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IRAQUE OCUPADO
Órgão, que nomeará ministros e revisará leis, nasce sob a suspeita de ser controlado pela administração americana
EUA empossam conselho de iraquianos
DA REDAÇÃO
O Conselho de Governo do Iraque, criado pelos EUA e formado
por líderes iraquianos, se reuniu
ontem pela primeira vez em Bagdá, dando o passo inicial para a
transferência gradual de poder
dos americanos para os iraquianos, um processo que não tem
prazo para ser finalizado.
Os 25 membros do conselho,
que tem caráter provisório, poderão indicar ministros, aprovar o
Orçamento e revisar leis. Também conduzirão o processo de
elaboração de uma nova Constituição para o país.
A palavra final sobre a administração e sobre os rumos do Iraque, porém, permanecerá com os
EUA e o Reino Unido, cujas forças
ocupam o país desde a queda do
regime do ex-ditador Saddam
Hussein, em 9 de abril.
A primeira decisão do conselho
foi abolir todos os feriados em homenagem a Saddam e a seu partido, o Baath, hoje na ilegalidade. E
o dia da queda do regime passa a
ser feriado nacional.
"Saddam foi atirado no lixo da
história e não retornará", disse
Mohammad Bahr al Uloum, clérigo xiita escolhido para realizar o
discurso de posse do conselho.
Os xiitas -que são maioria no
Iraque, mas foram perseguidos
durante o regime de Saddam (de
origem sunita)- serão majoritários no conselho, que busca uma
representação étnica, religiosa e
política fiel à diversidade do país.
O conselho é composto por 13
muçulmanos xiitas, cinco curdos,
cinco muçulmanos sunitas, um
cristão e um turcomeno. Há três
mulheres. Os xiitas correspondem a cerca de 60% da população
iraquiana, mas nunca governaram o Iraque, que esteve sempre
nas mãos da minoria sunita.
Os EUA enfrentaram uma série
de obstáculos nos últimos meses,
após a queda de Saddam, para definir qual seria a composição e a
função desse novo conselho. O
objetivo é dar uma feição iraquiana à administração do país, a cargo do diplomata americano Paul
Bremer.
Após a formação do conselho,
as próximas etapas serão elaborar
a Constituição e aprová-la por referendo e, posteriormente, realizar eleições democráticas, uma
novidade no Iraque.
Ferramenta dos EUA
Um dos obstáculos a serem enfrentados pelo conselho é o de
convencer a população iraquiana
de que o órgão a representa, apesar de seus membros não terem
sido escolhidos por via democrática, mas sim pelos EUA.
Nas ruas de Bagdá, a reação inicial foi de ceticismo. Alguns diziam que o corpo possui muitos
ex-exilados, outros que será apenas uma ferramenta nas mãos dos
americanos.
"Não podemos apoiar o conselho. Ele é manipulado pelos EUA
e não vai mudar nada. Os EUA
têm feito promessas vazias", disse
o vendedor de gelo Sabah Kathim.
Bremer afirmou, em comunicado oficial no sábado, que o conselho visa dar aos iraquianos um
papel mais central na administração do país. O administrador
americano não deu declarações
na primeira sessão do conselho,
mas foi aplaudido. A ausência de
discurso foi tática, pois, se falasse,
os críticos poderiam dizer mais
uma vez que o conselho é uma
ferramenta americana.
Em artigo publicado no "New
York Times", Bremer descreveu
logros de sua administração no
Iraque, afirmando que o país vive
em liberdade, apesar de ainda não
ser uma democracia.
O enviado da ONU ao Iraque, o
brasileiro Sérgio Vieira de Mello,
disse no seu discurso na abertura
do conselho que "a liberdade, a
dignidade e a segurança devem a
partir de agora ser garantidas a todos os iraquianos".
Quase todos os membros evitaram comentar a presença anglo-americana no Iraque. O único a
mencioná-la foi Abdel Aziz al Hakim, do Conselho Supremo para a
Revolução Islâmica, um poderoso
grupo xiita iraquiano.
"Esse conselho é um passo correto. E esperamos que a autoridade dele se expanda até a ocupação
terminar", disse.
Custos
O custo da guerra e da ocupação
americana no Iraque deve alcançar cerca de US$ 100 bilhões até o
fim deste ano, segundo informou
o diário americano "The Washington Post". A guerra e a ocupação já custaram até agora US$
50 bilhões. O valor representa
uma alta de 14% no orçamento
militar previsto para 2003, de
acordo com o diário.
Com agências internacionais
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