São Paulo, domingo, 14 de maio de 2006

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MISSÃO NO CARIBE

Analistas avaliam que novo presidente terá de implementar ações imediatas para apaziguar população

Com desafio à frente, Préval assume a Presidência do Haiti

CAROLINA VILA-NOVA
DA REDAÇÃO

René Préval, 63, assume hoje a Presidência do Haiti com o desafio de implementar de imediato medidas que respondam às altas expectativas de uma população que compareceu em massa às urnas para elegê-lo. Préval terá nas mãos cofres públicos esvaziados e um Estado de estruturas falidas.
A ONU e especialistas avaliam que os primeiros meses do novo governo serão cruciais para que o país comece a emergir do ciclo de violência, polarização política e crise econômica. Segundo eles, Préval terá pouco tempo e muita pressão para apresentar resultados -mas poderá se beneficiar do clima de otimismo gerado pelo sucesso das eleições e da melhora recente das condições de segurança na capital, Porto Príncipe.
"O maior desafio são, de um lado, as expectativas muito altas das pessoas que o elegeram para que haja uma melhora em suas vidas. O estado do país é desesperador. Obviamente é necessário muito tempo para reconstruir o Haiti. Mas tem de haver uma resposta imediata e visível, senão as pessoas vão ficar descontentes", disse à Folha o porta-voz da Missão de Estabilização da ONU no Haiti (Minustah), David Wimhurst.
"Por outro lado, não há dinheiro, o Tesouro está vazio. Então há o desafio dos doadores internacionais de se comprometerem rapidamente em ajudar o novo governo com recursos para fazer coisas imediatas. Há chances de um começo muito bom, mas a lua-de-mel vai ser muito curta se não houver esse apoio."
Avaliação semelhante é feita pela ONG International Crisis Group (ICG), que nesta semana publicou relatório em que lista medidas urgentes -e hercúleas- a serem adotadas nos primeiros cem dias de mandato.
Uma delas é resolver a crise de suprimento de eletricidade na capital -sem fontes de combustível, não há produção de energia.
Na questão de segurança, o relatório aponta como prioridade um plano de desarmamento de gangues armadas -detentoras de parte das 20 mil armas ilegais em circulação do país-, aliado a uma intervenção mais pesada nas regiões mais pobres.
"Para lidar com as ameaças de elementos do crime organizado e narcotraficantes, a Polícia Nacional Haitiana precisa ser reformada, profissionalizada e fortalecida", diz o texto. "Uma prioridade será purgá-la dos oficiais corruptos e quebrar as células policiais com ligações com elementos criminais e facções políticas."
Mark Schneider, vice-presidente sênior da ICG, defende ainda uma reformulação do mandato da Minustah, cujo comando militar está a cargo do general brasileiro José Elito Siqueira, à frente de 7.500 homens.
"Definitivamente, tem de haver uma revisão da missão. Lembre-se de que a missão original foi criada para dar apoio ao governo de transição, e agora há um governo eleito, então eles terão de ver como administrar esse novo relacionamento", disse à Folha.
E, a fim de aprovar qualquer medida, Préval terá antes de costurar alianças em um Parlamento multipartidário, já que seu partido, o Lespwa, apesar de ter obtido uma base parlamentar forte, não goza de maioria.

Intervenção
Eleito em 7 de fevereiro, Préval só foi declarado vitorioso após intervenção do governo brasileiro, que sugeriu a anulação da contagem de votos brancos e nulos, sob suspeita de fraude, para evitar um recrudescimento da violência.
A pergunta óbvia é: tudo isso é factível? A resposta: "Préval vai conseguir começar tudo, se assim ele decidir. E ele tem muito apoio para fazê-lo", afirma Schneider.
"A diferença agora é que há um reconhecimento por parte da oposição de que não é do interesse deles tentar bloquear tudo. Eles reconhecem que precisam encontrar maneiras de cooperar, fazer suas recomendações avançarem e superar as divisões", disse.
"E talvez haja uma sensação generalizada de que essa possa ser a última chance de o Haiti obter cooperação."


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