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MISSÃO NO CARIBE
Analistas avaliam que novo presidente terá de implementar ações imediatas para apaziguar população
Com desafio à frente, Préval assume a Presidência do Haiti
CAROLINA VILA-NOVA
DA REDAÇÃO
René Préval, 63, assume hoje a
Presidência do Haiti com o desafio de implementar de imediato
medidas que respondam às altas
expectativas de uma população
que compareceu em massa às urnas para elegê-lo. Préval terá nas
mãos cofres públicos esvaziados e
um Estado de estruturas falidas.
A ONU e especialistas avaliam
que os primeiros meses do novo
governo serão cruciais para que o
país comece a emergir do ciclo de
violência, polarização política e
crise econômica. Segundo eles,
Préval terá pouco tempo e muita
pressão para apresentar resultados -mas poderá se beneficiar
do clima de otimismo gerado pelo
sucesso das eleições e da melhora
recente das condições de segurança na capital, Porto Príncipe.
"O maior desafio são, de um lado, as expectativas muito altas das
pessoas que o elegeram para que
haja uma melhora em suas vidas.
O estado do país é desesperador.
Obviamente é necessário muito
tempo para reconstruir o Haiti.
Mas tem de haver uma resposta
imediata e visível, senão as pessoas vão ficar descontentes", disse
à Folha o porta-voz da Missão de
Estabilização da ONU no Haiti
(Minustah), David Wimhurst.
"Por outro lado, não há dinheiro, o Tesouro está vazio. Então há
o desafio dos doadores internacionais de se comprometerem rapidamente em ajudar o novo governo com recursos para fazer
coisas imediatas. Há chances de
um começo muito bom, mas a
lua-de-mel vai ser muito curta se
não houver esse apoio."
Avaliação semelhante é feita pela ONG International Crisis
Group (ICG), que nesta semana
publicou relatório em que lista
medidas urgentes -e hercúleas- a serem adotadas nos primeiros cem dias de mandato.
Uma delas é resolver a crise de
suprimento de eletricidade na capital -sem fontes de combustível, não há produção de energia.
Na questão de segurança, o relatório aponta como prioridade um
plano de desarmamento de gangues armadas -detentoras de
parte das 20 mil armas ilegais em
circulação do país-, aliado a
uma intervenção mais pesada nas
regiões mais pobres.
"Para lidar com as ameaças de
elementos do crime organizado e
narcotraficantes, a Polícia Nacional Haitiana precisa ser reformada, profissionalizada e fortalecida", diz o texto. "Uma prioridade
será purgá-la dos oficiais corruptos e quebrar as células policiais
com ligações com elementos criminais e facções políticas."
Mark Schneider, vice-presidente sênior da ICG, defende ainda
uma reformulação do mandato
da Minustah, cujo comando militar está a cargo do general brasileiro José Elito Siqueira, à frente
de 7.500 homens.
"Definitivamente, tem de haver
uma revisão da missão. Lembre-se de que a missão original foi
criada para dar apoio ao governo
de transição, e agora há um governo eleito, então eles terão de ver
como administrar esse novo relacionamento", disse à Folha.
E, a fim de aprovar qualquer
medida, Préval terá antes de costurar alianças em um Parlamento
multipartidário, já que seu partido, o Lespwa, apesar de ter obtido
uma base parlamentar forte, não
goza de maioria.
Intervenção
Eleito em 7 de fevereiro, Préval
só foi declarado vitorioso após intervenção do governo brasileiro,
que sugeriu a anulação da contagem de votos brancos e nulos, sob
suspeita de fraude, para evitar um
recrudescimento da violência.
A pergunta óbvia é: tudo isso é
factível? A resposta: "Préval vai
conseguir começar tudo, se assim
ele decidir. E ele tem muito apoio
para fazê-lo", afirma Schneider.
"A diferença agora é que há um
reconhecimento por parte da
oposição de que não é do interesse deles tentar bloquear tudo. Eles
reconhecem que precisam encontrar maneiras de cooperar, fazer
suas recomendações avançarem e
superar as divisões", disse.
"E talvez haja uma sensação generalizada de que essa possa ser a
última chance de o Haiti obter
cooperação."
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