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Nos esforçaremos para convencer do perigo do Irã, afirma israelense
DE JERUSALÉM
Israel espera que o Brasil tenha uma política "mais equilibrada" em relação ao Oriente
Médio, diz a diretora para a
América Latina do Ministério
das Relações Exteriores israelense, Dorit Shavit. E se o governo brasileiro tem mesmo
pretensões de ajudar a solucionar o conflito, é hora de apresentar suas ideias, diz ela.
(MN)
FOLHA - O Brasil resiste a apoiar a
pressão ao Irã. Lula pode ser convencido a mudar de posição?
DORIT SHAVIT - Certamente nos
esforçaremos para que isso
aconteça. Todas as pessoas com
quem o presidente Lula conversará em Israel falarão sobre
o perigo iraniano. Os indícios
são de que o Irã desenvolve não
só um programa nuclear, mas
armas atômicas. Diremos que,
se os iranianos obtiverem armas atômicas, eles ameaçarão
todo o Oriente Médio e o mundo, porque terá início uma corrida armamentista regional.
FOLHA - Que mal há em defender o
diálogo, como faz o Brasil?
SHAVIT - O presidente Lula recebeu [o presidente iraniano]
Ahmadinejad em Brasília, pretende ir a Teerã em breve e continua defendendo o engajamento, mas até agora não vimos nenhuma vontade do Irã
de se engajar. O tempo passa e o
regime iraniano concentra todos os seus esforços em seu
programa atômico, anuncia novas centrífugas e esconde suas
atividades da AIEA [Agência
Internacional de Energia Atômica]. Está claro que, por trás
disso tudo, não há intenções
pacíficas.
FOLHA - Em relação à negociação
com os palestinos, como é possível
avançar enquanto Israel mantém a
ampliação de assentamentos?
SHAVIT - Os palestinos não
aceitaram o plano de partilha
da ONU (1947), e naquela época não havia nenhum assentamento. Não acho que os assentamentos sejam um obstáculo à
paz. Quando Israel assinou o
acordo com o Egito, se retirou
de todos os assentamentos.
Quando decidiu sair de Gaza,
fez o mesmo. Se e quando chegarmos a um acordo com os palestinos, também teremos que
decidir qual será o destino dos
assentamentos na Cisjordânia.
O governo decidiu congelar a
construção nos assentamentos
na Cisjordânia por dez meses,
mas deixou claro que isso não
inclui Jerusalém, que é território israelense.
FOLHA - O Brasil pode ter um papel
relevante?
SHAVIT - O presidente Lula
afirma que é preciso introduzir
novos atores para gerar novas
ideias. Nós estamos esperando,
quem sabe o Brasil virá com
uma ideia que ninguém pensou
antes? Mas é preciso lembrar
que a situação é muito complexa e não se parece com os conflitos na América Latina.
FOLHA - Apesar de sua aproximação com o mundo árabe, o Brasil pode ser um mediador neutro?
SHAVIT - A visita do presidente
Lula tem como objetivo fortalecer a relação bilateral entre
Brasil e Israel. Ficamos felizes
em saber que o Brasil concluiu
a ratificação do acordo de livre
comércio entre Israel e o Mercosul, que entrará em vigor no
início de abril. Nosso objetivo
nesta visita é fortalecer as relações e gerar mais equilíbrio.
FOLHA - Que tipo de influência o
Brasil deveria ter?
SHAVIT - Gostaríamos que o
Brasil tivesse uma política mais
equilibrada. Nós reconhecemos a influência e o peso do
Brasil não só na América Latina, e um dos objetivos da diplomacia israelense nos próximos
anos é a aproximação com os
países do Bric (Brasil, Rússia,
Índia e China). Seria bom que
houvesse mais cooperação do
Brasil na área de segurança. A
penetração do Irã na América
Latina nos preocupa muito.
Não podemos esquecer que o
Irã foi responsável pelos dois
atentados contra a comunidade
judaica argentina nos anos 90 e
até hoje ninguém foi preso, julgado ou condenado.
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