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Obama tenta proibir acesso a fotos de abusos
Presidente diz que divulgação de imagens de militares maltratando prisioneiros poderia desencadear reação hostil às tropas dos EUA
Democrata garante que militares retratados em atos condenáveis já são alvo de investigação; ONG critica "falta de transparência"
"The New Yorker"/Reuters
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Foto de abuso contra detento de Abu Ghraib, divulgada em 2004
DO "NEW YORK TIMES"
O presidente Barack Obama
quer bloquear a divulgação de
fotos que mostram militares
americanos maltratando prisioneiros no Iraque e Afeganistão, por temer que as imagens
possam desencadear uma reação hostil a tropas dos EUA.
A decisão representa uma inversão em relação à decisão tomada no mês passado pelo Pentágono, que concordou em processo movido pela União Americana pelas Liberdades Civis
(Aclu) em divulgar fotos que
mostram incidentes em Abu
Ghraib e outras prisões.
Na época, o presidente subscreveu a decisão, dizendo que
concordava com a divulgação
-que tinha até data prevista
para acontecer: 28 deste mês.
Obama informou seus altos
comandantes militares sobre
sua decisão em reunião na Casa
Branca anteontem. Várias autoridades militares haviam se
posicionado contra a divulgação imediata das fotos, dizendo
que isso poderia prejudicar soldados americanos em campo.
Ontem, em pronunciamento
convocado para tratar da crise
no Sri Lanka (leia à pág. A15), o
presidente repetiu essa tese.
Ele disse também que as fotos são menos dramáticas "especialmente quando comparadas às dolorosas imagens de
Abu Ghraib", em alusão às fotografias divulgadas em 2004,
que registram militares americanos torturando detentos na
prisão iraquiana.
O presidente fez questão de
enfatizar que os casos retratados nas imagens estavam sob
investigação "bem antes de eu
assumir o cargo" (em janeiro).
E que foram aplicadas punições
"quando apropriado".
Obama encerrou suas declarações acrescentando que deixou "bem claro a todos na cadeia de comando das Forças
Armadas dos EUA que o abuso
de detentos mantidos sob custódia americana é proibido e
não será tolerado".
No mês passado, o governo
Obama divulgou memorandos
da gestão George W. Bush autorizando o uso de técnicas de
tortura em interrogatórios de
suspeitos de terrorismo. Desde
então, cresceu a pressão para
que funcionários do último governo sejam responsabilizados
na Justiça pelas práticas.
Críticas
A Aclu, autora do pedido de
acesso às fotos, criticou a medida do presidente. "A decisão de
suprimir as fotos é profundamente incoerente com a promessa de transparência que o
presidente Obama fez inúmeras vezes", disse um advogado
da organização, Jameel Jaffer.
À Justiça a entidade argumentara que revelar as imagens seria "crucial para ajudar
o público a compreender a amplitude e escala dos abusos cometidos contra prisioneiros e
também para responsabilizar
altos funcionários por autorizarem ou permitirem tais abusos", disse Amrit Singh, que advogou pela Aclu no caso.
Um alto funcionário do governo revelou que o presidente
se reuniu com sua equipe jurídica na semana passada e concluiu que os interesses dos militares e do governo americanos não seriam atendidos com a divulgação das fotos.
Ele relatou que, como Obama
seria o último a se desculpar
pelas ações retratadas nas fotos, o Departamento da Defesa
investigou os casos para apurar
se os indivíduos foram punidos
com prisão, expulsão das Forças Armadas ou outras penas.
Funcionários da Casa Branca
disseram que ontem seriam entregues documentos ao tribunal onde tramita o processo,
apresentando a abordagem legal anunciada por Obama.
Em juízo, funcionários da
Defesa se manifestaram contra
a divulgação das imagens, ligadas a investigações feitas entre
2003 e 2006. Alegaram que a
divulgação colocaria em perigo
militares americanos no exterior e que a privacidade dos prisioneiros seria violada.
Mas, ao confirmar a decisão
de um tribunal inferior, a instância superior disse que o interesse público envolvido na divulgação das imagens pesava
mais que um receio vago e especulativo de perigo para militares americanos ou violação
de privacidade de detentos.
Um funcionário do Pentágono envolvido na discussão disse
que as fotos mostram detentos
em posições humilhantes, mas
-a exemplo do que afirmou
Obama- ressaltou que não são
tão chocantes quanto fotos de
abuso em Abu Ghraib.
Tradução de CLARA ALLAIN
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