São Paulo, domingo, 14 de junho de 2009

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Aiatolá iraniano respalda eleição de Ahmadinejad

Ali Khamenei pede que derrotados evitem provocações e apoiem o presidente


Apoio de líder supremo ao presidente reduz chances de contestação de resultados e sinaliza racha interno; EUA dizem "monitorar" situação

ENVIADO ESPECIAL A TEERÃ

O supremo líder religioso e político do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, pediu ontem aos candidatos derrotados na eleição que evitem provocações e apoiem o vitorioso. Os EUA, por sua vez, não reconheceram oficialmente o resultado.
O apoio do aiatolá a Ahmadinejad é considerado fundamental para a sua vitória no pleito. Khamenei controla Forças Armadas, mídia estatal e o Poder Judiciário, o que dificulta bastante a possibilidade de Mousavi recorrer do resultado.
"O escolhido e respeitado presidente é o presidente de toda a nação iraniana, todos devemos apoiá-lo e ajudá-lo", disse em comunicado lido na TV.
Khamenei também controla a política externa e o programa nuclear. O presidente dos EUA, Barack Obama, apresentou vontade de diálogo em mensagem aos iranianos em março.
Ahmadinejad, que nega o Holocausto e prega a destruição de Israel, é menos favorável à negociação do que Mousavi -ainda que, nos últimos meses, tenha dado sinais de flexibilidade, mandando carta de congratulações a Obama em sua vitória, defendendo uma revisão no veredicto que condenava uma jornalista americana de espionagem e até aceitando dialogar com os EUA.
A Casa Branca disse ontem estar monitorando de perto a eleição, inclusive denúncias de "irregularidade", e exortou os iranianos a resolverem diferenças pacificamente. A secretária de Estado, Hillary Clinton, disse esperar que "o resultado do pleito reflita a vontade e o desejo do povo iraniano".
Já o Hamas, grupo radical palestino -financiado pelo Irã- que controla Gaza, parabenizou Ahmadinejad pela reeleição, que "demonstra o amplo apoio popular à política [iraniana] de desafio" às potências ocidentais.

Divisão é maior
O apoio de Khamenei a Ahmadinejad confirma o racha da liderança islâmica no país.
O ex-presidente Hashemi Rafsanjani, acusado de enriquecimento ilícito pelo atual, pediu medidas disciplinares ao aiatolá contra Ahmadinejad.
O ex-presidente reformista Mohammad Khatami e o ex-premiê e candidato derrotado Mousavi também se afastam do poder com a nova medida.
Para um clérigo conhecedor da luta de poder na elite religiosa, o aiatolá se deu conta de que sua própria base de apoio depende muito mais dos religiosos e ultraconservadores mais pobres, que adoram Ahmadinejad, do que de reformistas, mulheres e classe média urbana, que queriam Mousavi.
O resultado não revela as fortes divisões no eleitorado, entre tradicionalistas e reformistas, o país urbano e o rural, a classe média e os camponeses, os religiosos e os seculares.
Mousavi era favorito nas grandes cidades do país, que concentram 70% da população. Ahmadinejad ainda enfrenta os efeitos da crise econômica -no último ano, a inflação foi a 23,6% e o desemprego, a 20%.
Em nota, Mousavi defendeu a anulação do pleito, mas ainda não se sabe que medidas concretas irá adotar.
Em 1997, o reformista Khatami venceu com 69% dos votos em um comparecimento então recorde de 79% dos eleitores.
Em 2005, Ahmadinejad venceu no segundo turno com 61%, com 14 milhões de votos, mas o comparecimento às urnas foi de 51%, depois do boicote dos reformistas. Na eleição de ontem, o comparecimento foi recorde, de 84% dos eleitores -o voto não é obrigatório no país.
Um professor da Universidade de Teerã ironiza o resultado à Folha, dizendo que, com o comparecimento recorde desta eleição, é estranho que ele tenha superado os 20 milhões de votos. "É impossível que as novas gerações sejam mais religiosas, não é o que se vê nas ruas do país."

Reações internacionais
A França disse que "tomou nota" da reeleição de Ahmadinejad, mas também dos questionamentos à eleição, e que "segue de perto a situação".
Mais crítica foi a reação de Israel, que se sente ameaçado pelo programa atômico iraniano.
"[Os resultados] explodem na cara de quem pensava que o Irã estava aberto ao diálogo com o mundo livre e [ao] fim de seu programa nuclear", disse o ministro de Cooperação Regional, Silvan Shalom.
O vice-chanceler israelense, Danny Ayalon, disse que, "se havia uma sombra de esperança para uma mudança no Irã, [o resultado do pleito] expressa a crescente ameaça iraniana".

Com agências internacionais



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