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BERLIM
Muro começou a ser erguido há 40 anos e marcou fronteira da Guerra Fria
Alemães lembram início do Muro
MARCIO SENNE DE MORAES
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM
Nem mesmo o clima na capital
alemã era de festa ontem, no 40º
aniversário do começo da construção do Muro de Berlim. Sob
uma chuva fina, o chanceler (primeiro-ministro) Gerhard Schröder inaugurou uma exposição no
Centro de Documentação do Muro de Berlim e falou muito mais
em lembrança do que em comemoração.
Pouco depois, líderes do PDS
(Partido Democrático Social), sucessor do partido único da extinta
Alemanha Oriental (SED), depositaram uma coroa de flores no
memorial em homenagem às vítimas da política de repressão da
República Democrática Alemã
(RDA), localizado na tristemente
famosa rua Bernauer, sob vaias de
familiares daqueles que morreram tentando transpor o muro.
O evento ainda foi marcado por
um incidente ocorrido logo depois que os líderes do PDS depositaram a coroa de flores no memorial. Um homem, que disse ter
passado três anos em prisões da
RDA, ultrapassou o bloqueio policial, avançou em direção às flores e as destruiu, antes de ser detido pela polícia da capital.
A Bernauerstrasse, a rua na qual
o Muro de Berlim começou a ser
construído, é um dos símbolos da
Guerra Fria, da qual o muro foi,
até sua queda, em 1989, um dos
mais tristes exemplos. No dia em
que ele começou a ser erguido, em
13 de agosto de 1961, centenas de
moradores aterrorizados pularam das janelas de suas casas no
lado leste da cidade em direção a
locais preparados por bombeiros
do oeste berlinense.
O PDS foi bastante criticado nos
últimos dois dias, pois, numa declaração oficial feita por seus principais líderes, o partido condenou
a construção do muro, porém não
pediu desculpas aos familiares
das vítimas. "Lamentamos o erro
cometido pelo SED. Um país que
separa sua população não é nem
democrático nem socialista. Essa
é a lição que o PDS aprendeu",
afirmou comunicado do partido
anteontem, que não mencionou
os 960 alemães orientais que morreram ao tentar transpor o muro.
Para seus líderes, a construção
do Muro de Berlim por parte do
governo da RDA foi o "resultado
da confrontação bilateral e da
Guerra Fria".
Muitos viram nas manifestações políticas de ontem um ensaio
do embate político das eleições
municipais, marcadas para outubro próximo.
Ideologia
As diferenças ideológicas ficaram ainda mais claras na reunião
comemorativa do Marx-Engels
Club, promovida pelo atual Partido Comunista da Alemanha. No
evento, do qual participaram sobretudo ex-moradores do lado
leste de Berlim, boa parte de idade
avançada, além de jovens que disseram ser membros de agremiações anti-Otan (aliança militar
ocidental), a principal preocupação era a de justificar a construção
do Muro de Berlim, não a de discutir as razões mais profundas
que ele representava.
Para os participantes da reunião, o muro foi construído para
deter o avanço do capitalismo fascista. "Com a separação, os alemães orientais puderam ficar livres do fascismo americano, do
qual os dirigentes da Alemanha
Ocidental eram títeres", declarou
Hermann, que não quis revelar
seu sobrenome.
O jornalista Marcio Senne de Moraes viajou a convite do governo alemão.
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