São Paulo, terça-feira, 14 de agosto de 2001

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BERLIM

Muro começou a ser erguido há 40 anos e marcou fronteira da Guerra Fria

Alemães lembram início do Muro

MARCIO SENNE DE MORAES
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

Nem mesmo o clima na capital alemã era de festa ontem, no 40º aniversário do começo da construção do Muro de Berlim. Sob uma chuva fina, o chanceler (primeiro-ministro) Gerhard Schröder inaugurou uma exposição no Centro de Documentação do Muro de Berlim e falou muito mais em lembrança do que em comemoração.
Pouco depois, líderes do PDS (Partido Democrático Social), sucessor do partido único da extinta Alemanha Oriental (SED), depositaram uma coroa de flores no memorial em homenagem às vítimas da política de repressão da República Democrática Alemã (RDA), localizado na tristemente famosa rua Bernauer, sob vaias de familiares daqueles que morreram tentando transpor o muro.
O evento ainda foi marcado por um incidente ocorrido logo depois que os líderes do PDS depositaram a coroa de flores no memorial. Um homem, que disse ter passado três anos em prisões da RDA, ultrapassou o bloqueio policial, avançou em direção às flores e as destruiu, antes de ser detido pela polícia da capital.
A Bernauerstrasse, a rua na qual o Muro de Berlim começou a ser construído, é um dos símbolos da Guerra Fria, da qual o muro foi, até sua queda, em 1989, um dos mais tristes exemplos. No dia em que ele começou a ser erguido, em 13 de agosto de 1961, centenas de moradores aterrorizados pularam das janelas de suas casas no lado leste da cidade em direção a locais preparados por bombeiros do oeste berlinense.
O PDS foi bastante criticado nos últimos dois dias, pois, numa declaração oficial feita por seus principais líderes, o partido condenou a construção do muro, porém não pediu desculpas aos familiares das vítimas. "Lamentamos o erro cometido pelo SED. Um país que separa sua população não é nem democrático nem socialista. Essa é a lição que o PDS aprendeu", afirmou comunicado do partido anteontem, que não mencionou os 960 alemães orientais que morreram ao tentar transpor o muro.
Para seus líderes, a construção do Muro de Berlim por parte do governo da RDA foi o "resultado da confrontação bilateral e da Guerra Fria".
Muitos viram nas manifestações políticas de ontem um ensaio do embate político das eleições municipais, marcadas para outubro próximo.

Ideologia
As diferenças ideológicas ficaram ainda mais claras na reunião comemorativa do Marx-Engels Club, promovida pelo atual Partido Comunista da Alemanha. No evento, do qual participaram sobretudo ex-moradores do lado leste de Berlim, boa parte de idade avançada, além de jovens que disseram ser membros de agremiações anti-Otan (aliança militar ocidental), a principal preocupação era a de justificar a construção do Muro de Berlim, não a de discutir as razões mais profundas que ele representava.
Para os participantes da reunião, o muro foi construído para deter o avanço do capitalismo fascista. "Com a separação, os alemães orientais puderam ficar livres do fascismo americano, do qual os dirigentes da Alemanha Ocidental eram títeres", declarou Hermann, que não quis revelar seu sobrenome.


O jornalista Marcio Senne de Moraes viajou a convite do governo alemão.



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