São Paulo, terça-feira, 14 de junho de 2011

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ANÁLISE

Premiê acentuou seu desgaste ao propor abstenção ao plebiscito

JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Um vídeo anedótico que circulou ontem à tarde pela internet mostrava, a bordo de um avião do governo, um suposto grupo de assessores do premiê Silvio Berlusconi.
Voltavam do fim de semana na praia-refúgio deliberado para forçar alta abstenção e impedir a validade eleitoral do múltiplo referendo.
A aeromoça anuncia pelo sistema de som que a abstenção foi bem inferior a 50% e que o gabinete de centro-direita fora derrotado nos projetos de privatização da distribuição de água e seu financiamento, de relançamento do programa nuclear e de prorrogação de uma curiosa lei que dá ao chefe do governo uma espécie de imunidade judicial.
Os passageiros caem na histeria, enquanto um surreal sinal luminoso anuncia que estão todos autorizados, a partir daquele momento, a entrar em pânico.
Massimo Giannini, comentarista político do oposicionista "La Repubblica", vai direto à ferida: Berlusconi "não está mais capacitado a interpretar os humores dos italianos e de chefiar as honras do governo".
Pouco depois, um grupo de ambientalistas tentava chegar de bicicleta ao palácio Grazioli, residência do premiê, gritando "demissão!".
Berlusconi procurou esvaziar o referendo convocado por iniciativa da oposição.
Ao estimular a abstenção, ele deslocou o eixo da consulta popular: em lugar das questões evocadas, tornou-se um plebiscito sobre sua desgastada pessoa.
Muito teoricamente o primeiro-ministro poderia continuar em seu posto até abril de 2013, fim da legislatura.
Mas a coalizão do premiê está em estado de pré-implosão, iniciado com a derrota governista nas eleições municipais de 30 de maio (perda de Nápoles e Milão).
Há claros sinais de repetição do roteiro de dezembro de 1994, quando o primeiro gabinete Berlusconi caiu após a retirada do apoio da Liga Norte, liderada por Umberto Bossi.
Alguns de seus dirigentes rejeitaram o apelo à abstenção, como Luca Zaia, presidente da Região de Veneza.
A impressão naquele partido é de que Berlusconi se tornou, agora, um fardo "escândalos sexuais, processos por crimes financeiros" bastante difícil de carregar.


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