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São Paulo, segunda-feira, 14 de julho de 2003

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IRAQUE OCUPADO

Órgão, que nomeará ministros e revisará leis, nasce sob a suspeita de ser controlado pela administração americana

EUA empossam conselho de iraquianos

DA REDAÇÃO

O Conselho de Governo do Iraque, criado pelos EUA e formado por líderes iraquianos, se reuniu ontem pela primeira vez em Bagdá, dando o passo inicial para a transferência gradual de poder dos americanos para os iraquianos, um processo que não tem prazo para ser finalizado.
Os 25 membros do conselho, que tem caráter provisório, poderão indicar ministros, aprovar o Orçamento e revisar leis. Também conduzirão o processo de elaboração de uma nova Constituição para o país.
A palavra final sobre a administração e sobre os rumos do Iraque, porém, permanecerá com os EUA e o Reino Unido, cujas forças ocupam o país desde a queda do regime do ex-ditador Saddam Hussein, em 9 de abril.
A primeira decisão do conselho foi abolir todos os feriados em homenagem a Saddam e a seu partido, o Baath, hoje na ilegalidade. E o dia da queda do regime passa a ser feriado nacional.
"Saddam foi atirado no lixo da história e não retornará", disse Mohammad Bahr al Uloum, clérigo xiita escolhido para realizar o discurso de posse do conselho.
Os xiitas -que são maioria no Iraque, mas foram perseguidos durante o regime de Saddam (de origem sunita)- serão majoritários no conselho, que busca uma representação étnica, religiosa e política fiel à diversidade do país.
O conselho é composto por 13 muçulmanos xiitas, cinco curdos, cinco muçulmanos sunitas, um cristão e um turcomeno. Há três mulheres. Os xiitas correspondem a cerca de 60% da população iraquiana, mas nunca governaram o Iraque, que esteve sempre nas mãos da minoria sunita.
Os EUA enfrentaram uma série de obstáculos nos últimos meses, após a queda de Saddam, para definir qual seria a composição e a função desse novo conselho. O objetivo é dar uma feição iraquiana à administração do país, a cargo do diplomata americano Paul Bremer.
Após a formação do conselho, as próximas etapas serão elaborar a Constituição e aprová-la por referendo e, posteriormente, realizar eleições democráticas, uma novidade no Iraque.

Ferramenta dos EUA
Um dos obstáculos a serem enfrentados pelo conselho é o de convencer a população iraquiana de que o órgão a representa, apesar de seus membros não terem sido escolhidos por via democrática, mas sim pelos EUA.
Nas ruas de Bagdá, a reação inicial foi de ceticismo. Alguns diziam que o corpo possui muitos ex-exilados, outros que será apenas uma ferramenta nas mãos dos americanos.
"Não podemos apoiar o conselho. Ele é manipulado pelos EUA e não vai mudar nada. Os EUA têm feito promessas vazias", disse o vendedor de gelo Sabah Kathim.
Bremer afirmou, em comunicado oficial no sábado, que o conselho visa dar aos iraquianos um papel mais central na administração do país. O administrador americano não deu declarações na primeira sessão do conselho, mas foi aplaudido. A ausência de discurso foi tática, pois, se falasse, os críticos poderiam dizer mais uma vez que o conselho é uma ferramenta americana.
Em artigo publicado no "New York Times", Bremer descreveu logros de sua administração no Iraque, afirmando que o país vive em liberdade, apesar de ainda não ser uma democracia.
O enviado da ONU ao Iraque, o brasileiro Sérgio Vieira de Mello, disse no seu discurso na abertura do conselho que "a liberdade, a dignidade e a segurança devem a partir de agora ser garantidas a todos os iraquianos".
Quase todos os membros evitaram comentar a presença anglo-americana no Iraque. O único a mencioná-la foi Abdel Aziz al Hakim, do Conselho Supremo para a Revolução Islâmica, um poderoso grupo xiita iraquiano.
"Esse conselho é um passo correto. E esperamos que a autoridade dele se expanda até a ocupação terminar", disse.

Custos
O custo da guerra e da ocupação americana no Iraque deve alcançar cerca de US$ 100 bilhões até o fim deste ano, segundo informou o diário americano "The Washington Post". A guerra e a ocupação já custaram até agora US$ 50 bilhões. O valor representa uma alta de 14% no orçamento militar previsto para 2003, de acordo com o diário.


Com agências internacionais


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