São Paulo, domingo, 14 de junho de 2009

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Ahmadinejad é porta-voz do eleitor comum, diz apoiador

Para membro do comitê de reeleição, presidente expressa o que outros também pensam


Advogado Mohammad Saleh Meftah, 25, diz que, para o Irã, não faz diferença se EUA têm republicano ou democrata na Casa Branca

DO ENVIADO A TEERÃ

"Ahmadinejad se atreve a dizer aquilo com que outros concordam, mas se calam." Assim começa a defesa do legado da política externa do polêmico presidente iraniano, por um dos mais entusiastas e jovens membros de seu comitê.
O advogado Mohammad Saleh Meftah, 25, trabalhou com mídia e internet na vitoriosa campanha da reeleição. Editou uma revista publicada pelos seus simpatizantes, fez vídeos, blogs e usou Twitter, Facebook e YouTube para espalhar a mensagem conservadora.
Meftah dirige o Conselho dos Blogs Islâmicos do país (são mais de 15 mil) e é porta-voz do movimento Conselho em Busca de Justiça, que defende Gaza contra Israel.
Ele diz que Ahmadinejad é o melhor político para negociar com o presidente dos EUA, Barack Obama. "Não interessa se são republicanos ou democratas, o lobby israelense pauta a política americana na região, e não dá para confiar em quem sustenta nossos inimigos."
Oferecendo a cerveja islâmica de sabor pera Delster (sem álcool), Meftah conversou com a Folha no campus da Universidade Iman Sadegh, antiga Universidade Americana, onde faz pós-graduação em Direito e votou na manhã de anteontem. (RAUL JUSTE LORES)

 

FOLHA - Ao negar o Holocausto e chamar Israel de racista, Ahmadinejad não isola gratuitamente o Irã?
MOHAMMAD MEFTAH
- Em Durban, em Genebra, a mídia foca nele. Hoje o Ocidente não pode mais nos censurar. Podemos falar aquilo com que outros países concordam, mas não se atrevem a dizer. Contrabalançamos o poder de Israel, que é enorme na mídia. Hillary Clinton e Obama tiveram de aceitar que teremos programa nuclear, isso é uma vitória. Em vários países da região, o apoio ao governo vem do Ocidente, não do povo. Jordânia, Arábia Saudita, Egito vivem do apoio ocidental. No Egito, mesmo o partido que vence as eleições pode ser banido. Ahmadinejad é porta-voz do povo muçulmano que não é defendido por seus governos. Ele ataca Israel sem medo.

FOLHA - Mas ele não é o homem errado para negociar com Obama?
MEFTAH
- Não importa se são democratas ou republicanos no poder, o lobby de Israel vai sempre impor as políticas. Não dá para ver Obama como amigo. Não tivemos boa relação com [o ex-presidente dos EUA] Bill Clinton [1993-2001]. Só dá para dialogar com uma forte precondição, a de que os americanos parem com a animosidade contra o Irã. Sim, ele fez aquele vídeo para desejar Feliz Ano Novo persa, mas termina pedindo que não façamos a bomba atômica. É tão ofensivo! A bomba é proibida em nossa religião. E ele continua a apoiar nossos inimigos. No tempo de Mir Hossein Mousavi, os EUA eram nossos inimigos, apoiando o Iraque contra nós. Não esperem que Mousavi seja pró-americano.

FOLHA - A crise econômica é grave no Irã, e a oposição diz que Ahmadinejad deixou o país "isolado, sem dignidade". É possível defender o legado de seu governo?
MEFTAH
- Ahmadinejad não é um homem sem pecados, nenhum é. Mas temos de fazer escolhas. No Ocidente, um triângulo sustenta o poder político: o capital, a mídia e os políticos. Há quatro anos, ao ser eleito, Ahmadinejad ignorou esse jogo. Ele não teve apoio da mídia estatal, de partidos, nem das grandes empresas. Ele tem uma característica única, vem do povo, trabalha para o povo, fala para o povo. No Ocidente, a distância entre o governo e o cidadão comum é enorme, e aqui estávamos nesse mesmo caminho.

FOLHA - Mas a repressão ao povo aumentou.
MEFTAH
- Não! Nos últimos anos, tivemos mais liberdade. Veja o caso da Roxana Saberi [jornalista iraniano-americana que foi presa]. Ahmadinejad mandou uma carta à Justiça pedindo para o caso ser reconsiderado. O veredicto mudou. Agora é mais fácil criticar o presidente. Nunca antes neste país se criticou tanto um presidente, se fez tanta paródia na internet e nos vídeos, caricaturas dele. Ele respeita a liberdade de imprensa e deixa a Justiça ser autônoma.

FOLHA - Jornais opositores foram fechados e a TV estatal só costuma fazer elogios a ele.
MEFTAH
- Em quatro anos de Ahmadinejad, só três jornais foram fechados e isso aconteceu por problemas legais, não por criticarem o presidente.
Com [o ex-presidente reformista] Mohammad Khatami, 20 jornais foram fechados em oito anos, inclusive um só porque apoiava o Hizbollah.




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