São Paulo, domingo, 14 de maio de 2006

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SOCIEDADE

Al Gore vira ícone de movimento e astro de filme

Celebridades e líderes políticos se engajam em nova "onda verde"

RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL

Derrotado por George W. Bush e pela Corte Suprema americana em 2000, o ex-vice de Bill Clinton, Al Gore, já foi chamado de tedioso, esnobe, frio. Mas isso é coisa do passado - e não só pela impopularidade crescente do atual presidente. Gore esteve na capa de revistas badaladas como "Vanity Fair" e "Wired" e foi escolhido como uma das cem pessoas mais influentes do mundo pela "Time". Ecologista antes de qualquer moda, ele é favorito para o posto de ícone da nova onda verde.
A visibilidade do discurso de Al Gore em favor de medidas que evitem o aquecimento global mostra que a ecologia virou moda nos Estados Unidos e está mais forte do que nunca onde ela já era bem visível, na Europa.
A "Vanity Fair" dedicou sua edição de abril à ecologia. Julia Roberts, George Clooney e o onipresente Al Gore estão na capa. Um grande ensaio fotográfico mostra várias personalidades que desenvolvem algum tipo de ação em favor da natureza, de Bette Midler a Edward Norton.
"Agora não é mais coisa de hippies que abraçavam árvores nos anos 60. Estilistas, atores, cientistas, engenheiros e empresários com consciência ecológica estão falando com a mesma voz, ao mesmo tempo", disse à Folha o australiano Warren McLaren, do Treehuger.com, um dos sites de "e-gitadores" destacados pela "Vanity Fair". Na rede, proliferam sites que dão dicas de como se ter uma vida ecologicamente correta.

Direita ecológica
A novidade é que o movimento ecologista não reúne apenas a esquerda tradicional, nem é uma frente anti-Bush. Governadores e prefeitos republicanos, do partido de Bush, assinam acordos e tratados para cumprir a diminuição da emissão de gases carbônicos estipulada pelo Protocolo de Kyoto - aquele que Bush não ratificou. Um deles é o governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger.
Mais de 200 prefeitos americanos assinaram um tratado com metas parecidas. As prefeituras de San Francisco e Chicago já trocaram boa parte da frota municipal por veículos que usam fontes de energia alternativas.
No Reino Unido, a ecologia virou política de Estado. Os dois maiores candidatos à sucessão do primeiro-ministro Tony Blair, o trabalhista Gordon Brown e o conservador David Cameron, competem em quem é mais amigo da natureza.
Há quinze dias, Cameron prometeu trocar o carro a que tem direito no Parlamento por outro modelo, elétrico. Brown, que é o poderoso ministro das Finanças de Blair, anunciou no mês passado que vai sugerir aos demais países desenvolvidos a criação de um fundo para permitir o corte da emissão de gás carbônico nos países mais pobres.
Até a rainha Elizabeth demonstrou interesse no assunto. Segundo o jornal "The Observer", ela falou a Blair que estava "preocupada com a posição da Casa Branca sobre o aquecimento global e desejava que o primeiro-ministro pudesse ajudar a mudá-la".

Ecologia e negócios
Se muitas ações ainda se confundem com marketing, o discurso de Al Gore pela emergência de diminuir a emissão de gás carbônico não é nada oportunista. Já como vice-presidente, Gore era considerado um grande defensor da ecologia.
Depois de perder para Bush e prometer deixar a política, ele continuou a dar palestras pelo mundo inteiro para falar de aquecimento global. Aí surge o novo e mais carismático Al Gore. Que consegue cativar platéias pelo mundo falando de aquecimento global.
Vários empresários da chamada nova economia apóiam Gore, que também foi um dos maiores padrinhos da expansão da Internet quando esteve na Casa Branca. Membro do conselho do Google e da Apple, vários deles viraram fãs. "Ele é engraçado, apaixonado, real", disse o CEO do Google, Eric Schmidt.
Os donos do site de compras eBay decidiram patrocinar e produzir um documentário sobre Gore, que estréia no fim de maio nos Estados Unidos. O filme, "An Unconvenient Truth" (uma verdade inconveniente), foi exibido com muito sucesso no último festival de cinema de Sundance, a meca do cinema alternativo.
Gore também criou um fundo de investimentos para apoiar novas empresas com políticas "sustentáveis". Não é a única iniciativa que une ecologia ao antes vilanizado pelos verdes mundo dos negócios. O CEO do banco Goldman Sachs, Hank Paulson, dirige uma das maiores ONGs ambientalistas dos Estados Unidos. E decidiu que uma área de 680.000 acres na Patagônia chilena, recebida pelo banco em troca de empréstimos não saldados, fosse transformada em área de preservação.
O CEO da gigante British Petroleum, Lord John Browne, vai investir US$ 8 bilhões em pesquisas de tecnologia de energias renováveis, como a solar, eólica e hidrogênio. Browne está no conselho de outra ONG ambientalista. Só uma forte onda verde poderia transformar um chefão de uma companhia petrolífera em líder ambientalista.


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