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Com 12 mil mortos, China falha no auxílio
Sobreviventes de terremoto têm que deixar casas e sofrem com frio e chuva; população de Sichuan critica equipes de resgate
Número de vítimas pode aumentar muito, já que há milhares de soterrados e desaparecidos e poucas notícias vindas do epicentro
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A DUJIANGYAN
Mais de 24 horas depois do
terremoto que matou mais de
12 mil pessoas na China e deixou ao menos 20 mil desaparecidas, a operação humanitária é
deficiente em algumas das
áreas mais destruídas. Milhares de desabrigados na Província de Sichuan se refugiam em
tendas improvisadas, sem comida, água ou cobertores para
enfrentar frio e chuva.
Ao redor da escola pública
que desabou no distrito de Juyuan, em Dujiangyan, soterrando 800 estudantes, a presença estatal se resume a duas
tendas e quatro caminhões do
exército.
Na véspera, o presidente, Hu
Jintao, anunciou um "esforço
total" pelas vítimas. O governo
mandou 50 mil soldados para
as regiões devastadas e anunciou uma verba de US$ 52 milhões para as vítimas. Mas o tamanho da tragédia faz o esforço
parecer pequeno.
O terremoto causou mortes
em sete Províncias chinesas. O
governo confirma 12.012 vítimas apenas em Sichuan e 323
no resto do país. O número, porém, pode aumentar muito, já
que há milhares de soterrados e
desaparecidos, algumas áreas
estão sem comunicação e as informações de Wenchuan, epicentro do tremor, ainda são
poucas -há 500 mortos confirmados, mas em um de seus povoados, Yingxiu, de 12 mil habitantes, só 2.000 sobreviventes
foram encontrados até agora.
Relatos de agências internacionais também dão conta de mais
mortos além dos confirmados
pelo governo.
Cerca de 1.300 soldados e
médicos só chegaram ontem à
tarde, 24 horas após o tremor, a
Wenchuan. Eles tiveram que ir
a pé, pois a estrada está totalmente destruída. Em Mianyang, segunda maior cidade da
Província, há 18 mil pessoas soterradas. Em Mianzhu, 4.800.
Na vizinha Beichuan, há
5.000 mortos. Várias escolas e
duas fábricas desmoronaram
em Shifang, onde houve um vazamento químico.
Várias réplicas do terremoto
foram sentidas durante o dia,
uma violenta em especial que
atingiu 6,1 graus na escala Richter e que fez milhares de pessoas em Chengdu, capital de Sichuan, abandonarem os prédios. Milhares deles não voltaram para a casa desde segunda,
temendo novos desabamentos.
Ao contrário da primeira noite após o terremoto, a TV chinesa começou a dar mais cobertura para o desastre, focando no esforço governamental e
em histórias de heroísmo.
Críticas
Em um país onde criticar
abertamente o governo pode
dar prisão, vários moradores
ousam atacar o que consideram
uma resposta insuficiente do
governo ao seu drama.
"As equipes de resgate queriam ir embora para outro lugar, dizendo que não havia sinais de vida embaixo dos escombros da escola", conta Tian
Hong, 31, mãe de um estudante
de 10 anos que sobreviveu por
estar na quadra. "As mães protestaram, sempre há uma esperança, mas parece que não há
soldados suficientes."
No lamaçal em que se transformou a escola destruída, o
mecânico Li Jian, 30, acompanhava o trabalho de resgate,
sem saber o que aconteceu com
seu irmão caçula, de 16 anos,
sob os escombros. "Não tenho
onde dormir, estou aqui para
saber do meu irmão. É triste
ver que a escola virou pó."
Escolas e hospitais públicos
foram os primeiros a desabar,
enquanto vários prédios comerciais na mesma área continuam em pé. Até 70 alunos se
aglomeravam em uma única
classe na escola de Juyuan. A
construção tinha dez anos.
Tênis e garrafas de refrigerantes vazias ficaram espalhadas pelo local, onde várias mães
choravam e gritavam. Algumas
brigavam com as equipes de
resgate, pedindo permissão para vasculhar os escombros
atrás dos filhos.
Sem água e com frio
A alguns quilômetros dali, o
agricultor Zhang Degang, 26,
viu a casa em que morava com a
mulher, a mãe e o irmão rachar
por completo. Janelas estilhaçaram pela casa inteira, que ficou com o teto trincado.
Zhang levou a família para
uma tenda montada em frente
à casa. "Até agora, não veio uma
só pessoa do governo nos ajudar, estamos sem água e com
frio", disse. O agricultor acha
que a casa está "condenada" e
diz esperar alguma solução do
governo. "Vamos ficar uma semana nesta tenda, pelo menos,
mas não dá para dormir".
A precariedade se repete por
toda a Província. Na capital
Chengdu, centenas passavam à
noite embaixo das marquises
de uma das principais ruas comerciais, com temor de voltar
às suas casas com rachaduras.
NA INTERNET
www.folha.com.br/081343
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terremoto
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