São Paulo, terça-feira, 14 de junho de 2011

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Legalização de carros na Bolívia preocupa Brasil

Medida pode estimular indiretamente o narcotráfico na região da fronteira

Carros brasileiros contrabandeados, novos e caros, são moeda de troca para a compra de drogas

FLÁVIA FOREQUE
DE BRASÍLIA

DIOGO BERCITO
DE SÃO PAULO

O Brasil teme que a decisão do governo boliviano de legalizar veículos sem documentação regular estimule indiretamente o narcotráfico na fronteira entre os países.
Segundo autoridades brasileiras, os carros do Brasil contrabandeados para a Bolívia são caros e novos, utilizados em sua maioria como moeda de troca para a compra de drogas. Assim, a polêmica medida adotada pelo presidente Evo Morales poderia encorajar um "complexo de ilícitos", como tráfico de drogas e de armas, disse um diplomata brasileiro à Folha.
Na semana passada, Morales promulgou lei que legaliza os carros em circulação no país sem documentos. O governo boliviano garantiu reforço nas fronteiras para evitar a entrada de carros roubados, mas o Brasil ainda aponta deficiências na aduana.
O prazo para o cidadão nacionalizar o veículo é de 15 dias. A partir de então, as autoridades terão três meses para concluir o processo.
A expectativa é que, nesse período, a Bolívia faça um pente-fino na lista de carros cadastrados para receber a nova identidade.
Assim como outros países da região, o Brasil enviou lista com dados sobre veículos roubados para evitar sua regularização no país vizinho.
Para a diplomacia brasileira, os carros contrabandeados do Brasil para a Bolívia têm perfil diferente daqueles que chegam pelo Chile, apontado como ponto mais crítico de fronteira e onde há relato de contrabando de veículos sucateados originários da Ásia, que abastecem as classes mais pobres do país.
"É um contrabando de boa fé", diz um diplomata em comparação ao carro que entra irregularmente pela fronteira entre Brasil e Bolívia.
A medida do governo boliviano já preocupa seguradoras brasileiras. Se roubo e furto crescerem acima do previsto, poderá haver impacto nos valores de seguro no país, diz Neival Rodrigues Freitas, diretor-executivo da Federação Nacional de Seguros Gerais.
"É uma ameaça para a sociedade brasileira", afirma.
A entidade diz ter encaminhado reclamação ao Ministério de Relações Exteriores do Brasil e afirma ainda não ter recebido resposta.

GREVE
A decisão de regulamentar veículos irritou a Confederação de Motoristas da Bolívia, que paralisou parcialmente o transporte público ontem, a princípio por 24 horas.
A entidade estima que até 60% dos veículos regularizados vão entrar no ramo do transporte, gerando competição. Apenas no primeiro dia de anistia, mais de 7.000 veículos foram registrados.
"Isso irá prejudicar o trabalho, diminuindo o número de postos de emprego dos nossos afiliados e impedindo o ofício regular", diz Sixto Sandi, dirigente da confederação, em entrevista à Folha.
Caso o governo boliviano não acene com a suspensão da medida, Sandi afirma que a greve será ampliada.


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