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Lula visita Oriente Médio em momento tenso
Político chega a hoje a Israel após semana em que conflito com palestinos se acirrou por conta de novas construções em Jerusalém
Primeiro presidente brasileiro
a fazer viagem ao país causa
desconfiança por causa de posição a favor de diálogo com Irã, adversário de Israel
Marcelo Ninio/Folha Imagem
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Menino exibe camiseta com montagem de Lula com lenço como o usado por Iasser Arafat em mercado da cidade velha de Jerusalém
MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM
Numa apresentação do
Quinteto Villa-Lobos ocorrida
há poucos dias em Jerusalém,
um jovem casal israelense se
surpreendeu ao ver cinco circunspectos músicos de aparência europeia subir no palco para
executar peças clássicas de
compositores brasileiros.
"Quem são esses cinco alemães?", cochichou a moça com
seu acompanhante, refletindo a
imagem de exotismo que o Brasil ainda tem entre a maioria de
israelenses e palestinos.
No mesmo dia, na cidade palestina de Ramallah, um grupo
de jovens jogava cartas no Café
Brasil, um estabelecimento
aberto em 1956, e duvidava da
capacidade brasileira de ter influência na região. "Só se for no
futebol", brincou um deles.
Quando desembarcar hoje
em Israel para uma curta visita
à região, que incluirá ainda territórios palestinos e Jordânia, o
presidente Lula terá a chance
de moldar essa imagem a seu
favor e mostrar que o Brasil adquiriu peso suficiente na arena
mundial para ter voz ativa também nos conflitos mais espinhosos do planeta.
Lula chega numa semana excepcionalmente quente, em
que os termômetros devem rodear 30 graus em pleno inverno, e na qual Jerusalém será
mais uma vez foco de tensões
políticas. Na sexta-feira, Israel
decretou bloqueio de 48 horas à
Cisjordânia e colocou 3.000
policiais dentro e em volta da
cidade velha de Jerusalém.
A batalha pela cidade se acirrou recentemente, com um
movimento coordenado entre
grupos palestinos de concentrar em Jerusalém os protestos
contra a ocupação israelense da
Cisjordânia.
Na última semana, o anúncio
de que Israel irá construir mais
1.600 casas em Jerusalém
Oriental, território em que os
palestinos pretendem instalar
um dia a capital de seu Estado,
travou mais uma tentativa de
retomar o processo de paz.
Além disso, criou um grande
constrangimento para o vice-presidente dos Estados Unidos,
Joe Biden, que visitava Israel
no dia em que as polêmicas novas construções foram anunciadas. Irritado por ver desmoronar o esforço americano de
reiniciar as negociações, Biden
fez duras críticas públicas a Israel, num tom raramente visto
nas íntimas relações entre os
dois países.
Lula, portanto, começa a primeira visita de um presidente
brasileiro à Terra Santa sob um
clima de intenso pessimismo e
desconfiança. Em Israel, territórios palestinos e Jordânia, será a primeira chance que o presidente terá de explicar a posição do Brasil sobre o conflito
árabe-israelense exatamente
em seu epicentro.
Um outro assunto que estará
no alto da agenda é o Irã, sobretudo na parte israelense da visita. Na sexta-feira, o jornal
"Haaretz" publicou uma elogiosa reportagem sobre o presidente, a quem chamou de "o
profeta do diálogo", mas a
maioria dos israelenses condena a insistência brasileira em
dar uma chance ao Irã.
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