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Ahmadinejad é porta-voz do eleitor comum, diz apoiador
Para membro do comitê de reeleição, presidente expressa o que outros também pensam
Advogado Mohammad Saleh Meftah, 25, diz que, para o Irã, não faz diferença se EUA têm republicano ou democrata na Casa Branca
DO ENVIADO A TEERÃ
"Ahmadinejad se atreve a dizer aquilo com que outros concordam, mas se calam." Assim
começa a defesa do legado da
política externa do polêmico
presidente iraniano, por um
dos mais entusiastas e jovens
membros de seu comitê.
O advogado Mohammad Saleh Meftah, 25, trabalhou com
mídia e internet na vitoriosa
campanha da reeleição. Editou
uma revista publicada pelos
seus simpatizantes, fez vídeos,
blogs e usou Twitter, Facebook
e YouTube para espalhar a
mensagem conservadora.
Meftah dirige o Conselho dos
Blogs Islâmicos do país (são
mais de 15 mil) e é porta-voz do
movimento Conselho em Busca de Justiça, que defende Gaza
contra Israel.
Ele diz que Ahmadinejad é o
melhor político para negociar
com o presidente dos EUA, Barack Obama. "Não interessa se
são republicanos ou democratas, o lobby israelense pauta a
política americana na região, e
não dá para confiar em quem
sustenta nossos inimigos."
Oferecendo a cerveja islâmica de sabor pera Delster (sem
álcool), Meftah conversou com
a Folha no campus da Universidade Iman Sadegh, antiga
Universidade Americana, onde
faz pós-graduação em Direito e
votou na manhã de anteontem.
(RAUL JUSTE LORES)
FOLHA - Ao negar o Holocausto e
chamar Israel de racista, Ahmadinejad não isola gratuitamente o Irã?
MOHAMMAD MEFTAH - Em Durban, em Genebra, a mídia foca
nele. Hoje o Ocidente não pode
mais nos censurar. Podemos
falar aquilo com que outros países concordam, mas não se
atrevem a dizer. Contrabalançamos o poder de Israel, que é
enorme na mídia. Hillary Clinton e Obama tiveram de aceitar
que teremos programa nuclear,
isso é uma vitória.
Em vários países da região, o
apoio ao governo vem do Ocidente, não do povo. Jordânia,
Arábia Saudita, Egito vivem do
apoio ocidental. No Egito, mesmo o partido que vence as eleições pode ser banido. Ahmadinejad é porta-voz do povo muçulmano que não é defendido
por seus governos. Ele ataca Israel sem medo.
FOLHA - Mas ele não é o homem
errado para negociar com Obama?
MEFTAH - Não importa se são
democratas ou republicanos no
poder, o lobby de Israel vai
sempre impor as políticas. Não
dá para ver Obama como amigo. Não tivemos boa relação
com [o ex-presidente dos EUA]
Bill Clinton [1993-2001]. Só dá
para dialogar com uma forte
precondição, a de que os americanos parem com a animosidade contra o Irã.
Sim, ele fez aquele vídeo para
desejar Feliz Ano Novo persa,
mas termina pedindo que não
façamos a bomba atômica. É
tão ofensivo! A bomba é proibida em nossa religião. E ele continua a apoiar nossos inimigos.
No tempo de Mir Hossein
Mousavi, os EUA eram nossos
inimigos, apoiando o Iraque
contra nós. Não esperem que
Mousavi seja pró-americano.
FOLHA - A crise econômica é grave
no Irã, e a oposição diz que Ahmadinejad deixou o país "isolado, sem
dignidade". É possível defender o legado de seu governo?
MEFTAH - Ahmadinejad não é
um homem sem pecados, nenhum é. Mas temos de fazer escolhas. No Ocidente, um triângulo sustenta o poder político:
o capital, a mídia e os políticos.
Há quatro anos, ao ser eleito,
Ahmadinejad ignorou esse jogo. Ele não teve apoio da mídia
estatal, de partidos, nem das
grandes empresas.
Ele tem uma característica
única, vem do povo, trabalha
para o povo, fala para o povo.
No Ocidente, a distância entre
o governo e o cidadão comum é
enorme, e aqui estávamos nesse mesmo caminho.
FOLHA - Mas a repressão ao povo
aumentou.
MEFTAH - Não! Nos últimos
anos, tivemos mais liberdade.
Veja o caso da Roxana Saberi
[jornalista iraniano-americana
que foi presa]. Ahmadinejad
mandou uma carta à Justiça
pedindo para o caso ser reconsiderado. O veredicto mudou.
Agora é mais fácil criticar o
presidente. Nunca antes neste
país se criticou tanto um presidente, se fez tanta paródia na
internet e nos vídeos, caricaturas dele. Ele respeita a liberdade de imprensa e deixa a Justiça ser autônoma.
FOLHA - Jornais opositores foram
fechados e a TV estatal só costuma
fazer elogios a ele.
MEFTAH - Em quatro anos de
Ahmadinejad, só três jornais
foram fechados e isso aconteceu por problemas legais, não
por criticarem o presidente.
Com [o ex-presidente reformista] Mohammad Khatami,
20 jornais foram fechados em
oito anos, inclusive um só porque apoiava o Hizbollah.
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