São Paulo, quarta-feira, 14 de abril de 2010

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Obama não cede a apelo de Lula sobre o Irã

Após reunião na qual brasileiro defendeu continuidade de diálogo com Teerã, presidente dos EUA insiste na pressão por sanções

Departamento de Estado diz que se pode até discutir o teor das punições, mas que hora é de agir; Brasil seguirá busca por saída negociada


Ricardo Stuckert/Presidência da República
Líderes de 47 países posam para foto oficial de Cúpula de Segurança Nuclear, em Washington; Obama diz que resolução contra Irã será votada em poucas semanas

ANDREA MURTA
DE WASHINGTON
CRISTINA FIBE
ENVIADA ESPECIAL A WASHINGTON

Momentos após ouvir proposta do colega brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, defendendo a continuidade da negociação com o Irã, o presidente dos EUA, Barack Obama, insistiu ontem na defesa de sanções duras e imediatas da ONU contra o país persa devido a seu programa nuclear. A conversa ocorreu às margens da Cúpula de Segurança Nuclear, que reuniu 47 líderes mundiais em Washington.
Obama teve uma reunião trilateral não programada com Lula e o primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, a pedido dos dois governantes. Lula e Erdogan haviam discutido uma proposta alternativa a sanções anteontem, e decidiram conversar com Obama para defendê-la. O encontro, de cerca de 15 minutos, ocorreu logo após uma reunião bilateral oficial entre EUA e Turquia na tarde de ontem.
"Brasil e Turquia acreditam que sanções tendem a endurecer posições", disse ontem o chanceler Celso Amorim. "Todos compartilham do desejo de evitar usos militares da energia nuclear. Mas acreditamos que ainda é possível uma solução negociada e pedimos que se dê uma chance a esse esforço."
Segundo Amorim, Obama "não foi categórico". "Creio que a visão dos EUA é a de que muita coisa já foi tentada [em vão], mas Obama não disse ser contra mais negociações."
Pouco depois da reunião com Lula, entretanto, Obama disse a jornalistas no encerramento da cúpula que pretende "ir adiante [com sanções] com coragem e rapidamente". "Acho que muitos países do Conselho de Segurança da ONU acreditam que essa é a coisa certa a fazer", completou.
Os EUA afirmam que alcançar uma resolução sobre uma quarta rodada de sanções do Conselho de Segurança da ONU contra o Irã é questão de semanas.
Ontem, Obama reiterou que "os chineses já enviaram um representante para negociar a elaboração de uma resolução [contra o Irã]". Pequim, com poder de veto no conselho, vinha sendo o maior entrave para a aprovação das sanções.
"Sabemos que muitos países têm relações comerciais com o Irã. Mas o que disse ao presidente Hu [Jintao, da China] e a outros líderes é que palavras têm que significar algo. [A intenção] é isolar países que rompam seus compromissos internacionais", declarou.
O Departamento de Estado afirmou que se pode até discutir o teor das sanções, mas "é hora de agir".
Apesar da intransigência americana, o Brasil pretende continuar a discutir a solução negociada com outros líderes ainda nesta semana: os presidentes de China e Rússia virão ao Brasil para participar de cúpula do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), a partir de sexta-feira, e o chanceler turco, Ahmet Davutoglu, será recebido em Brasília no sábado. "Não precisamos pedir licença a Obama para fazer o que estamos fazendo."
Amorim já havia discutido o tema com Davutoglu, anteontem à noite. Ele também se reuniu com o colega britânico, David Miliband.
Já Lula se reuniu ontem com o presidente francês, Nicolas Sarkozy, que apoia sanções, e com o premiê canadense, Stephen Harper.
O chanceler brasileiro disse que Lula não falou sobre pontos técnicos de uma proposta alternativa com Obama. O Brasil vem defendendo, porém, o uso da Turquia como intermediária para a troca de urânio pouco enriquecido do Irã por urânio altamente enriquecido de outros países, de forma a evitar que Teerã possua estoque suficiente do material para produzir a bomba.
A posição contra as sanções pode acabar isolando Brasil e Turquia, que atualmente ocupam assentos rotativos no conselho. Ontem, segundo a imprensa argentina, a presidente Cristina Kirchner usou como argumento para insistir em ter um encontro bilateral com Obama o fato de "não compartilhar da posição do Brasil quanto às sanções".

TNP
Lula falou à cúpula defendendo a observância brasileira de tratados internacionais -o Brasil não assinou o Protocolo Adicional do Tratado de Não Proliferação, que facilita inspeções de instalações nucleares dos signatários pela AIEA (agência atômica da ONU), e sofre pressões a respeito. Em documento que o Brasil distribuiu na cúpula, o país defende a prioridade ao desarmamento das potências nucleares.


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