São Paulo, quarta-feira, 14 de julho de 2010

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Ex-presos cubanos chegam à Espanha

Os 7 primeiros libertados por Havana desembarcaram ontem em Madri, mas evitaram criticar regime castrista

Hospedados em albergue no norte da capital, negaram ser "marionetes" de jogo de interesse dos 2 países


Victo R. Caivano/Associated Press
O dissidente cubano Julio César Gálvez Rodríguez abraça mulher ao chegar a Madri

LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE MADRI

O tom conciliatório marcou a chegada à Espanha da primeira leva de prisioneiros políticos cubanos libertados após acordo de Havana com a Igreja Católica.
Mesmo após "sete anos de luta, clausura e cativeiro" na ilha caribenha, segundo afirmaram em comunicado, os sete dissidentes que aterrissaram ontem em Madri evitaram críticas aos Castro.
No lugar disso, agradeceram emocionados à "calorosa" acolhida espanhola e falaram em uma "nova etapa" para cubanos. Mas negaram ser "marionetes" de um jogo de interesses entre uma Espanha afoita por liderar o diálogo entre Cuba e a UE e uma Havana que quer o fim de bloqueios à ilha.
"Não nos consideramos manipulados. Somos apenas via de um caminho que pode ser o começo de uma mudança no país. E, para nós, o exílio é a prolongação de uma luta", declarou ontem o jornalista Ricardo González, 1 dos 7 cubanos que aterrissaram em Madri na companhia de 26 familiares no total.
Os outros são Léster González, Omar Ruiz, Antonio Vilarreal, Julio César Gálvez, José Luis García Paneque e Pablo Pacheco.
Dos 52 presos que, pelo acordo, serão liberados, só 20 afirmaram querer emigrar à Espanha. Os outros 32 ainda têm destino incerto.
O grupo foi recepcionado por membros do governo da Espanha e da Cruz Vermelha, que irão "inseri-los" na sociedade. Hospedados em um albergue na região norte da capital, receberam 390 para gastos gerais. Ficarão lá "pelos próximos dias".
Seu destino ainda é incerto, mas provavelmente serão enviados a conjuntos habitacionais fora de Madri, segundo a Comissão Espanhola de Ajuda ao Refugiado.

"NOVA ETAPA"
Todos assinaram uma carta, lida ao aterrissar em Madri, em que afirmam que "o retorno à terra de nossos antepassados significa o início de uma nova etapa para o futuro de Cuba e dos cubanos".
A leitura do comunicado, em uma sala reservada do aeroporto de Barajas, foi um dos únicos momentos em que vieram a público.
Sob a supervisão do secretário espanhol para Iberoamérica, Juan Pablo de Iglesia, eles apareceram de terno e gravata, sorridentes e fazendo o "v" de vitória.
Elogiaram o acordo entre os governos cubano e espanhol e a igreja, que "não é um primeiro passo, mas também não será o último", segundo Ricardo González Afonso.
Mas também pediram liberdade total a todos os presos em Cuba e reconheceram os esforços de conterrâneos como o jornalista Guillermo Fariñas, recém-saído de uma greve de fome e que, ontem, classificou a libertação dos presos como um "gesto de clemência" de Havana.
Em sessão no Congresso espanhol, o chanceler Miguel Ángel Moratinos foi além e afirmou que todos os presos políticos em Cuba -e não só os 52 incluídos no acordo- serão libertados progressivamente.
Segundo a Rádio Nacional da Espanha, outros três presos políticos -Omar Rodríguez, Normaldo Hernández González e Luis Milán- chegam hoje a Madri. O Ministério dos Assuntos Exteriores confirmou que, até amanhã, ao menos outros quatro dissidentes chegarão à capital.


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