|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Soldado relembra dia do atentado
DO ENVIADO A NOVA YORK
Uma placa colocada pela Autoridade Portuária de Nova York e
Nova Jersey, que administra o
Ground Zero, pede que as pessoas
não comprem objetos vendidos
ali, em respeito ao lugar onde perderam a vida quase 3.000 pessoas.
Está na cerca que envolve a cratera pavimentada de 65 mil m2, na
qual operários esperam ordens
para começarem a trabalhar para
valer.
Na direção da placa, dentro do
cercado, um caminhão da Coca-Cola abre suas portas laterais para
abastecer a tropa de refrigerantes.
O trabalho mais pesado que fazem hoje em dia é reforçar a estrutura da parte do túnel da linha de
metrô que vai receber as fundações da Freedom Tower, algum
dia. "É uma pena o que está acontecendo aqui", diz o primeiro-tenente Aaron Lefton, do Exército
norte-americano.
A pedido da Folha, o militar reconstituiu sua trajetória desde
aquele dia. Errática e cheia de incertezas, é parecida com a do terreno que ele visita nessa manhã
fresca da semana passada. "Cinco
anos seria mais do que suficiente
para a reconstrução pelo menos
parcial", diz Lefton.
O soldado se lembra bem do
que fazia na manhã de 11 de setembro de 2001, o equivalente de
sua geração à pergunta "O que você fazia quando Kennedy foi assassinado?".
"Eu trabalhava de operador de
rádio da CBS. Assim que ouvi as
notícias, corri ao posto mais próximo da Guarda Nacional e me
apresentei."
Esse posto é o da avenida Lexington, o 69º Regimento Armado, mais próximo e o primeiro a
responder aos ataques daquele
dia. "Havia filas de pessoas se alistando, não só aqui, mas também
na polícia, entre os bombeiros,
em todos os lugares", relembra.
No dia seguinte, Lefton recorda o
comandante mudando o lema do
regimento para "Never Forget,
Never Forgive" (nunca esqueça,
nunca perdoe).
Nas semanas seguintes, Lefton
foi destacado para trabalhar no
patrulhamento das estações de
metrô da cidade. Logo foi convocado para West Point, "para treinamento numa missão secreta",
conta, entre risos, no que viria a
ser a Operation Iraqi Freedom, ou
a invasão anglo-americana do
Iraque.
Apesar de ter treinado numa divisão de tanques, o militar chegou
à base militar do ex-Aeroporto
Internacional de Bagdá na infantaria, comandando um grupo de
soldados tão novos quanto ele.
Um colega morreu.
Onze meses depois, ele estava
de volta. Agora, mora no Bronx,
com a namorada, "que acha essa
guerra uma bobagem". E ele? Já
não sabe mais. Só sabe que quer
algo construído aqui. "Para lembrar", diz.
(SÉRGIO DÁVILA)
Texto Anterior: EUA: Passados 5 anos, destino do WTC é incerto Próximo Texto: Sociedade: Celebridades e líderes políticos se engajam em nova "onda verde" Índice
|