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"EIXO DO MAL"
Em Teerã, chefe da agência nuclear da ONU não convence líderes do país a congelar enriquecimento de urânio
"Morram de raiva", diz Irã ao Ocidente
ANNE PENKETH
ANGUS MCDOWALL
DO "INDEPENDENT", EM LONDRES E TEERÃ
O Irã manteve seu discurso de
desafio depois de o diretor da
Agência Internacional de Energia
Atômica (AIEA), Mohamed El
Baradei, exortar os líderes iranianos a cooperar, restringindo as
atividades delicadas que suscitaram as suspeitas de que o país teria a intenção de construir uma
bomba atômica.
El Baradei se mostrou circunspecto após reunir-se com especialistas nucleares iranianos em conversas cujo objetivo foi amainar a
crise suscitada em torno das ambições nucleares do Irã. Mas não
foram feitos avanços aparentes.
Ele confirmou que discutiu com
seus anfitriões iranianos uma
proposta da ONU para que o Irã
retome o congelamento do enriquecimento de urânio, mas o chefe dos negociadores nucleares iranianos, Ali Larijani, em entrevista
coletiva concedida conjuntamente com El Baradei, indicou que a
suspensão não é uma opção que
Teerã pretenda levar em conta.
Em declarações reproduzidas
pela agência de notícias oficial iraniana (IRNA), o presidente do
país, Mahmoud Ahmadinejad,
elevou o tom de desafio dos últimos dias. "Nossa resposta a quem
está irado pelo fato de o Irã obter
o ciclo nuclear total é uma frase
apenas: "Tenha raiva e morra dessa raiva'", disse ele. "Não vamos
conversar com ninguém sobre o
direito da nação iraniana (ao enriquecimento de urânio), e ninguém tem o direito de retroceder
um passo que seja."
El Baradei foi a Teerã enquanto
prepara o relatório sobre a obediência iraniana às exigências da
AIEA e da ONU, que ele vai entregar ao Conselho de Segurança da
ONU no final do mês. Se o Irã levar adiante sua postura de desafio, o país corre o risco de sofrer
pressão diplomática intensificada
da ONU, embora a Rússia e a China, aliadas do Irã no Conselho, se
mantenham firmes na postura
contrária à imposição de sanções.
Capítulo 7
A secretária de Estado dos EUA,
Condoleezza Rice, disse ontem
que a ONU deve considerar ações
contra o Irã com base no capítulo
7 de sua carta. Tal capítulo prevê
sanções políticas e econômicas e,
em último caso, ação militar, contra um país que não obedeça uma
resolução aprovada pela organização. "Estou certa de que nós
olharemos medidas que possam
ser tomadas para assegurar que o
Irã saiba que realmente não tem
alternativa, mas obedecer", disse
O enriquecimento de urânio é a
chave para o desenvolvimento de
combustível para um reator ou
para armas nucleares. Embora o
Irã afirme que suas intenções são
pacíficas, o anúncio feito na terça-feira de que seus cientistas já enriqueceram urânio motivou um coro de condenação internacional.
Até a Rússia e a China exortaram
Teerã a retomar o congelamento
do trabalho de enriquecimento.
As estimativas variam quanto
ao tempo que o Irã levaria para
produzir uma bomba nuclear,
que requer urânio enriquecido
em 90%, algo que levará pelo menos dois anos para ser obtido.
El Baradei disse que os inspetores da AIEA "não observaram nenhum desvio de material nuclear
para finalidades militares, mas o
quadro ainda não está muito claro". E lembrou que por 20 anos o
Irã não foi transparente quanto à
extensão plena de suas atividades.
O chefe da AIEA também conversou com Gholamreza Aghazadeh, diretor do programa nuclear
iraniano, mas não se reuniu com
o presidente Mahmoud Ahmadinejad nem com o líder espiritual
do Irã, o aiatolá Ali Khamenei,
que tem autoridade sobre o programa nuclear, que se tornou motivo de orgulho nacional no Irã.
Com agências internacionais
Tradução de Clara Allain
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