São Paulo, sexta-feira, 14 de abril de 2006

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"EIXO DO MAL"

Em Teerã, chefe da agência nuclear da ONU não convence líderes do país a congelar enriquecimento de urânio

"Morram de raiva", diz Irã ao Ocidente

ANNE PENKETH
ANGUS MCDOWALL
DO "INDEPENDENT", EM LONDRES E TEERÃ

O Irã manteve seu discurso de desafio depois de o diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Mohamed El Baradei, exortar os líderes iranianos a cooperar, restringindo as atividades delicadas que suscitaram as suspeitas de que o país teria a intenção de construir uma bomba atômica.
El Baradei se mostrou circunspecto após reunir-se com especialistas nucleares iranianos em conversas cujo objetivo foi amainar a crise suscitada em torno das ambições nucleares do Irã. Mas não foram feitos avanços aparentes.
Ele confirmou que discutiu com seus anfitriões iranianos uma proposta da ONU para que o Irã retome o congelamento do enriquecimento de urânio, mas o chefe dos negociadores nucleares iranianos, Ali Larijani, em entrevista coletiva concedida conjuntamente com El Baradei, indicou que a suspensão não é uma opção que Teerã pretenda levar em conta.
Em declarações reproduzidas pela agência de notícias oficial iraniana (IRNA), o presidente do país, Mahmoud Ahmadinejad, elevou o tom de desafio dos últimos dias. "Nossa resposta a quem está irado pelo fato de o Irã obter o ciclo nuclear total é uma frase apenas: "Tenha raiva e morra dessa raiva'", disse ele. "Não vamos conversar com ninguém sobre o direito da nação iraniana (ao enriquecimento de urânio), e ninguém tem o direito de retroceder um passo que seja."
El Baradei foi a Teerã enquanto prepara o relatório sobre a obediência iraniana às exigências da AIEA e da ONU, que ele vai entregar ao Conselho de Segurança da ONU no final do mês. Se o Irã levar adiante sua postura de desafio, o país corre o risco de sofrer pressão diplomática intensificada da ONU, embora a Rússia e a China, aliadas do Irã no Conselho, se mantenham firmes na postura contrária à imposição de sanções.

Capítulo 7
A secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, disse ontem que a ONU deve considerar ações contra o Irã com base no capítulo 7 de sua carta. Tal capítulo prevê sanções políticas e econômicas e, em último caso, ação militar, contra um país que não obedeça uma resolução aprovada pela organização. "Estou certa de que nós olharemos medidas que possam ser tomadas para assegurar que o Irã saiba que realmente não tem alternativa, mas obedecer", disse
O enriquecimento de urânio é a chave para o desenvolvimento de combustível para um reator ou para armas nucleares. Embora o Irã afirme que suas intenções são pacíficas, o anúncio feito na terça-feira de que seus cientistas já enriqueceram urânio motivou um coro de condenação internacional. Até a Rússia e a China exortaram Teerã a retomar o congelamento do trabalho de enriquecimento.
As estimativas variam quanto ao tempo que o Irã levaria para produzir uma bomba nuclear, que requer urânio enriquecido em 90%, algo que levará pelo menos dois anos para ser obtido.
El Baradei disse que os inspetores da AIEA "não observaram nenhum desvio de material nuclear para finalidades militares, mas o quadro ainda não está muito claro". E lembrou que por 20 anos o Irã não foi transparente quanto à extensão plena de suas atividades.
O chefe da AIEA também conversou com Gholamreza Aghazadeh, diretor do programa nuclear iraniano, mas não se reuniu com o presidente Mahmoud Ahmadinejad nem com o líder espiritual do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, que tem autoridade sobre o programa nuclear, que se tornou motivo de orgulho nacional no Irã.


Com agências internacionais

Tradução de Clara Allain


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