São Paulo, domingo, 14 de março de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Nos esforçaremos para convencer do perigo do Irã, afirma israelense

DE JERUSALÉM

Israel espera que o Brasil tenha uma política "mais equilibrada" em relação ao Oriente Médio, diz a diretora para a América Latina do Ministério das Relações Exteriores israelense, Dorit Shavit. E se o governo brasileiro tem mesmo pretensões de ajudar a solucionar o conflito, é hora de apresentar suas ideias, diz ela. (MN)

 

FOLHA - O Brasil resiste a apoiar a pressão ao Irã. Lula pode ser convencido a mudar de posição?
DORIT SHAVIT
- Certamente nos esforçaremos para que isso aconteça. Todas as pessoas com quem o presidente Lula conversará em Israel falarão sobre o perigo iraniano. Os indícios são de que o Irã desenvolve não só um programa nuclear, mas armas atômicas. Diremos que, se os iranianos obtiverem armas atômicas, eles ameaçarão todo o Oriente Médio e o mundo, porque terá início uma corrida armamentista regional.

FOLHA - Que mal há em defender o diálogo, como faz o Brasil?
SHAVIT
- O presidente Lula recebeu [o presidente iraniano] Ahmadinejad em Brasília, pretende ir a Teerã em breve e continua defendendo o engajamento, mas até agora não vimos nenhuma vontade do Irã de se engajar. O tempo passa e o regime iraniano concentra todos os seus esforços em seu programa atômico, anuncia novas centrífugas e esconde suas atividades da AIEA [Agência Internacional de Energia Atômica]. Está claro que, por trás disso tudo, não há intenções pacíficas.

FOLHA - Em relação à negociação com os palestinos, como é possível avançar enquanto Israel mantém a ampliação de assentamentos?
SHAVIT
- Os palestinos não aceitaram o plano de partilha da ONU (1947), e naquela época não havia nenhum assentamento. Não acho que os assentamentos sejam um obstáculo à paz. Quando Israel assinou o acordo com o Egito, se retirou de todos os assentamentos. Quando decidiu sair de Gaza, fez o mesmo. Se e quando chegarmos a um acordo com os palestinos, também teremos que decidir qual será o destino dos assentamentos na Cisjordânia. O governo decidiu congelar a construção nos assentamentos na Cisjordânia por dez meses, mas deixou claro que isso não inclui Jerusalém, que é território israelense.

FOLHA - O Brasil pode ter um papel relevante?
SHAVIT
- O presidente Lula afirma que é preciso introduzir novos atores para gerar novas ideias. Nós estamos esperando, quem sabe o Brasil virá com uma ideia que ninguém pensou antes? Mas é preciso lembrar que a situação é muito complexa e não se parece com os conflitos na América Latina.

FOLHA - Apesar de sua aproximação com o mundo árabe, o Brasil pode ser um mediador neutro?
SHAVIT
- A visita do presidente Lula tem como objetivo fortalecer a relação bilateral entre Brasil e Israel. Ficamos felizes em saber que o Brasil concluiu a ratificação do acordo de livre comércio entre Israel e o Mercosul, que entrará em vigor no início de abril. Nosso objetivo nesta visita é fortalecer as relações e gerar mais equilíbrio.

FOLHA - Que tipo de influência o Brasil deveria ter?
SHAVIT
- Gostaríamos que o Brasil tivesse uma política mais equilibrada. Nós reconhecemos a influência e o peso do Brasil não só na América Latina, e um dos objetivos da diplomacia israelense nos próximos anos é a aproximação com os países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). Seria bom que houvesse mais cooperação do Brasil na área de segurança. A penetração do Irã na América Latina nos preocupa muito. Não podemos esquecer que o Irã foi responsável pelos dois atentados contra a comunidade judaica argentina nos anos 90 e até hoje ninguém foi preso, julgado ou condenado.


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Brasileiro se credenciou a ter papel relevante na região, diz palestino
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.