São Paulo, quarta-feira, 14 de junho de 2006

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Israel mata 11 em Gaza, na ação mais violenta em 4 anos

Alvo era van com militantes que levavam foguetes, diz o Exército; entre as vítimas havia 2 crianças e 3 socorristas

Baseado em investigação interna, governo de Israel nega responsabilidade na morte de civis em praia de Gaza na semana passada


DA REDAÇÃO

No dia em que se defendia da acusação de responsabilidade sobre a morte de sete civis palestinos em uma praia da faixa de Gaza na semana passada, o Exército israelense realizou ontem o ataque mais violento em quatro anos nos territórios palestinos. Nove civis foram mortos, incluindo duas crianças e três socorristas, além de dois militantes islâmicos.
A ação coincide com o confronto interno entre o grupo terrorista Hamas -cujo braço político tem a maioria no Parlamento palestino- e Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), que pertence ao Fatah e convocou plebiscito sobre uma proposta política que inclui negociações com Israel. Os últimos incidentes poderão dificultar um acordo entre os dois lados sobre os rumos da ANP.
Segundo o Exército israelense, a ação realizada ontem tinha o objetivo de evitar um ataque de foguetes no sul de Israel. Um primeiro míssil foi disparado contra uma van em que viajavam dois militantes palestinos. Segundo Israel, eles transportavam foguetes que seriam disparados contra o seu território.
Dois outros mísseis atingiram o local, e foram mortos nove civis, incluindo duas crianças e três membros de uma equipe médica que se deslocava para fazer o socorro.
Segundo Hekmat Mughraib, seu filho de 30 anos, Ashraf, morreu porque tentava acalmar as crianças da vizinhança em razão do barulho de disparos. "Ele gritava: "Não tenham medo, não tenham medo", quando o segundo míssil o atingiu", contou a mãe.
No hospital para onde foram levados os 11 mortos, além de 32 feridos, militantes de grupos terroristas gritavam palavras de ordem contra Israel.
Na Cisjordânia, forças israelenses mataram um militante palestino durante um tiroteio na cidade de Jenin.
O presidente da ANP acusou o governo israelense de "terrorismo de Estado". "Eles querem eliminar o povo palestino, mas nós vamos resistir firmemente", disse Abbas.
O ministro israelense da Defesa, Amir Peretz, lamentou a morte de civis, mas disse que usaria "toda a força e meios" contra grupos que desferissem ataques contra Israel. Foguetes disparados da faixa de Gaza raramente fazem vítimas no lado israelense, mas provocam prejuízos nas cidades atingidas.

Sem responsabilidade
Também ontem, o governo israelense negou que tenha sido responsável pela morte de sete civis palestinos em uma explosão numa praia da faixa de Gaza na semana passada. Dan Halutz, chefe das Forças de Defesa de Israel, disse que a conclusão de um inquérito é que o Exército já havia cessado suas ações no momento em que ocorreu o incidente.
Meir Califi, militar chefe do inquérito, sugeriu que o aparato que explodiu na praia de Gaza pertencia a algum grupo militante palestino. Mas um especialista militar da organização não-governamental Human Rights Watch disse que evidências apontam para um explosivo de fabricação israelense.
Marc Garlasko não descartou que o aparato tenha sido enterrado por palestinos, mas declarou que os indícios não apoiavam essa tese. Ele foi o primeiro investigador independente a visitar o local, freqüentado por centenas de palestinos às sextas como área de lazer. Exames mostraram que os palestinos não foram atingidos por fragmentos de aparatos normalmente usados por Israel.
O caso levou o grupo Hamas a encerrar uma trégua de 16 meses com Israel.

Retirada parcial
O premiê israelense, Ehud Olmert, declarou em Londres que Israel nunca irá concordar com uma retirada total da Cisjordânia, por questões de segurança e defesa.
"As fronteiras anteriores a 1967 não permitem a defesa de Israel", declarou Olmert em referência à Guerra dos Seis Dias, em que o Exército de Israel tomou o controle da faixa de Gaza e da Cisjordânia. No ano passado, Israel fez uma retirada unilateral de todos os assentamentos e soldados de Gaza.
O premiê está visitando o Reino Unido e a França na tentativa de angariar apoio ao plano de desocupar 90% da Cisjordânia e deixar 10% do território sujeito a negociação. Permaneceria também com Jerusalém oriental, que os palestinos reivindicam como capital de seu futuro Estado.
Olmert declarou que dialogaria com qualquer governo palestino que renunciasse ao terrorismo, mas, na semana passada, classificou o plebiscito lançado por Mahmoud Abbas de "jogo interno" e "sem sentido". Ontem, expressando-se de maneira informal, se disse cético quanto à possibilidade de diálogo com o Hamas.
"Você acha que esses caras estão prontos ainda nesta encarnação para tomar parte de uma negociação política séria?", perguntou Olmert.


Com agências internacionais

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