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Aiatolá iraniano respalda eleição de Ahmadinejad
Ali Khamenei pede que derrotados evitem provocações e apoiem o presidente
Apoio de líder supremo ao presidente reduz chances de contestação de resultados e sinaliza racha interno; EUA dizem "monitorar" situação
ENVIADO ESPECIAL A TEERÃ
O supremo líder religioso e
político do Irã, o aiatolá Ali
Khamenei, pediu ontem aos
candidatos derrotados na eleição que evitem provocações e
apoiem o vitorioso. Os EUA,
por sua vez, não reconheceram
oficialmente o resultado.
O apoio do aiatolá a Ahmadinejad é considerado fundamental para a sua vitória no
pleito. Khamenei controla Forças Armadas, mídia estatal e o
Poder Judiciário, o que dificulta bastante a possibilidade de
Mousavi recorrer do resultado.
"O escolhido e respeitado
presidente é o presidente de toda a nação iraniana, todos devemos apoiá-lo e ajudá-lo", disse em comunicado lido na TV.
Khamenei também controla
a política externa e o programa
nuclear. O presidente dos EUA,
Barack Obama, apresentou
vontade de diálogo em mensagem aos iranianos em março.
Ahmadinejad, que nega o
Holocausto e prega a destruição de Israel, é menos favorável
à negociação do que Mousavi
-ainda que, nos últimos meses,
tenha dado sinais de flexibilidade, mandando carta de congratulações a Obama em sua vitória, defendendo uma revisão
no veredicto que condenava
uma jornalista americana de
espionagem e até aceitando
dialogar com os EUA.
A Casa Branca disse ontem
estar monitorando de perto a
eleição, inclusive denúncias de
"irregularidade", e exortou os
iranianos a resolverem diferenças pacificamente. A secretária
de Estado, Hillary Clinton, disse esperar que "o resultado do
pleito reflita a vontade e o desejo do povo iraniano".
Já o Hamas, grupo radical palestino -financiado pelo Irã-
que controla Gaza, parabenizou Ahmadinejad pela reeleição, que "demonstra o amplo
apoio popular à política [iraniana] de desafio" às potências
ocidentais.
Divisão é maior
O apoio de Khamenei a Ahmadinejad confirma o racha da
liderança islâmica no país.
O ex-presidente Hashemi
Rafsanjani, acusado de enriquecimento ilícito pelo atual,
pediu medidas disciplinares ao
aiatolá contra Ahmadinejad.
O ex-presidente reformista
Mohammad Khatami e o ex-premiê e candidato derrotado
Mousavi também se afastam do
poder com a nova medida.
Para um clérigo conhecedor
da luta de poder na elite religiosa, o aiatolá se deu conta de que
sua própria base de apoio depende muito mais dos religiosos e ultraconservadores mais
pobres, que adoram Ahmadinejad, do que de reformistas,
mulheres e classe média urbana, que queriam Mousavi.
O resultado não revela as fortes divisões no eleitorado, entre tradicionalistas e reformistas, o país urbano e o rural, a
classe média e os camponeses,
os religiosos e os seculares.
Mousavi era favorito nas
grandes cidades do país, que
concentram 70% da população.
Ahmadinejad ainda enfrenta os
efeitos da crise econômica -no
último ano, a inflação foi a
23,6% e o desemprego, a 20%.
Em nota, Mousavi defendeu
a anulação do pleito, mas ainda
não se sabe que medidas concretas irá adotar.
Em 1997, o reformista Khatami venceu com 69% dos votos
em um comparecimento então
recorde de 79% dos eleitores.
Em 2005, Ahmadinejad venceu no segundo turno com 61%,
com 14 milhões de votos, mas o
comparecimento às urnas foi
de 51%, depois do boicote dos
reformistas. Na eleição de ontem, o comparecimento foi recorde, de 84% dos eleitores -o
voto não é obrigatório no país.
Um professor da Universidade de Teerã ironiza o resultado
à Folha, dizendo que, com o
comparecimento recorde desta
eleição, é estranho que ele tenha superado os 20 milhões de
votos. "É impossível que as novas gerações sejam mais religiosas, não é o que se vê nas
ruas do país."
Reações internacionais
A França disse que "tomou
nota" da reeleição de Ahmadinejad, mas também dos questionamentos à eleição, e que
"segue de perto a situação".
Mais crítica foi a reação de Israel, que se sente ameaçado pelo programa atômico iraniano.
"[Os resultados] explodem
na cara de quem pensava que o
Irã estava aberto ao diálogo
com o mundo livre e [ao] fim de
seu programa nuclear", disse o
ministro de Cooperação Regional, Silvan Shalom.
O vice-chanceler israelense,
Danny Ayalon, disse que, "se
havia uma sombra de esperança para uma mudança no Irã, [o
resultado do pleito] expressa a
crescente ameaça iraniana".
Com agências internacionais
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