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São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 2003

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ELEIÇÕES NA ARGENTINA

Informada por menemistas, imprensa anuncia a desistência, mas o candidato só deverá se pronunciar hoje

"Renúncia" de Menem vira pantomima

Ali Burafi/France Presse
O ex-presidente Carlos Menem, que teria desistido de concorrer no segundo turno das eleições para a presidência da Argentina


CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

O ex-presidente Carlos Saúl Menem anuncia hoje, na sua Província natal de La Rioja (Noroeste argentino), se vai ou não disputar o segundo turno da eleição presidencial argentina.
Foi o próprio Menem que informou a seus fiéis, concentrados em frente ao hotel Presidente, QG menemista, que a decisão sobre sua candidatura seria tomada hoje. Mas acrescentou uma frase que pode indicar que não renunciará:
"Não vou decepcioná-los".
A frase foi pronunciada por volta de 23h15, de uma janela do Presidente e, se de fato significar a permanência do ex-presidente na disputa, contrariará todas as informações disponíveis que apontam para a renúncia.
Ontem, durante o dia todo, o rumor da renúncia já dominara o cenário político e midiático, mas não houve confirmação nem desmentido oficial, salvo a frase de Menem que pode ter mais de uma interpretação.
Se a renúncia de fato ocorrer, automaticamente se torna presidente seu rival, o também peronista Néstor Kirchner. A pantomima em que se transformou a campanha menemista ganha um ingrediente adicional quando se sabe que, hoje, dia 14 de maio, é a data em que Menem venceu as duas eleições presidenciais que disputou, em 1989 e 1995.
Há portanto um elemento cabalístico no anúncio a ser feito hoje, seja qual for.
O rumor da renúncia nasceu de informações saídas do coração da campanha do ex-presidente Carlos Saúl Menem e foi assumido como fato por todos os meios de comunicação locais.
O endereço na Internet do jornal menemista "Ámbito Financiero" chegou a divulgar a carta de renúncia de Menem. Mas o texto foi desmentido pelo porta-voz do ex-presidente, que, no entanto, não negou nem confirmou a renúncia.
A única voz semi-oficial a dizer que o ex-presidente abandonara a candidatura foi Diego Guellar, embaixador de Menem no Brasil.
Além disso, Menem suspendeu todos os atos de campanha previstos para ontem, entre eles uma exposição justamente diante dos editores de jornais da Argentina.
A única aparição pública do ex-presidente foi em audiência com o presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), Enrique Iglesias.
Depois, Menem recolheu-se à sua suíte no nono andar do Hotel Presidente, da qual só sairia pouco depois de 21 h, para saudar pela primeira vez os seus seguidores, concentrados na avenida Cerrito, a lateral da Nueve de Julio, que os argentinos chamam de "a maior do mundo".
Menem, 72 anos, dois mandatos como presidente, entre 1989 e 99, foi o mais votado no primeiro turno das eleições, disputado no dia 27 de abril, quando obteve 4,7 milhões de votos ou 24,45% do total, 2,2 pontos percentuais à frente de Néstor Kirchner, 53 anos, três vezes governador da Província de Santa Cruz.
Mas as pesquisas para o turno final davam a Kirchner no mínimo 30 pontos de vantagem sobre Menem, o que tornava plausível o rumor da renúncia.
Se o ex-presidente de fato renunciar, Kirchner poderá tomar posse no dia 25 de maio, tal como previsto, mas sem precisar passar, no domingo, pelo segundo turno.

"Nem pensar"
Havia rumores sobre a renúncia de Menem desde que se conheceram os números do primeiro turno, mas eles se tornaram muito fortes a partir da segunda-feira. Menem negou que pretendesse desistir. "Nem pensar", afirmou o ex-presidente em comício na noite de segunda-feira.
Ainda assim, o rumor ressurgiu a partir do meio-dia de ontem.
Era um rumor tão forte que o adversário de Menem, Néstor Kirchner, chegou a se preparar para uma entrevista coletiva em que comentaria a desistência do rival e a sua vitória antecipada.
Mas o tempo foi passando, sem a confirmação oficial da renúncia, e quem acabou falando aos jornalistas foi Miguel Núñez, o porta-voz de Kirchner, para dizer que o espetáculo oferecido pelo ex-presidente havia sido "vergonhoso".
O suspense tende a continuar hoje, pelo menos por algum tempo, porque, segundo Alberto Kohan, que é, talvez, o político mais próximo do ex-presidente, ao informar que Menem anunciaria sua decisão hoje, acrescentou que ela ainda não estava tomada.


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