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SOCIEDADE
Al Gore vira ícone de movimento e astro de filme
Celebridades e líderes políticos se engajam em nova "onda verde"
RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL
Derrotado por George W. Bush
e pela Corte Suprema americana
em 2000, o ex-vice de Bill Clinton,
Al Gore, já foi chamado de tedioso, esnobe, frio. Mas isso é coisa
do passado - e não só pela impopularidade crescente do atual presidente. Gore esteve na capa de revistas badaladas como "Vanity
Fair" e "Wired" e foi escolhido como uma das cem pessoas mais influentes do mundo pela "Time".
Ecologista antes de qualquer moda, ele é favorito para o posto de
ícone da nova onda verde.
A visibilidade do discurso de Al
Gore em favor de medidas que
evitem o aquecimento global
mostra que a ecologia virou moda
nos Estados Unidos e está mais
forte do que nunca onde ela já era
bem visível, na Europa.
A "Vanity Fair" dedicou sua
edição de abril à ecologia. Julia
Roberts, George Clooney e o onipresente Al Gore estão na capa.
Um grande ensaio fotográfico
mostra várias personalidades que
desenvolvem algum tipo de ação
em favor da natureza, de Bette
Midler a Edward Norton.
"Agora não é mais coisa de hippies que abraçavam árvores nos
anos 60. Estilistas, atores, cientistas, engenheiros e empresários
com consciência ecológica estão
falando com a mesma voz, ao
mesmo tempo", disse à Folha o
australiano Warren McLaren, do
Treehuger.com, um dos sites de
"e-gitadores" destacados pela
"Vanity Fair". Na rede, proliferam sites que dão dicas de como
se ter uma vida ecologicamente
correta.
Direita ecológica
A novidade é que o movimento
ecologista não reúne apenas a esquerda tradicional, nem é uma
frente anti-Bush. Governadores e
prefeitos republicanos, do partido
de Bush, assinam acordos e tratados para cumprir a diminuição da
emissão de gases carbônicos estipulada pelo Protocolo de Kyoto
- aquele que Bush não ratificou.
Um deles é o governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger.
Mais de 200 prefeitos americanos assinaram um tratado com
metas parecidas. As prefeituras de
San Francisco e Chicago já trocaram boa parte da frota municipal
por veículos que usam fontes de
energia alternativas.
No Reino Unido, a ecologia virou política de Estado. Os dois
maiores candidatos à sucessão do
primeiro-ministro Tony Blair, o
trabalhista Gordon Brown e o
conservador David Cameron,
competem em quem é mais amigo da natureza.
Há quinze dias, Cameron prometeu trocar o carro a que tem direito no Parlamento por outro
modelo, elétrico. Brown, que é o
poderoso ministro das Finanças
de Blair, anunciou no mês passado que vai sugerir aos demais países desenvolvidos a criação de um
fundo para permitir o corte da
emissão de gás carbônico nos países mais pobres.
Até a rainha Elizabeth demonstrou interesse no assunto. Segundo o jornal "The Observer", ela falou a Blair que estava "preocupada com a posição da Casa Branca
sobre o aquecimento global e desejava que o primeiro-ministro
pudesse ajudar a mudá-la".
Ecologia e negócios
Se muitas ações ainda se confundem com marketing, o discurso de Al Gore pela emergência de
diminuir a emissão de gás carbônico não é nada oportunista. Já
como vice-presidente, Gore era
considerado um grande defensor
da ecologia.
Depois de perder para Bush e
prometer deixar a política, ele
continuou a dar palestras pelo
mundo inteiro para falar de aquecimento global. Aí surge o novo e
mais carismático Al Gore. Que
consegue cativar platéias pelo
mundo falando de aquecimento
global.
Vários empresários da chamada nova economia apóiam Gore,
que também foi um dos maiores
padrinhos da expansão da Internet quando esteve na Casa Branca. Membro do conselho do Google e da Apple, vários deles viraram fãs. "Ele é engraçado, apaixonado, real", disse o CEO do Google, Eric Schmidt.
Os donos do site de compras
eBay decidiram patrocinar e produzir um documentário sobre
Gore, que estréia no fim de maio
nos Estados Unidos. O filme, "An
Unconvenient Truth" (uma verdade inconveniente), foi exibido
com muito sucesso no último festival de cinema de Sundance, a
meca do cinema alternativo.
Gore também criou um fundo
de investimentos para apoiar novas empresas com políticas "sustentáveis". Não é a única iniciativa
que une ecologia ao antes vilanizado pelos verdes mundo dos negócios. O CEO do banco Goldman Sachs, Hank Paulson, dirige
uma das maiores ONGs ambientalistas dos Estados Unidos. E decidiu que uma área de 680.000
acres na Patagônia chilena, recebida pelo banco em troca de empréstimos não saldados, fosse
transformada em área de preservação.
O CEO da gigante British Petroleum, Lord John Browne, vai investir US$ 8 bilhões em pesquisas
de tecnologia de energias renováveis, como a solar, eólica e hidrogênio. Browne está no conselho
de outra ONG ambientalista. Só
uma forte onda verde poderia
transformar um chefão de uma
companhia petrolífera em líder
ambientalista.
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