, num tom raramente visto nas íntimas relações entre os dois países.
Lula, portanto, começa a primeira visita de um presidente brasileiro à Terra Santa sob um clima de intenso pessimismo e desconfiança. Em Israel, territórios palestinos e Jordânia, será a primeira chance que o presidente terá de explicar a posição do Brasil sobre o conflito árabe-israelense exatamente em seu epicentro.
Um outro assunto que estará no alto da agenda é o Irã, sobretudo na parte israelense da visita. Na sexta-feira, o jornal "Haaretz" publicou uma elogiosa reportagem sobre o presidente, a quem chamou de "o profeta do diálogo", mas a maioria dos israelenses condena a insistência brasileira em dar uma chance ao Irã.


Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.