São Paulo, sexta-feira, 14 de maio de 2010

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Irã diz esperar que visita de Lula acarrete pacto nuclear

Chanceler iraniano expõe expectativa de concluir acordo para troca de urânio

Na Rússia, penúltima escala de presidente brasileiro antes de chegada a Teerã, Amorim afirma ver motivo para "otimismo moderado"


Alexander Nemenov/France Presse
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é recebido por guarda de honra russa ao chegar ao aeroporto de Moscou, 1ª escala de viagem

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

Brasil e Irã elevaram ontem o grau de expectativa de que um acordo em torno do programa nuclear iraniano seja concluído durante a visita que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará no fim de semana ao país persa.
O ministro das Relações Exteriores do Irã, Manouchehr Mottaki, afirmou esperar que um entendimento seja alcançado em um encontro trilateral em Teerã com a participação do primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan.
Mottaki baseou seu otimismo na avaliação de que Lula e Erdogan tiveram "conversas suficientes" com potências como China, Rússia e EUA sobre o tema nuclear para consolidar um acordo.
"Esperamos que a cúpula trilateral conduza à finalização do acordo para a troca de urânio", disse o chanceler.
Nas últimas semanas, Brasil e Turquia se uniram para buscar uma forma de implementar a proposta apresentada pela AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), em outubro do ano passado. Até agora, ela tem sofrido resistência do regime iraniano.
Segundo o plano, o Irã enviaria a maior parte de seu estoque de urânio pouco enriquecido a outro país e receberia combustível enriquecido a 20%, adequado para uso médico mas não para fins militares. A maior indefinição é onde ocorreria a troca, pois Teerã teme não receber o urânio de volta.
Brasil e Turquia buscam um acordo que evite a aplicação de sanções ao Irã pelo Conselho de Segurança da ONU, como defendem ao menos 3 dos seus 5 membros permanentes (Reino Unido, França e EUA).
A Rússia, onde Lula desembarcou ontem, em sua penúltima escala antes de seguir para Teerã, tem indicado que também poderia apoiar sanções, mas ainda vê espaço para negociações que levem a um acordo. A China, o quinto país com poder de veto no órgão, mantém-se refratária às sanções.
Para o Brasil, há motivo para "otimismo moderado" de que a expectativa iraniana se concretize, afirmou ontem o chanceler Celso Amorim. "Tenho de ser cauteloso, já que nestas coisas sempre podem surgir questões novas."
Os esforços de Brasil e Turquia, disse Amorim, são no sentido de achar forma de implementar a proposta da AIEA que forneça garantias de que o programa nuclear iraniano não tem fins militares e ao mesmo tempo permitir que Teerã desenvolva energia nuclear para usos médicos e energéticos.
Sem abandonar a cautela, o chanceler brasileiro avalia que há "elementos" para se chegar a um acordo.
Embora o Irã aposte numa relação trilateral para desbloquear o impasse nuclear, a Turquia ainda se mostra cautelosa, e até ontem não havia confirmado a presença do premiê Erdogan nas conversas em Teerã.
"A questão não é só ter uma reunião trilateral", disse o chanceler turco, Ahmet Davutoglu. "Se fizermos a reunião, queremos obter resultados."


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