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ARTIGO
Entre persas, árabes e israelenses
ROULA KHALAF
DO "FINANCIAL TIMES"
A nova abordagem de Barack
Obama em relação a Teerã começa a emergir -antes até de a
revisão plena ser concluída-, e
a mudança parece drástica.
Considerem três recentes
decisões: primeiro, o presidente dos EUA adotou um tom respeitoso, que sinaliza que a "mudança de regime" deixou de ser
um objetivo dos EUA.
Segundo, ele deixou claro
que quer o Irã envolvido em
questões que sejam causa comum de preocupação, sobretudo no Afeganistão. No espírito
dessa colaboração, Washington
convidou funcionários de Teerã para a recente conferência
sobre o Afeganistão em Haia.
Terceiro, e principal, é a decisão dos EUA de se unirem às
demais potências mundiais na
oferta de retomar as negociações nucleares com o Irã -e, ao
menos por enquanto, sem condicioná-la ao fim do enriquecimento de urânio por Teerã.
Claro que o objetivo dos EUA
ainda é o mesmo: Washington
quer impedir Teerã de adquirir
armas nucleares e usar seu poderio político e militar para solapar os interesses ocidentais.
A meta final do Irã tampouco
mudou: garantir a aceitação de
seu programa nuclear e o status
de potência regional. Mas, após
30 anos de hostilidade entre os
dois países, não se deve subestimar tais passos.
Embora as reações de Teerã
não sejam 100% encorajadoras,
as decisões da Casa Branca tiveram impacto sutil: abrir o debate dentro do regime iraniano
antes da eleição presidencial de
junho e lançar pressão sobre
Teerã por uma resposta à altura. Com o tempo, elas darão às
forças moderadas no país munição para se fazer ouvir.
Outros atores
Neste primeiro estágio, porém, Washington tem dois outros atores a considerar enquanto se esforça para promover uma distensão com Teerã.
O primeiro são seus aliados
árabes, que temem a influência
crescente do Irã no golfo Pérsico e a possibilidade de os iranianos interferirem em causas
que consideram como suas, sobretudo o conflito árabe-israelense. Esses aliados presumem
que melhores laços entre Washington e Teerã enfraqueceriam seus elos com os EUA.
O relacionamento entre o Irã
e o mundo árabe está piorando.
Em março, Marrocos cortou
relações com Teerã, alegando
que os iranianos buscam difundir o islã xiita entre a maioria
muçulmana sunita do país.
Mais bizarra é uma investigação do Egito sobre um grupo
supostamente ligado ao Hizbollah, grupo libanês apoiado pelo
Irã, e suspeito de planejar ataques contra seu território.
Mas os países árabes podem
ser convencidos dos méritos de
um diálogo entre EUA e Irã.
Mais complicado é Israel, dono do único arsenal nuclear do
Oriente Médio (não declarado),
mas que ainda assim se sente
vulnerável. Enquanto os EUA
agem sob a suposição de que o
Irã atua de forma racional, o
novo governo israelense vê na
liderança em Teerã um "culto
messiânico apocalíptico", como disse o premiê Binyamin
Netanyahu à revista "Atlantic".
Israel aposta que a aproximação com o Irã fracassará e que o
mundo apoiará sanções econômicas muito mais punitivas ou
uma ação militar para destruir
instalações militares do rival.
Assim, devemos esperar que,
a cada passo, o governo Obama
enfrente mais procrastinação
de Teerã, impaciência de Israel
e ansiedade entre os árabes.
Será preciso perseverar e enviar uma mensagem clara aos
aliados árabes de que eles não
devem temer a distensão dos
EUA com o Irã, bem como uma
severa advertência a Israel contra uma eventual aventura militar lançada isoladamente.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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