São Paulo, sábado, 14 de julho de 2007

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Republicanos querem votar guerra de novo

Senadores governistas pedem que presidente revalide autorização do Legislativo e propõem retirada a partir do fim do ano

Para dissidentes, aprovação dada em 2002 está obsoleta sem Saddam e sem arsenal proibido; proposta deve ser votada na próxima semana

DENYSE GODOY
DE NOVA YORK

Alvejado todos os dias pela oposição democrata e com sua relação com o Congresso estremecida, George W. Bush tornou-se vítima de "fogo amigo". Críticas surgidas dentro de seu partido nas últimas semanas culminaram ontem numa proposta, de dois senadores republicanos proeminentes, para que o presidente dos EUA peça uma nova autorização para a Guerra do Iraque ao Legislativo e prepare até 16 de outubro um plano que incluiria o início da retirada do país no fim do ano.
"Diante do nível de violência no Iraque, que permanece elevado, e das poucas manifestações de compromisso político das facções [iraquianas], o ideal de um governo unificado, pluralista e democrático -que seja capaz de garantir a segurança, proteger as fronteiras e buscar o desenvolvimento econômico- provavelmente não será atingido no futuro próximo", diz a medida proposta, elaborada por John Warner e Richard Lugar -dois dos mais influentes parlamentares nos assuntos relacionados a defesa e relações internacionais.
O texto alega, entre outras coisas, que uma nova autorização é necessária porque aquela concedida em 2002 -que permitiu a invasão do Iraque em março de 2003- estava, no entendimento de alguns legisladores, limitada à deposição do ditador Saddam Hussein, executado em dezembro último, e à busca de armas de destruição em massa, nunca encontradas.
"Muitas das condições e dos motivos que havia quando autorizamos o uso da força, cinco anos atrás, não existem mais ou são irrelevantes na atual situação", explicou Lugar. "Tal autorização está obsoleta."

Desgaste
Esse novo golpe para o já combalido governo Bush veio no dia seguinte à divulgação, pela Casa Branca, de um relatório enumerando alguns progressos feitos na guerra -significativos na sua avaliação, quase nulos para os críticos e os especialistas. Comentando o documento, o presidente repetiu estar confiante na vitória e pediu aos parlamentares que aguardem até setembro, quando o comandante das tropas americanas no Iraque, general David Petraeus, falará sobre o andamento das operações.
No entanto, ambos os lados do Congresso se mostram cada vez mais impacientes e caminham para tirar de Bush o controle do rumo da guerra.
Na quinta-feira, a Câmara dos Representantes aprovou medida que solicita que as tropas dêem início à retirada em 120 dias para encerrá-la até 30 de abril de 2008, permanecendo no Iraque apenas unidades essenciais para o treinamento das forças de segurança do país.
É a sexta proposta que define uma data para os soldados começarem a regressar aos EUA. Apenas uma passou pelas duas Casas e chegou à mesa do presidente, em maio -porém ela foi vetada com a justificativa de que não cabe aos parlamentares o papel de estrategistas.
Bush já avisou que vetará novamente qualquer lei que fixe cronogramas. Mas cumprir a promessa significaria, para ele, outro enorme desgaste e o aumento da animosidade entre o Executivo e o Legislativo, que já se encontra em patamares não alcançados desde o escândalo Watergate, nos anos 70.
Lugar e Warner defendem que o Congresso e a Casa Branca passem por cima das suas diferenças e pensem juntos em medidas que possam ser implementadas para acabar com a guerra. "Continuo a aconselhar o presidente e seu governo a se mexerem para construir uma política mais sustentável para o Iraque", comentou Lugar. "A estratégia militar e diplomática americana deve ser ajustada à realidade de que as lutas sectárias não dão sinais de arrefecimento no curto prazo e não podem ser controladas de cima."
Dentro de uma programação de debates sobre a guerra, esse projeto deve ser apreciado na próxima semana.


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