São Paulo, domingo, 14 de maio de 2006

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Soldado relembra dia do atentado

DO ENVIADO A NOVA YORK

Uma placa colocada pela Autoridade Portuária de Nova York e Nova Jersey, que administra o Ground Zero, pede que as pessoas não comprem objetos vendidos ali, em respeito ao lugar onde perderam a vida quase 3.000 pessoas. Está na cerca que envolve a cratera pavimentada de 65 mil m2, na qual operários esperam ordens para começarem a trabalhar para valer.
Na direção da placa, dentro do cercado, um caminhão da Coca-Cola abre suas portas laterais para abastecer a tropa de refrigerantes. O trabalho mais pesado que fazem hoje em dia é reforçar a estrutura da parte do túnel da linha de metrô que vai receber as fundações da Freedom Tower, algum dia. "É uma pena o que está acontecendo aqui", diz o primeiro-tenente Aaron Lefton, do Exército norte-americano.
A pedido da Folha, o militar reconstituiu sua trajetória desde aquele dia. Errática e cheia de incertezas, é parecida com a do terreno que ele visita nessa manhã fresca da semana passada. "Cinco anos seria mais do que suficiente para a reconstrução pelo menos parcial", diz Lefton.
O soldado se lembra bem do que fazia na manhã de 11 de setembro de 2001, o equivalente de sua geração à pergunta "O que você fazia quando Kennedy foi assassinado?".
"Eu trabalhava de operador de rádio da CBS. Assim que ouvi as notícias, corri ao posto mais próximo da Guarda Nacional e me apresentei."
Esse posto é o da avenida Lexington, o 69º Regimento Armado, mais próximo e o primeiro a responder aos ataques daquele dia. "Havia filas de pessoas se alistando, não só aqui, mas também na polícia, entre os bombeiros, em todos os lugares", relembra. No dia seguinte, Lefton recorda o comandante mudando o lema do regimento para "Never Forget, Never Forgive" (nunca esqueça, nunca perdoe).
Nas semanas seguintes, Lefton foi destacado para trabalhar no patrulhamento das estações de metrô da cidade. Logo foi convocado para West Point, "para treinamento numa missão secreta", conta, entre risos, no que viria a ser a Operation Iraqi Freedom, ou a invasão anglo-americana do Iraque.
Apesar de ter treinado numa divisão de tanques, o militar chegou à base militar do ex-Aeroporto Internacional de Bagdá na infantaria, comandando um grupo de soldados tão novos quanto ele. Um colega morreu.
Onze meses depois, ele estava de volta. Agora, mora no Bronx, com a namorada, "que acha essa guerra uma bobagem". E ele? Já não sabe mais. Só sabe que quer algo construído aqui. "Para lembrar", diz. (SÉRGIO DÁVILA)


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